Os avanços tecnológicos, a Inteligência Artificial, as Tecnologias da Informação e Comunicação, a Robótica e Automação mudaram os paradigmas de vida em sociedade. A única certeza que temos é que o futuro é incerto, imprevisível, volátil e que tudo evolui de uma forma rápida e profunda.

Colocam-se questões como: “A mudança tecnológica destrói ou cria empregos?”, “Qual é o papel de escola?”, “Para que futuro devemos ensinar?” “Quais são as competências necessárias para garantir a empregabilidade dos jovens que estamos a formar?”

Para procurar encontrar respostas, apresenta-se em seguida uma síntese baseada numa revisão da literatura mais recente.

Palavras-chave: As mudanças tecnológicas e o emprego, Missão da escola, Competências necessárias.

As transformações tecnológicas a que temos vindo a assistir refletem-se no mundo do trabalho e levam à necessidade de uma reorganização na forma de trabalhar.

O Mundo Digital, a Biotecnologia, a Nanotecnologia, a Inteligência Artificial, a Automação, de uma forma direta ou indireta, fazem parte do dia à dia de todos nós, ficando para trás as vendas de produtos porta a porta e as máquinas de escrever, realidades quase pré-históricas.

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De acordo com Henry Steele Commager, “A mudança não garante o progresso, mas o progresso exige implacavelmente a mudança”. E esta mudança transformou a forma como vivemos e trabalhamos.

O trabalho fixo, em muitos casos das 9 às 17 horas, foi substituído por um horário flexível, em qualquer parte, em qualquer lugar. As formas de comunicação são diversas e, ao dissipar as barreiras espácio-temporais, a informação circula rapidamente e pertence a todos quase instantaneamente.

A liderança autoritária cada vez mais tem vindo a ser substituída por uma liderança transformadora que procura fomentar o espírito de equipa e de pertença na qual a hierarquia vertical foi substituída por uma rede de trabalho horizontal na qual cada individuo constrói a sua carreira profissional, que é cada mais volátil e dinâmica, ao contrário das carreiras estáveis que antes existiam.

A informação é cada vez mais partilhada e trabalhada em equipas multidisciplinares, substituindo o trabalho fragmentado e isolado.

De acordo com um estudo da empresa Delloite, What is the future of work? Redefining work, workforce and workplaces (2019), as mudanças afetarão profundamente o trabalho (o quê), a força de trabalho (quem) e o local de trabalho (onde). As organizações devem estar dispostas a redefinir cada uma dessas forças para criar colaborações entre o homem e a máquina, resolver problemas complexos e gerir as relações humanas.

McKinsey, em The future of work after Covid 19 (2021), salienta as três principais tendências que podem persistir: o trabalho remoto híbrido com as implicações em termos geográficos, o aumento do comércio eletrónico e a economia de entrega e o aceleramento do uso da automação e da inteligência artificial pelas empresas.

No estudo desenvolvido pela Universidade de Oxford, Technology and jobs: A systematic review (2022), A requalificação é de extrema importância para os trabalhadores cujos empregos não estão diretamente ameaçados pela mudança tecnológica.

“Possibilidades”, “Reinventar”, “Imaginar”, “Adaptação”, “Aprender” são algumas das palavras que mais utilizamos na atualidade quando pensamos no mundo do trabalho e do emprego.

Relativamente à questão se a mudança tecnológica destrói ou cria empregos, segundo um estudo da Universidade de Oxford, (2022), as novas tecnologias podem substituir os trabalhadores, mas podem simultaneamente criar empregos se forem necessários trabalhadores para utilizar estas tecnologias ou se surgirem novas atividades económicas. Além disso, o crescimento da produtividade impulsionado pela tecnologia pode aumentar os lucros, estimulando um aumento do emprego induzido pelo aumento da procura.

No entanto, os trabalhadores de baixa qualificação, produção e manufatura foram afetados negativamente pela mudança tecnológica e estratégias eficazes de melhoria e requalificação devem permanecer na vanguarda da formulação de políticas, juntamente com sistemas de apoio social direcionados.

Analisar o impacto e as consequências da evolução tecnológica no mundo do trabalho, leva-nos a refletir sobre como é que a escola está a acompanhar estas alterações e como é que está a procurar preparar os seus alunos.

A Escola desempenha um papel insubstituível na preparação e formação de cidadãos capazes de enfrentar mudanças da sociedade. A Educação é sempre virada para o futuro.

Qual será então o papel e a missão da escola?

Para que futuro devemos educar?

Conseguirá a Escola antever as competências que serão fundamentais para um futuro onde imperará, por certo, o desconhecido, o imprevisível, a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade?

As competências-chave para o futuro serão aquelas que as máquinas, associadas à execução de trabalhos repetitivos, ainda não conseguem realizar, nomeadamente a criatividade; pensar “fora da Caixa” e a capacidade de trabalhar em grupo (tarefas interpessoais).

A sociedade de hoje, em constante mudança, exige não só conhecimento, mas também competências para além do conhecimento.  A necessidade de adaptação é rápida e constante.

De acordo com Matias Alves (2022), as aprendizagens no “centro” da vida escolar assentam em quatro pilares fundamentais: (1) aprender a conhecer, (2) aprender a fazer, (3) aprender a ser, (4) aprender a conviver. O foco da Escola passa a ser a renovação constante das competências do aluno para a vida, como um todo.

Segundo Esteves & Branco, 2018, p. 7, “Os cursos profissionais deverão assegurar a aquisição de um conjunto de competências que possibilitem aos jovens a adaptação a um futuro incerto, em termos tecnológicos e sociais, que incluam “as vertentes do saber, do saber-fazer, do saber-ser e do saber-tornar-se”.

Já Peter Hawkins, em The Art of Building Windmills (1999), referia “To be employed is to be at risk….to be employable is to be secure”, ou seja,  “Estar empregado, é estar em risco, ser empregável, é estar seguro”.

As dez competências chave, de acordo com Peres, L. G., Garnica, M. G. e Olmedo-Moreno, E. (2021). Skills for a Working Future: How to Bring about Professional Success from the Educational Setting, são:

1. fazer-se entender, criar um sentido, dar significado (Sensemaking);

2. Inteligência Social (Social Intelligence);

3. Pensamento Inovador e Adaptativo (Innovative and Adaptive Thinking);

4.  Competência Intercultural (Intercultural Competence);

5.  Pensamento Computacional (Computational Thinking);

6. Alfabetização Digital (Digital Literacy );

7. Multidisciplinaridade (Multidisciplinarity);

8. Resolver problemas ao criar e avaliar alternativas (Design Mentality);

9. Gestão de Conhecimento (Knowledge Management);

10. Colaboração Virtual (Virtual Collaboration).

De acordo com Gonçalves et al, 2020, os alunos atribuem importância à vocação para a escolha do curso profissional, sendo que a vocação referida não é algo inato, mas um processo que se desenvolve ao longo da vida e está em permanente construção, podendo ser alterado a qualquer momento. E é, neste contexto, que Andreas Schleiner, Diretor da Educação da OCDE (2022), nos alerta que “Devemos falar muito menos sobre “educação” e muito mais sobre as pessoas se apropriarem do quê, como, onde e quando elas aprendem. Não se trata de ensinar uma vez, para toda a vida, mas mais sobre dar aos alunos as competências sociais e a capacidade de continuar aprendendo ao longo de suas vidas.”

Perante um atualidade marcada por mudanças constantes, evolução tecnológica, sociedade do conhecimento, imprevisibilidade e incerteza, as competências necessárias são a adaptabilidade, a flexibilidade, a capacidade de enfrentar novos desafios, manter o acesso à informação e ao entendimento do mundo.

Perante a mudança da noção de tempo e espaço, é necessário desenvolver a capacidade de gerir a distância, a autonomia e investir na aprendizagem permanente.

Para dar resposta a uma forma de trabalho mais informal e descontínuo, competências como a criatividade, pensamento crítico, iniciativa, resiliência e capacidade de reinventar-se são fundamentais e determinantes.

Com as novas formas de atuação das lideranças, menos autoritárias, é essencial que os novos líderes sejam capazes de despertar o entusiasmo e de manter um clima saudável e estimular o sentimento de pertença, procurando vislumbrar possibilidades de solução em situações de grande pressão e responsabilidade.

No centro de todas estas competências necessárias está a aprendizagem contínua.

Segundo um estudo de Harvard Business Review (2021), a aprendizagem contínua e a aquisição de novas competências leva a uma maior segurança no emprego, a um maior potencial de ganhos, e à satisfação pessoal.

Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE,2022) salienta igualmente a importância da aprendizagem ao longo da vida e do desenvolvimento de um conjunto diversificado de competências para se preparar para os trabalhos do futuro.

O papel da tecnologia e das competências digitais não pode ser sobrestimado no futuro da educação e do trabalho. A Universidade de Cambridge (2020) relembra que as competências digitais desempenharão um papel crucial no mercado de trabalho futuro e os indivíduos devem desenvolver continuamente a sua proficiência tecnológica para se manterem competitivos. Este sentimento é ecoado pela Accenture (2021), que prevê que competências tecnológicas tais como inteligência artificial e cibersegurança estarão em alta procura em 2030.

Os programas interdisciplinares, combinando vários campos de estudo, estão também a ganhar atenção como meio de preparação para o futuro do trabalho. A Universidade de Cambridge (2021) sugere que esta abordagem prepara melhor os estudantes para o mercado de trabalho complexo e em rápida mudança, dando-lhes uma maior diversidade de competências e de perspetivas.

Os educadores da K-12 também têm um papel crucial a desempenhar na preparação dos estudantes para o futuro do trabalho. A Harvard Graduate School of Education (2022) oferece um guia para educadores sobre a melhor forma de munir os estudantes com as competências e conhecimentos necessários para futuras oportunidades de emprego.

Quais serão então as profissões do futuro? Para responder a esta questão, focamos o nosso estudo em três fontes.

Taylor, A., Nelson, J., O’Donnell, S., Davies, E. e Hillary, J. (2022). The Skills Imperative 2035: what does the literature tell us about essential skills most needed for work?. Os autores concluíram que as profissões do futuro serão na área de:

Saúde/cuidados sociais;

Educação (a necessidade de aprendizagem ao longo da vida para acompanhar a evolução diária);

Informação e Comunicação.

O Fórum Económico Mundial, World Economic Forum (2022). Jobs of tomorrow: The Triple Returns of Social Jobs in the Economic Recovery,  releva que as profissões do futuro são no setor social, salientando  as profissões na área da Educação, Ensino e Cuidados de Saúde.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OECD (2022). I am the Future of work – setting the scene, reforça as áreas dos Cuidados de saúde, Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), Computing e Big data.

Em conclusão, o futuro da educação e do trabalho está em constante evolução e exige que os indivíduos e a sociedade como um todo se adaptem e adquiram continuamente novas competências. Campos de treino, aprendizagem contínua, proficiência tecnológica, programas interdisciplinares e educação a todos os níveis são todos fatores importantes na preparação para o futuro do trabalho. Como o Bureau of Labor Statistics (2021) informa: espera-se que os campos informáticos e de tecnologia da informação cresçam muito mais rapidamente do que a média nos próximos anos, enfatizando a necessidade de se manterem informados e equipados com as competências necessárias.

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