Nos últimos 3-4 anos, muito se tem falado sobre o investimento estrangeiro em imobiliário em Portugal. O interesse em Portugal foi uma novidade e talvez por isso gerou enorme interesse nos meios de comunicação e uma curiosidade junto dos portugueses sobre quem são estes estrangeiros que vêem Portugal como o novo paraíso europeu.

Contudo, este investimento estrangeiro representa apenas 7% do total de aquisição de imóveis em Portugal. Mesmo no segmento premium e de luxo, a maioria do investimento (bem acima de 50%) é feito por portugueses, algo que não se alterou, mesmo com o crescente interesse de cidadãos brasileiros e americanos no nosso país. A pergunta que se coloca é, portanto, porque tem aumentado o investimento de portugueses no imobiliário premium?

Numa perspetiva pura de investimento, as baixas taxas de juros existentes até meados de 2022 permitiram um acesso muito facilitado ao crédito e tornaram o investimento imobiliário bastante atrativo quando comparado com outras opções de investimento financeiro. A grande maioria dos portugueses que conseguiram acumular alguma poupança, em especial no período pós-troika, quando confrontados entre a possibilidade de aquisição de um imóvel ou um depósito a prazo com juros abaixo de 2% por ano, preferiram investir no mercado imobiliário, acumulando uma rentabilidade acima de 4% por ano com uma valorização do seu ativo imobiliário.

Ao mesmo tempo, começou a surgir em Portugal uma oferta mais alargada de produtos de investimento imobiliário. Desde produtos puros de investimento, associados à exploração turística, onde o investidor compra o imóvel para que seja explorado turisticamente pelo operador e com isso ganhe um rendimento, até soluções de casas de férias, onde o investidor pode combinar períodos de utilização do imóvel com outros períodos onde coloca o imóvel para exploração/arrendamento.

Noutra perspetiva, a valorização do mercado em Portugal, permitiu que muitos portugueses vissem os seus imóveis valorizar e, com isso, conseguiram aceder a imóveis de um valor superior através da venda da sua casa. A procura por imóveis novos, em condomínios de gama alta, nas zonas mais periféricas da cidade, como por exemplo Miraflores, Carnaxide, Belas ou Montijo, é um reflexo desta tendência, adotada por alguns portugueses de vender a sua casa e trocar por algo mais luxuoso, em zonas mais periféricas.

A recente tendência de descida das taxas de juro, o aumento da confiança dos portugueses no mercado imobiliário nacional, a desconfiança relativa aos retornos do investimento no mercado de capitais, em especial o português, e uma oferta cada vez mais diversificada de produtos de investimento imobiliário, deverá continuar a potenciar o investimento dos portugueses no mercado imobiliário. A manutenção deste ciclo virtuoso dependerá, obviamente, do comportamento da economia portuguesa, e em especial do impacto que alguns fatores externos (guerras, eleições nos Estados Unidos) poderão ter na confiança dos investidores e nos níveis de poupança dos portugueses.

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