Com o término da Web Summit 2023, uma das maiores conferências mundiais de tecnologia e empreendedorismo, Lisboa volta a respirar o ritmo normal, mas as ressonâncias do evento continuam a ecoar. Durante uma semana muito intensa, a capital portuguesa transformou-se num epicentro global de tecnologia, inovação e empreendedorismo. O evento deste ano não foi apenas uma montra para as últimas tendências tecnológicas, mas também um reflexo das preocupações atuais sobre sustentabilidade e responsabilidade social.

Um dos destaques foi a presença de unicórnios (start-ups avaliadas em mais de mil milhões de dólares) e start-ups emergentes, que demonstraram não só a sua robustez financeira, mas também a capacidade de inovar no meio de um panorama económico desafiador. A entrevista com Vasco Pedro, co-fundador e CEO da Unbabel, foi particularmente reveladora, destacando como as empresas de tecnologia portuguesas estão a ganhar um espaço significativo no cenário global.

A sustentabilidade emergiu como um tema central, com várias sessões e painéis dedicados a discutir como a tecnologia pode contribuir para um futuro mais verde e responsável. Ficou claro que a tecnologia não é apenas um motor de crescimento económico, mas também uma ferramenta crucial na luta contra as alterações climáticas e na promoção de práticas sustentáveis.

Em termos de tendências tecnológicas, a Web Summit mostrou um foco renovado na inteligência artificial, blockchain e na evolução para a Web3. Estas áreas não são apenas promissoras do ponto de vista comercial, mas também oferecem novas maneiras de abordar problemas sociais complexos.

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Um momento curioso e que captou a atenção dos participantes foi a presença (e subsequente revelação da impostura) do DJ Marshmello. Depois de ter supostamente participado numa palestra de apresentação de uma nova criptomoeda (a Adicoin) alegadamente criada em parceria com a Adidas – o DJ denunciou que quem esteve em Lisboa foi um impostor – a palestra foi, na verdade, realizada pelo grupo ativista Yes Men. Este episódio, embora ligeiro, reflete a natureza dinâmica e por vezes imprevisível da Web Summit.

No entanto, um ponto de reflexão crítica veio com a discussão sobre o futuro da Web Summit. O crescimento e a comercialização do evento levantam questões sobre a manutenção do seu espírito original e da capacidade de continuar a ser um catalisador significativo para a inovação tecnológica.

Adicionalmente, este ano fica incondicionalmente marcado por uma substituição à última da hora do CEO do evento, pelo cancelamento na participação de vários países e empresas emblemáticas e por um desabafo de alguns participantes em não terem encontrado investidores ao nível que procuravam, como foi muito bem retratado num artigo da Sifted. A nova CEO, Katherine Maher, quer manter o evento em Lisboa no próximo ano e para já está focada em garantir a correta imagem da empresa e do evento e em assegurar sucesso na próxima edição no Rio de Janeiro.

As centenas de eventos paralelos continuaram a ser uma fonte vital de conexões e descobertas. Nestes espaços mais íntimos, empresários, investidores e inovadores puderam partilhar ideias e colaborar de maneiras que o formato maior e mais formal da Web Summit nem sempre permite.

Em resumo, a Web Summit 2023 foi mais do que um agregador de tendências — foi um microcosmo da indústria tecnológica global, refletindo tanto as suas aspirações como os seus desafios. Conforme avançamos, é crucial reconhecer tanto os sucessos quanto as áreas que necessitam de reflexão e ajuste. A essência da tecnologia, como sempre, encontra-se não só nas grandes apresentações, mas também nas pequenas interações e nas ideias que emergem quando mentes brilhantes se encontram.

A Web Summit é uma peça chave na construção de um ecossistema de inovação e tecnologia em Lisboa, com diversos hubs temáticos a nascer. Depois do Hub Criativo do Beato, estão previstas novas comunidades localizadas, em especial  Inteligência Artificial, Gaming, Bluetech, Tecnologia Financeira, Sustentabilidade, Tecnologia Alimentar e Realidade Aumentada — que podem dar origem a hubs e, mais tarde, distritos de inovação em várias zonas da cidade. Juntamento com políticas fiscais menos penalizadoras para start-ups e empresários, com acesso a mais recursos de fundos nacionais e europeus e com uma crescente atração de recursos estrangeiros que se localizam em Lisboa, esta Web Summit poderá mesmo ter sido um novo pontapé de saída para a afirmação da capital enquanto uma das áreas mais relevantes de empreendedorismo e inovação na Europa.