O médico do futuro não oferecerá remédios, em vez disso instruirá o paciente no cuidado do corpo humano em relação à dieta e às causas e prevenção de doenças.
Thomas Edison (1847-1931)

Sôr árbitro vou lavrar um protesto” dizia indignado o Dr. Daniel de Matos a um árbitro imaginário, sempre que se via injustiçado durante os jogos de futebol que reuniam seis – três de cada lado, tantos quantos o pátio da casa de seu tio conseguia albergar.

Lembrei-me deste comentário do ilustre – médico pessoal dos quatro últimos presidentes da República, incluindo o actual – e meu amigo, a propósito da tenebrosa situação que todos, incluindo os profissionais de saúde, vivemos, por causa da Covid-19, também conhecida por coronavírus.

Tendo assistido, como todos, à dor e ao sofrimento, à partida de milhares de pessoas, que deixam famílias destroçadas, bem como, a uma desmotivação e cansaço crescentes e a uma economia a afundar de forma preocupante, o que me leva agora a mim à vontade de lavrar um protesto.

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Que na verdade mais que um protesto será uma reflexão. Composta por várias questões que me parece na sua maioria vão estar na cabeça de quase todos.

Pois tenho-me questionado se faz mesmo sentido continuar a privilegiar unicamente o combate ao inimigo – germe/micróbio/vírus – com as armas exclusivamente a ele apontadas, desconhecendo as suas verdadeiras características e conjeiturando que poderá reaparecer no próximo Inverno. Mantendo o foco apenas na descoberta de uma vacina que ninguém sabe quando estará disponível.

Assim, não poderia fazer mais sentido, a preocupação institucionalizada, a nível presidencial, governamental e das entidades de saúde, alterar o foco para o hospedeiro que o recebe, ou seja, para com o terreno, com a homeostase, com o sistema imunitário, cuja importância já ninguém duvida, para fazer frente ao vírus, hoje e/ou quando ele decidir voltar a aparecer?

Talvez fosse pertinente recordar as palavras atribuídas ao grande criador da teoria microbiana, Louis Pasteur, ditas no seu leito de morte e que mostram como nem sempre o que parece certo de início assim o será: «“o micróbio não é nada, o terreno é tudo». Pois com esta afirmação do próprio pai da teoria reconheceu que ela não estava completamente certa. E a mesma deveria ser ouvida e acolhida por médicos, governos e cientistas.

Acredita-se que esta mudança de visão de Pasteur nesses últimos momentos de vida tenha surgido da troca de opiniões com Antoine Béchamp (e também de Claude Bernard), defensores da “teoria celular”.

No entanto, apesar destas palavras, a medicina ocidental dessa altura, não  dando ouvidos a Pasteur optou por tratar o agente causador e a infecção/afecção, ao abrigo do paradigma – uma maleita – um comprimido – e não o portador, com as suas vicissitudes próprias. Perpetuando-se, até aos nossos dias, um modelo totalmente reducionista, apostando na já renegada pelo próprio, “teoria do germe”, que fez nascer o uso de vacinas, antibióticos e demais agentes antimicrobianos ou não microbianos.

E com isto esquecendo a “teoria celular” de Béchamp, menos preocupada em aniquilar o agente invasor – o vírus da circunstância – e mais focada em restaurar a imunidade e a saúde dos doentes, a qual pode ser alcançada por uma introdução de escolhas de vida saudáveis através de opções alimentares adequadas, de suplementação nutricional e hormonal personalizada, da prática de exercício físico, de um sono reparador, da promoção de um estado psicológico satisfatório, da espiritualidade, bem como, da remoção das toxinas e metais pesados circundantes.

Então, urge percebermos porque é que apesar de vivermos rodeados de triliões de micróbios por todo o lado, no sangue, no intestino, na pele, em todo o corpo, umas vezes adoecemos e outras vezes mantemo-nos saudáveis? E porque é que o coronavírus embora ande por aí à solta afecta umas pessoas e não afecta outras?

Portugal pode assim constituir mais uma vez exemplo para o mundo, tal como o tem feito com a contenção da pandemia, chegaria para tal corrigir a desproporção entre o investimento dirigido para a redução das causas das doenças e a promoção de um estilo de vida saudável ou seja, bastaria aumentar o investimento na promoção e divulgação de formas de vida com mais saúde em detrimento do investimento focado estritamente no tratamento da doença, dos seus sinais e sintomas.

Para tal, bastaria uma política que privilegiasse o reforço e tratamento de um sistema imunitário disfuncional e enfraquecido na luta contra a Covid-19. Na qual fosse distribuída de forma gratuita ou que pudesse ser adquirida com descontos a “vitamina D” – cujo papel decisivo no reforço das nossas defesas se torna cada vez mais evidente. Podendo ser também incentivada a toma de vitamina A, vitamina C e Zinco, entre outras substâncias também com manifestas e comprovadas propriedades de reforço do sistema imunitário.

Mais validado ainda, pelo mais recente estudo, que analisa a carência de vitamina D na globalidade da população portuguesa adulta, publicado na revista científica “Archives of Osteoporosis”, que indica que dois em cada três portugueses têm falta de vitamina D, um valor que nos Açores sobe para 82% e que atinge mais as mulheres do que os homens. E mais ainda diz que mesmo durante o verão pouco mais de metade (56,8%) dos portugueses conseguem atingir valores normais de vitamina D.

Desta forma dar-se-ia um importantíssimo passo não só na prevenção e tratamento do flagelo corrente, mas, também na prevenção e tratamento de múltiplas enfermidades que assolam os infectados com o Covid-19 e não só.

Posição que se encontra ainda mais legitimada com o anúncio de vários estudos que estão a começar a ser realizados em Portugal sobre a imunidade. Como é o caso do projeto “CheckImmune”, que será levado a cabo na Universidade da Beira Interior que fará um estudo transversal para avaliação da imunidade em alguns distritos. Ou dos estudos que estão a ter lugar há já várias semanas no Hospital de Santa Maria em Lisboa e o Hospital de São João no Porto em que estão a ser medidos os níveis de vitamina D nos doentes com Covid-19. Através dos quais um grupo de investigadores portugueses procura várias respostas a questões como: se a carência de vitamina D torna os doentes mais vulneráveis. Com uma comorbidade (a associação de uma ou mais doenças no paciente) ligada à Covid-19, atestada por estudos como o que foi levado a cabo pelo Instituto Superiore di Sanità que concluiu que em Itália uma percentagem elevadíssima das mortes – 99% — ocorreu em pessoas que tinham doenças associadas, das quais 76,1% tinham hipertensão, 35,5% diabetes e 33% doença cardíaca. Será agora mais que nunca o momento de tentar reverter essas patologias e outras promovidas pela inflamação e resistência à insulina, que podem ser revertidas através de um reforço da imunidade e da adopção de um estilo de vida saudável, sendo então altura para promover os mesmos, conseguindo eventualmente prevenir também as consequências do novo corona vírus.

Sendo uma realidade que a nossa imunidade reside em grande parte – 70 a 85% — na parede do nosso intestino, porque não promover a sua saúde através dos alimentos que não inflamem a sua parede e desaconselhamento dos mais inflamatórios – cereais com glúten, lacticínios e açúcar – e duma indispensável boa microbiota através do uso generalizado de probióticos?

Sem desprezar a “teoria do germe” de Louis Pasteur – os antibióticos e as vacinas têm salvado milhões de vidas, importa dar um outro eco aos trabalhos de Antoine Béchamp e pugnar de uma forma bem mais determinada por uma intervenção no terreno, por um correto equilíbrio interior, uma correta homeostase em suma, com as alterações ao estilo de vida que tal pressupõe.

E como se tudo isto não bastasse, não nos podemos esquecer que este novo vírus que provoca a Covid-19 entra nas células, apropria-se dos mecanismos celulares para promover a sua auto-replicação, gerando uma infeção generalizada que, conjuntamente com uma reação excessiva do sistema imunitário provoca a falência de vários órgãos, nomeadamente os pulmões, o que nos leva a concluir que sem dúvida o reforço do sistema imunitário é a melhor coisa que poderemos fazer por nós.

A Medicina dever-se-á centrar nas necessidades dos doentes e ser baseada sempre que possível em fundamentos científicos, por forma a eliminar as doenças e sobretudo ajudar os doentes a atingir um estado ótimo de saúde, promovendo o seu sistema imunitário, facilitando um envelhecimento saudável e prolongando a vida.

Autor do livro  +Vida +Saúde +Tempo (Oficina do Livro, 2020)