As empresas portuguesas estão obrigadas a incorporar uma nova preocupação na sua gestão: a criação do Relatório de Sustentabilidade Corporativo. Este documento propõe que as empresas divulguem as suas estratégias de sustentabilidade, objetivos associados, políticas, e medidas para alcançar metas relacionadas aos impactos ambientais, sociais e fatores de governança (ESG). A obrigatoriedade decorre da Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (CSRD), uma iniciativa europeia que pretende fomentar uma maior transparência e rigor nas informações não financeiras, prometendo que o reporte tornar-se-á tão crucial na União Europeia como o relato financeiro tradicional.

Felizmente, este tema não é encarado como monótono ou trivial, afastando-se da ideia de ser apenas “mais um papel”. Pelo contrário, é amplamente percebido que as questões de ESG são fulcrais no presente, não sendo apenas uma visão futura. Estas questões são vitais para diversas partes interessadas como investidores, organizações da sociedade civil, consumidores e outros.

A nova Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade alarga o seu escopo a todas as grandes empresas com volume de negócios superior a 40 milhões de euros anuais, balanço total superior a 20 milhões de euros anuais ou mais de 250 trabalhadores, bem como às PME cotadas em bolsa e empresas fora da UE com receitas superiores a 150 milhões de euros. A implementação ocorre progressivamente: empresas sob a antiga diretiva devem começar em 2024, grandes empresas em 2025, PME cotadas em bolsa em 2026 e empresas fora da UE em 2028. As PME podem optar por não participar até 2028.

Embora a Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade traga benefícios significativos para a economia internacional, por meio da melhoria da avaliação de riscos e oportunidades, dos objetivos de sustentabilidade a longo prazo e atendendo às demandas dos investidores, impõe desafios sérios às empresas portuguesas. Numa conjuntura de impostos elevados e de grande instabilidade política causada por 8 anos de má governação por parte do governo socialista, as empresas que já enfrentam dificuldades, terão de aumentar os custos de conformidade, aumentar a complexidade de divulgação de dados e as PME terão uma maior pressão sobre si. De notar que as PME representam 99,9% das empresas nacionais, com um volume de negócios superior a 308 mil milhões de euros (2022, PORDATA) e já enfrentam diversos desafios significativos, como por exemplo, a obtenção de financiamento.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A nova diretiva também introduz um novo documento, as Normas Europeias de Relato de Sustentabilidade (ESRS). Infelizmente, como habitual, os processos são complicados, confusos e muito burocráticos, especialmente quando se leva em conta a interligação com outros regimes internacionais de relato e divulgação.

Com estas obrigações, as empresas serão desafiadas a desenvolverem-se, forçando a competitividade das empresas europeias, somando assim um ponto positivo, uma vez que o cumprimento da diretiva promoverá avanços significativos na gestão de dados e no desenvolvimento de tecnologia. Pelo outro lado da moeda, as empresas terão de lidar com uma grande quantidade de informações específicas, exigindo melhorias na recolha de dados, metodologias, processos, análise, credibilidade e transparência, bem como em sistemas e infraestruturas de tecnologia de informação.

Os Relatórios de Sustentabilidade Corporativa representam um marco para o futuro das empresas e um passo crucial no rumo para a neutralidade carbónica em 2050. Os relatórios não são apenas uma obrigação de divulgação, mas sim uma nova forma de gerir as empresas, transformando quase todas as partes da organização. Os Relatórios de Sustentabilidade Corporativa são, portanto, uma transformação da estratégia das empresas.

No entanto, é crucial monitorizar como as empresas irão lidar com esta nova exigência e como os desafios serão superados. No imediato, só as grandes empresas terão de enfrentar esta realidade, embora a diretiva rapidamente abrangerá grande parte das empresas, tornando imperativo que todas as empresas acompanhem estas mudanças e se preparem para os desafios.