Durante várias décadas, estudos nas áreas da arqueologia e da genética mostraram que a maioria dos europeus atuais descende da “mistura original” de dois grupos populacionais distintos, mas um novo estudo veio mostrar que não é bem assim. A descoberta foi feita por um grupo de investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, em conjunto com a Universidade de Tübingen na Alemanha, liderado pelo Professor David Reich.
Há cerca de 7 mil anos chegaram à Europa os primeiros agricultores, vindos do Próximo Oriente. Estes misturaram-se com as populações locais de caçadores-recoletores, que viviam no continente desde a sua colonização. Essa mistura encontra-se ainda refletida no código genético da maioria dos europeus atuais. Mas a estas duas populações juntou-se ainda uma terceira, a dos antigos eurasiáticos do norte, parentes dos siberianos do Paleolítico Superior. O novo estudo, publicado na revista Nature, mostra que este grupo terá também contribuído para o ADN dos europeus atuais, assim como para o dos índios norte-americanos, sugerindo a sua presença nos dois continentes. “Antes deste artigo, os modelos que tínhamos da ascendência europeia eram uma mistura de dois movimentos. Mostramos agora que há três grupos”, explicou David Reich, num comunicado da Universidade de Harvard. “Isto também explica a descoberta recente da ligação entre europeus e os nativos norte-americanos”, acrescentou. “O mesmo grupo de antigos eurasiáticos do norte contribuiu para ambos”.
Para este estudo, os investigadores sequenciaram os genomas de 2.300 indivíduos, originários de vários países diferentes. Foi depois analisado o material genético com sete mil anos de um agricultor encontrado na região da atual Alemanha, assim como o de oito caçadores-recoletores, encontrados na zona da atual Suécia e Luxemburgo. A esta informação foram ainda adicionados os dados de outros antigos agricultores europeus e de dois membros da antiga população do norte da Eurásia. Com esses dados foi possível “estudar como é que eles se relacionaram com as outras populações”, disse David Reich, e foi possível comprovar que a maioria dos europeus descende, de facto, de pelo menos três “tribos” distintas. Esta nova descoberta veio mostrar que, ao contrário do que se julgava, as origens europeias são muito mais complexas.
“Quase todos os europeus têm ascendência de três grupos ancestrais”, disse Iosif Lazaridis, um dos autores do artigo. Mas essa ascendência não é igual em todas as zonas da Europa. “Os europeus do Norte têm uma ascendência maior de caçadores-recolectores e os europeus do Sul têm mais antepassados agricultores”, acrescentou. Por outro lado, a ascendência eurasiática está mais diluída. “A ascendência dos eurasiáticos do norte é, proporcionalmente, o componente mais pequeno em toda a Europa, nunca mais do que 20%, mas encontramo-la em quase todos os grupos europeus que estudámos e também nas populações do Cáucaso e do Próximo Oriente”, explicou.