O ex-ministro da Presidência de Durão Barroso, Nuno Morais Sarmento, não exclui ser candidato a líder do PSD depois da saída de cena de Passos Coelho, se Rui Rio não avançar. “Não excluo nada porque eu não me diminuo nos meus direitos enquanto militante do PSD. Por isso, não excluo coisa nenhuma”, responde em entrevista ao Observador, acrescentando que avançará “se isso for útil”, apesar “de não ser um dos seus objetivos de vida”. Revela ainda que tem tido apelos nesse sentido semelhantes ao que “sempre aconteceu em certos momentos” e que isso o deixa “reconfortado”.

“Estes cinco anos são uma vida e marcaram já o PSD e a história do país”, afirma, no momento em que Passos completa cinco anos à frente do PSD e em que faltam seis meses para as eleições legislativas, admitindo que o reconhecimento do trabalho do Governo pelo eleitorado pode não acontecer a tempo das próximas eleições legislativas.

“Pode haver um hiato temporal até um reencontro dos portugueses com o PSD pelo que foram estes quatro anos de governação. Apesar de tudo, tendemos, como seres humanos, a não ser masoquistas e, portanto, não nos voltamos para trás e não dizemos a quem nos provoca dificuldades ‘Ainda bem’. Isso é um exercício que é simples a posteriori, depois da tempestade passar. (…) Quando estão no olho do furacão, aquilo para que os portugueses olham é para a dificuldade em pagar a escola dos filhos e a assistência médica e as prestações [da casa]. Isto foi muito duro socialmente e ainda está a ser muito duro. É compreensível que não haja um reconhecimento imediato em cima deste sofrimento individual”, defende.

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Rui Rio, acrescenta Sarmento, “tem a mesma leitura da realidade que eu tenho”. O ex-autarca do Porto é, aliás, “uma das figuras que o PSD tem e de que se deve honrar” e deve ser “visto como possível candidato a qualquer função, primeiro-ministro ou Presidente da República”.

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“Se achar que for útil [concorrer a qualquer um destes cargos, Rui Rio] tem a obrigação de estar disponível”, explica, acrescentando: “Mas não para fazer um bloco central. Isso seria o toque de finados na realidade política”. “Esgotávamos o sistema partidário numa altura em que devíamos abri-lo”, diz, lembrando que o bloco central poderia ter o mesmo efeito que noutros países, como em Espanha, onde estão a surgir novos partidos com potencial de vencer como o Podemos e o Ciudadanos. Pelo contrário, em vez do Bloco Central, há outras soluções. “Não é uma questão de Bloco Central, mas de acordos de regime sobre algumas questões fundamentais, para evitar a total descontinuidade de políticas, como na fiscalidade, na área laboral, na organização administrativa do território”, explica o ex-ministro.

“Podemos discutir se o caminho tinha de ser assim”, diz, mas isso é precisamente a discussão que será feita no day after das legislativas. ”Governar não é só pôr as contas públicas em ordem”, atira.

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Sarmento, que diz que uma vitória da AD será “muito difícil” (enquanto há uns meses era “impossível”), considera ainda possível que, se o PS ganhar com maioria relativa, consiga entender-se com forças de esquerda. “Foi o que aconteceu na Câmara de Lisboa e não houve nenhum papão”.

O ex-ministro sublinha, no entanto, que Passos teve o mérito de tirar o país da bancarrota, quando o país estava “entre o desgovernado e o governado por um louco político”, e conduziu-o a um caminho de crescimento económico, o que foi “uma missão histórica”. É, contudo, muito crítico da reforma do Estado que, a seu ver, “não foi feita nos termos em que devia ter sido feita”.

“Entrou na agenda deste Governo como uma atuação de emergência. Congelar salários, congelar carreiras e progressões, cortar no investimento, consumíveis, isso não reforma nada. É a mesma coisa que ter uma panela que tem água muito quente e pôr-lhe a mão em cima. Enquanto puser, isto aguenta. No momento em que eu lhe tirar, a água está lá toda. O que importava era tirar água para que nunca mais a água pudesse transbordar quando o calor lhe chegasse”, explica.

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A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, apontada como eventual sucessora ao lugar de Passos, é, para Sarmento, uma novata. Exemplo disso foi a recente declaração sobre os “cofres cheios do Estado”. “Isso tem a ver com alguma excitação política de quem não tem experiência suficiente para poder fazer determinados exercícios. Todos nós cometemos erros quando pegamos no volante de um automóvel pela primeira vez. Deixamos o carro ir abaixo, subimos o passeio para estacionar…”, diz, reconhecendo, no entanto, na ministra “apetência política” e um papel no futuro do PSD embora não no ciclo imediatamente a seguir ao de Passos.

Aliás, Sarmento defende que quando um líder acaba o seu mandato nenhum dos seus mais próximos está em condições de lhe suceder. “Os números 2, 3 ou 24 acham sempre que quando um ciclo político termina vão determinar o momento seguinte, não percebendo que eles vão na água do banho do ciclo político. Eles são, para o bem e para o mal, a razão da derrota desse ciclo político. É a lei da vida”.

Sobre a coligação com o CDS de Paulo Portas, acredita que se fará e que este atraso, por parte do PSD, prende-se com a avaliação que o líder do PSD faz da coligação. “Não é uma mais-valia. O CDS foi importante em quê e quando durante estes quatro anos? Tenho muita dificuldade em responder a isto. Onde é que houve CDS? Aí, pinga pouco”.

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Nuno Morais Sarmento faz ainda uma comparação curiosa entre Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva, os dois líderes do PSD que mais tempo estiveram à frente do partido. “Serão talvez os mais parecidos”, começa por dizer. Em quê? Fizeram um percurso pessoal da província para a cidade, são “austeros, de comportamento mais fechado, alguma desconfiança das elites de Lisboa, desprezo pela dimensão partidária, relativamente frios e revelam pouca emoção, mas também uma teimosia que roça a auto-suficiência política”.

Outro ponto de convergência, aponta, é a forma como os dois lidaram com as dúvidas, levantadas na comunicação social, sobre o seu património, quer seja o caso Tecnoforma as dívidas à Segurança Social, quer seja sobre a casa de férias e o IMI de Cavaco. “Passos não lidou bem com esse momento como Cavaco Silva não lidou bem com a história da marquise e da casa do Algarve. São pessoas que têm algum desprezo por quem vê no dinheiro algum caminho para o sucesso na vida portanto lidam mal com o questionário da sua honestidade. Isso não entra no seu computador”, diz.

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