Annabelle Charbit sempre odiou “coisas”. E sempre as odiou de tal forma que, desde pequena, ganhou o hábito de deitá-las fora. Aos cinco anos, escondia os brinquedos no quarto do irmão mais novo. Aos dez, costumava abandonar os seus pertences nas esquinas do bairro onde vivia, em Londres. Aos 13, descobriu as lojas de caridade, onde deixava malas cheias de tralha que levava de casa sem os pais darem conta.

Quando saiu de casa dos pais e foi viver sozinha, Anabelle Charbit, então com 20 anos, continuou a alimentar o seu estilo de vida minimalista. Até os candeeiros deitava fora. “Cheguei a ficar na semi-escuridão”, contou à revista The Atlantic. Mas o pior pesadelo de Annabelle eram os aniversários. Fazer anos, significava receber prendas, “coisas”. E as coisas eram um grande problema, porque obrigavam-na a arranjar uma forma de se desfazer delas.

Foi só mais tarde que Annabbelle Charbit, hoje com 40 nos, descobriu que sofria de um tipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) — a “desacumulação”, que se caracteriza por uma necessidade constante de deitar coisas fora. Ao contrário da acumulação compulsiva, que foi reclassificada como um tipo de transtorno psiquiátrico em 2013, a “desacumulação” é geralmente descrita como uma manifestação do TOC.

“Ser organizado, deitar coisas foras e ser eficiente é aplaudido na nossa sociedade porque é produtivo. Mas, se alguém não consegue tolerar a desarrumação e não consegue parar de limpar ou de deitar coisas fora, então estamos perante um sintoma”, explicou à Atlantic Vivien Diller, uma psicóloga norte-americana que trabalha diretamente com “desacumuladores”.

Apesar da necessidade de “desacumular”, Vivien Diller garante que os seus pacientes raramente se queixam de serem “demasiado eficientes ou de deitarem coisas fora”. O principal problema são os outros sintomas do TOC. “Não conseguem dormir e sentem-se nervosos e irritados. Sentam-se no meu consultório e começam a endireitar as almofadas. Não se sentem confortáveis se não estiver tudo em ordem”, contou a psicóloga.

Ainda não se sabe ao certo quais são as causa do TOC. O que se sabe, porém, é que este tipo de transtorno psiquiátrico faz com que os doentes tenham pensamentos obsessivos, que geram um tipo de ansiedade que só pode ser aliviado através da realização de uma tarefa em particular. É o alívio que esta tarefa traz que faz com que aqueles que sofrem de TOC continuem a realizá-la.

“Ao realizarem o ritual, os doentes ficam temporariamente aliviados, e isso faz com que continuem a fazer o mesmo ritual”, explicou Michael Jenike, professor de psicologia na Universidade de Harved e criador do programa de tratamento de obsessivo-compulsivos no Hospital de Massachusetts. “Por isso fazem-no vezes e vezes sem conta”.

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