A Corticeira Amorim vai plantar 500 hectares de montado de regadio este ano, em parceria com dez produtores florestais alentejanos, um projeto que o presidente executivo do grupo espera replicar a curto prazo para responder à falta de matéria-prima.

Durante uma visita à Herdade do Conqueiro, em Avis, onde o proprietário, Francisco de Almeida Garrett, plantou uma área experimental de sobreiros irrigados há 15 anos, António Rios Amorim afirmou que o regadio é uma prioridade para a empresa, que está a trabalhar com investigadores da Universidade de Évora para aprofundar o tema.

O responsável da Corticeira Amorim estima que sejam necessários mais 50 mil hectares de montado para conseguir exportar os mil milhões de euros de cortiça que prevê atingir no próximo ano, mas admite que “a forma tradicional não é suficientemente motivadora” atendendo ao longo período de retorno.

“É fácil de dizer, difícil de fazer”, sublinhou, destacando que a instalação desta área supõe um investimento de 125 milhões de euros.

Para manter a fasquia das exportações nos mil milhões de euros são necessárias 200 mil toneladas de matéria-prima, mas a produção de cortiça tem vindo a reduzir-se nos últimos 20 anos: atualmente, a indústria da cortiça já importa cerca de 66 mil toneladas de cortiça, sendo extraídas em Portugal aproximadamente 85 mil toneladas.

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O problema é que o montado tradicional demora cerca de 25 anos até ser possível fazer a primeira extração de cortiça, implicando um período de retorno do investimento demasiado longo para muitos produtores.

A irrigação vai ajudar a encurtar o prazo, como comprova a exploração-piloto de sobreiros na Herdade da Conqueira, que foi plantada em 2002 e já vai na segunda extração de cortiça.

António Amorim adianta que o principal objetivo não é encurtar o ciclo produtivo do sobreiro, considerando que um período de nove anos “é competitivo”, e sim reduzir o ciclo inicial, dos atuais 25 anos para oito a dez anos, na primeira extração cuja cortiça é considerada de pior qualidade.

A plantação dos 500 hectares de montado de regadio, a partir de novembro, é o primeiro passo e o presidente executivo da corticeira espera despertar assim o interesse em mais produtores.

“Não estamos a fazer um exercício teórico, tem evidência prática”, afirmou, apontando os dois hectares experimentais da Herdade do Conqueiro.

O responsável da Corticeira Amorim defende também mais apoios para a instalação de montado de regadio. Plantar um hectare de montado de regadio custa cerca de 2.500 euros: mil euros destinados à instalação florestal – que são subsidiados – aos quais acrescem mais 1.500 euros para a irrigação.

O ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Florestas, Capoulas Santos, que acompanhou a visita, assinalou que o financiamento “não é um problema”, mas “implica disponibilidade de água”.

“Vejo mais dificuldade na disponibilidade de água para estes fins do que no apoio ao financiamento”, salientou o governante, lembrando que “normalmente, os perímetros de rega usam-se em culturas mais competitivas”,

António Amorim considera, no entanto, que o montado “não compete com a agricultura, e sim com a floresta”, pelo que não põe em causa culturas de regadio mais competitivas, como o olival ou o milho.

“São solos pobres, áreas marginais”, reforçou, acrescentando que quer “extrapolar a dinâmica” dos 500 hectares de montado de regadio que vão ser plantados a partir de novembro no Alentejo e arranjar mais parceiros para o projeto a curto prazo.