Numa altura em que as autoridades alemãs continuam a tentar perceber como é que Anis Amir, principal suspeito do ataque em Berlim, conseguiu escapar aos radares dos serviços de informação, começam a surgir as primeiras evidências de que o sistema de segurança alemão efetivamente falhou. Desde há muito identificado pelas autoridades como radical islâmico, a polícia alemã acompanhava-o de perto. Até deixar o de fazer, em setembro deste ano, dois meses antes do atentado que vitimou 12 pessoas num mercado de natal.
Como lembra o jornal El Español, Anis Amir esteve sob vigilância das autoridades alemãs durante largos meses. No entanto, a legislação alemã não permite que essa vigilância se prolongue por tempo indeterminado. Sem acusação formada, a polícia deixou de acompanhar os passos de Amir.
Mais: o suspeito chegou mesmo a ser detido pelas autoridades, durante uma operação de controlo de segurança, perto da fronteira da Alemanha com a Áustria. Esteve dois dias num centro de detenção para deportados, mas acabou por ser libertado porque o limite legal para estas detenções na Alemanha é de quatro dias.
Amri chegou à Alemanha em julho de 2015, depois de ter estado em território italiano, onde já tinha tido problemas com a justiça — em outubro de 2011, foi condenado a quatro anos de prisão por roubo, agressão e fogo posto. Era mais um episódio de um cadastro que começara a construir-se ainda na Tunísia, a sua terra natal, altura em que foi condenado a cinco anos de prisão por roubo violento.
O processo de radicalização de Amri terá começado durante o período em que esteve detido em Itália, num centro de detenção em Palermo. Quando cumpriu a pena imposta, tinha uma ordem de expulsão emitida em seu nome. No entanto, as autoridades tunisinas e italianas não chegaram a acordo em relação ao destino a dar ao jovem, porque os dados sobre a identidade do individuo não coincidiam.
Este pormenor é importante para perceber como é que Anis Amri conseguiu iludir as autoridades de vários países europeus, como sublinha o El Español. Em diversas ocasiões, Amri foi identificado como sendo um cidadão egípcio, libanês ou tunisino. A data de nascimento também não coincidia: ora declarou ter nascido em 1992, ora em 1994. As informações contraditórias impediam a identificação correta do suspeito.
Mas o maior obstáculo ao acompanhamento de suspeitos com o perfil de Amir é a própria legislação alemã. “A expulsão de imigrantes que não se comportem de acordo com a lei é praticamente impossível na Alemanha. Temos 270 mil imigrantes ilegais na Alemanha que têm de ser expulsas”, explica Joachim Krause, especialista em segurança e professor na Universidade de Kiel, ao El Español.
Rolf Tophove, diretor do Instituto de Investigação de Terrorismo e de Segurança, acrescenta outro detalhe ao mesmo jornal: existem “cerca de 550 pessoas” com o perfil de Amir. De resto, poucas horas depois do ataque no mercado de natal, o suspeito foi captado pelas câmaras de vigilância a circular calmamente junto de uma centro identificado como local de radicalização, como revela o ABC.
A discussão sobre a necessidade de reforçar o quadro legal e as competências das autoridades alemãs ganhou uma nova dimensão na Alemanha, depois de revelados os detalhes sobre o caso de Amir. Durante a madrugada, o suspeito foi morto a tiro pela polícia italiana, quando foi abordado num controlo de segurança numa estação de comboios na comuna de Sesto San Giovanni, em Milão, confirmou esta sexta-feira o governo italiano.