Nuno Artur Silva ainda estava no carro, no regresso do aeroporto de Lisboa — onde foi receber o vencedor Salvador Sobral –, quando recebeu a chamada do Observador. Ao seu lado, o administrador da RTP trazia a pasta que lhe foi entregue pela organização com as condições para o país anfitrião. “Ainda não a abri”, confessa. Este domingo ainda é tempo de “saborear a vitória”, mas não há tempo a perder: segunda-feira a administração da RTP reúne de emergência para começar a preparar o Festival Eurovisão da Canção de 2018. É “prematuro” avançar com detalhes, mas já há um pedido da organização: que o festival se realize no MEO Arena, em Lisboa.
Os custos — olhando à média dos últimos cinco anos — rondam os 30 milhões de euros. Pode custar menos, mas também pode custar mais. “Tenho aqui ao lado a pasta que os responsáveis da Eurovisão deram à delegação portuguesa e vamos começar agora a olhar para ela. Ainda não temos noção do que isto significa”, confessa Nuno Artur Silva. O administrador da RTP adianta que esta segunda feira irá reunir com os restantes administradores, mas que ainda é tudo muito prematuro, confessando que ganhar era “um cenário possível”, mas “ninguém pensou o que fazer em caso de vitória”. Esse processo começa agora.
Começou, desde logo, a circular nos bastidores que o local do festival seria no MEO Arena, em Lisboa. Ao Observador, Nuno Artur Silva revela que a localização “tem fundamento”, já que “os próprios organizadores sugeriram que fosse no MEO Arena“. Nuno Artur Silva lembra que “os custos transcendem a própria RTP“, mas lembra que um evento deste género tem “um potencial comercial grande”, que “atrairá marcas comerciais e certamente a RTP atuará também por esse lado”.
Pagar a Eurovisão pode ser um problema?
Se estiver perto da média, os custos do festival podem rondar os 3o milhões de euros. Olhando para o Orçamento de 2017 da RTP, o impacto é significativo. Esses valores significariam 12,72% dos custos da RTP (235,8 milhões de euros) e, por exemplo, absorveria 16,33% da Contribuição Audiovisual, paga diretamente pelos contribuintes na fatura da luz. No entanto, a RTP não terá de pagar tudo.
Além do financiamento próprio dos países que participam na Eurovisão (é difícil dizer, com precisão, porque ainda não está definido e porque a organização tem por hábito não tornar públicos esses dados), a televisão pública pode ter a ajuda da cidade anfitriã ou, por exemplo, dos ministérios da Cultura ou da Economia, que tutela o Turismo. Para não falar, claro, dos patrocinadores. Este ano, foi possível ver no site do festival os nomes de parceiros como a Visa, a Jacobs ou a OSRAM. No caso do festival de 2017, a própria câmara municipal da cidade onde se realizou o evento, Kiev, fez avultados investimentos.
O Observador contactou o gabinete do presidente da câmara municipal de Lisboa, Fernando Medina, que informou que ainda não está nada definido, já que “nem sequer se sabe se o evento será em Lisboa”. Para já a única forma de tentar antecipar a dimensão dos custos é olhar para as últimas edições. A média das últimas cinco edições ronda os 30 milhões de euros (mais precisamente: 27,88 milhões de euros). Aumentando a média para as últimas nove edições (desde 2009) o número aumento para os 36,8 milhões de euros. A edição mais cara foi em Baku (Azerbaijão) em 2012, quando os custos chegaram aos 56,58 milhões de euros. Por outro lado, os custos da edição de 2016 em Estocolmo (Suécia) ficaram-se pelos 14 milhões de euros.
Os números provam que, muitas vezes, o festival tem um impacto positivo na economia do País. Em Viena, em 2015, os custos rondaram os 33 milhões de euros e os ganhos com o Turismo superaram os 38,9 milhões de euros. Ainda assim, não há uma relação direta entre custos e ganhos. Ou seja: aqui a RTP pode ter de assumir uma fatia grande dos custos, mas as maiores receitas não entram diretamente nos cofres da estação pública, já que beneficiam acima de tudo a economia, por via do turismo. Sendo necessário que alguém possa cobrir o valor gasto pela televisão pública.
Em 2013, Portugal ficou de fora da Eurovisão por “restrições orçamentais”, já que em 2012 — com o país sujeito a um programa de ajustamento da troika — a estação pública alegou que não tinha dinheiro para pagar a contribuição obrigatória. Em 2016, voltou a ficar de fora, mas as razões já foram uma “renovação de conteúdos”. Prometia, no entanto, voltar em 2017. Voltou e ganhou. Agora, Portugal não só venceu, como irá organizar o festival.
A emissora pública da Alemanha, a Norddeutscher Rundfunk (NDR), ponderou não participar na Eurovisão deste ano, já que teria pago 363 500 euros para participar no evento em 2016, enquanto a Holanda pagou 250 mil euros, a Irlanda 23 mil euros e Malta 80 mil euros. Na altura, os alemães divulgaram que a Grécia pagou em 2012 120 mil euros e Montenegro 23 mil euros. A European Broadcasting Union (EBU) cobrava ainda, na altura, cinco milhões de euros ao país anfitrião. Mas as exigências mudam de ano para ano. E Portugal só abre a pasta esta segunda-feira.