Os excessos, a relação com a família, os tempos da ditadura e a vida em palco são recordados pela artista brasileira Rita Lee numa autobiografia que sai esta semana em Portugal, com prefácio de Rui Reininho.

Em “Uma autobiografia”, com selo da Contraponto, Rita Lee conta episódios da vida familiar e artística, encadeando curtas histórias ao longo de 300 páginas, ilustradas por várias fotografias.

Editado no Brasil em 2016, o livro acompanha o crescimento e envelhecimento de uma das figuras do rock brasileiro, hoje com 69 anos, com referências à censura no Brasil, uma passagem pela prisão, a vida na estrada com os Mutantes – um dos maiores grupos de rock psicadélico nascidos no Brasil -, a carreira a solo e o ativismo em defesa dos animais.

“‘Uma autobiografia’ é a biografia de um Brasil que conhece transformações rapidíssimas, que vê crescer Brasília e os militares repressores no poder, a cornucópia canavalesca e a censura, o talento inato de um povão para a música, o ritmo no improviso, na composição, na cachaça e na champa, no mito e na capoeira, no futebol e no chop!”, exclama Rui Reininho, dos GNR, no prefácio.

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Entre as dezenas de curtos episódios relatados, quase sem referências a datas, Rita Lee recorda uma das primeiras passagens por Portugal, quando os Mutantes deram um concerto no Teatro Villaret, em Lisboa, na primeira parte de uma atuação de Edu Lobo.

Nossa apresentação até que rolou legal, apesar de o público português pensar que éramos argentinos“, recorda Rita Lee, acrescentando que no final do concerto cortaram os cabos de eletricidade, boicotando a atuação de Edu Lobo.

No livro, Rita Lee, sem pudores e de forma direta, relata um episódio de violação na infância, fala abertamente do consumo de drogas e do relacionamento duradouro com o companheiro de vida, Roberto Carvalho.

Não faço a Madalena arrependida com discursinho antidrogas, não me culpo por ter entrado em muitas, eu me orgulho de ter saído de todas. Reconheço que as minhas melhores músicas foram compostas em estado alterado, as piores também”, escreve no livro.

Ao sabor da memória, a artista escreve que “o altar do palco é viciante, o lugar mais seguro para se viver perigosamente”, admite ser muito autocrítica em relação ao talento vocal, mas recorda o dia em que João Gilberto lhe disse que a voz dela era “bossanoveira”.

No final, a autora até imagina o que vai acontecer quando morrer – “nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório” – e deixa o seu próprio epitáfio: “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.