O FMI alerta que os responsáveis políticos mundiais, de um modo geral, devem “aproveitar esta oportunidade” — a retoma no crescimento e os juros baixos — para fazer reformas que beneficiem a competitividade e a produtividade e, por outro lado, para abaterem nos níveis de dívida, criando “margem de manobra” que será necessária “na próxima recessão”.
“A retoma cíclica que começou em meados de 2016 continua a ganhar ímpeto”, escreve o Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu mais recente World Economic Outlook, lembrando que “apenas há um ano e meio a economia mundial enfrentava crescimento medíocre e turbulência nos mercados financeiros”. “O quadro é, agora, muito diferente, com o crescimento a acelerar na Europa, no Japão, na China e nos EUA”, acrescenta o organismo, defendendo que “os mercados financeiros parecem antecipar que não haverá grandes turbulências mesmo com a Reserva Federal [o banco central dos EUA] a prosseguir com a normalização da política monetária e com o BCE a aproximar-se do momento em que terá de fazer o mesmo”.
“Estes desenvolvimentos positivos dão boas razões para uma confiança mais robusta, mas nem os responsáveis políticos nem os mercados devem cair na complacência”, diz o FMI, alertando que “uma análise mais rigorosa indica que a recuperação global pode não ser sustentável”. E porquê? Porque “nem todos os países estão a participar [na retoma], a inflação continua abaixo dos objetivos em vários locais, devido ao baixo crescimento dos salários, e as projeções económicas a médio prazo são dececionantes em várias partes do mundo”.
Existem, também, vários “riscos graves” que o FMI regista e que podem ser capazes de fazer descarrilar a retoma. Os mercados financeiros não parecem estar muito conscientes desses riscos, diz o FMI, pelo que estão “suscetíveis a uma correção disruptiva”, ou seja, a uma descida súbita. Além disso, a tranquilidade que aparentemente se vive nas bolsas — que para o alemão Wolfgang Schäuble se deve, em parte, às taxas de juro demasiado baixas e à liquidez excessiva que existe — corre o risco de tornar os responsáveis políticos “complacentes” e, portanto, pouco dispostos a fazerem reformas políticas em prol da competitividade e da produtividade.
Os responsáveis políticos devem manter uma visão de longo prazo e aproveitar a oportunidade que existe neste momento para aplicar reformas estruturais e orçamentais, com o objetivo de dar maior resiliência às economias, mais produtividade e mais investimento. A possibilidade de que os governos não façam isso — já que os políticos tendem a esperar pelas crises para avançar com medidas mais determinadas — é, em si, um risco no horizonte e é, também, uma obstáculo a um crescimento mais inclusivo e sustentável”.
“Os progressos económicos recentes criam um ambiente global de oportunidade, e os responsáveis políticos não devem desperdiçar esta oportunidade”, defende o FMI.
Esta oportunidade deve ser aproveitada para promover o crescimento futuro e para reduzir a dívida. “Os diferentes países precisam de diferentes reformas estruturais, mas todos os países têm espaço amplo para tomar medidas que iriam aumentar a resiliência das economias, bem como o crescimento”, diz o FMI, aconselhando os países mais endividados a “pensar na consolidação orçamental gradual, para reduzir os níveis inchados de dívida pública e criar margem de manobra para a próxima recessão”.
Dívida pública supera os 250 mil milhões de euros pela primeira vez
O FMI acredita que o crescimento global deverá acelerar para 3,6% em 2017 e 3,7% em 2018, dois valores que foram revistos em alta — em 0,1 pontos percentuais — em relação às estimativas feitas em abril. São piores (do que em abril) as estimativas para os EUA e para o Reino Unido, mas esse efeito é mais do que compensado pelo maior otimismo em torno do crescimento em regiões como a Europa, o Japão, a Ásia Emergente, a Europa Emergente e a Rússia.