A GNR recuperou cinco toneladas de peças furtadas de um carro de combate do Campo Militar de Santa Margarida. As peças foram descobertas numa sucata na Chamusca pouco mais de um mês antes do desaparecimento de armamento militar do Paiol Nacional de Tancos. Foi também na Chamusca que a Polícia Judiciária Militar encontrou, esta quarta-feira, o material de guerra que estava desaparecido.
Segundo fonte da GNR ao Observador, o material terá sido furtado de Santa Margarida em “várias visitas” às instalações militares. Visitas estas feitas pelo suspeito (ou suspeitos) de carro — como perceberam as autoridades no local. “Dificilmente levariam tudo de uma vez”, acrescentou a mesma fonte. Para se ter uma ideia, um carro de combate destes (vulgarmente conhecido por tanque de guerra) pode pesar 20 toneladas. Os carros de combate estariam em Santa Margarida ao ar livre.
Aliás, o acesso a estes equipamentos é feito de forma fácil, sem que seja necessário cometer qualquer ilegalidade. Na zona onde está a “linha de alvos” (o conjunto de carros usados para fazer treino de tiro com carros de combate) não há sequer muros a delimitar a zona, apenas placas com a indicação “zona militar”. É comum passarem habitantes de aldeias situadas à volta da base ao volante dos seus tratores. Quando querem fazer treino de tiro, os militares colocam camiões no perímetro para garantir que ninguém cruza o terreno nesses momentos.
As peças retiradas dos carros de combate da base militar foram depois vendidas ao sucateiro, que pagou cerca de 800 euros pelo material, mas que garante às autoridades não se recordar de quem lho vendeu. O material apreendido foi reconhecido ainda na sucata por um oficial do Exército. Pertence a um tanque de guerra M47 usado na carreira de tiro de Santa Margarida para treino dos militares. A GNR suspeita que na origem do furtos esteja um grupo de suspeitos já referenciado pelas autoridades por furto de metais não preciosos. Os suspeitos vivem perto da Base Militar e até já foram apanhados por furto de cobre. Na altura, o caso foi tratado com o maior secretismo e entregue à Polícia Judiciária Militar, que começou a investigar o caso, como confirmou ao Observador.
A apreensão do material militar aconteceu no final de abril. Cerca de dois meses depois, foi tornado público o desaparecimento de material de guerra de outra unidade militar ali próxima: o Paiol Nacional de Tancos. Entre o material de guerra desaparecido estavam granadas ofensivas e lança-granadas foguete LAW, agora recuperados também na Chamusca. O material foi encontrado esta quarta-feira depois de uma chamada anónima para o posto da GNR de Loulé. Também tratado com o máximo secretismo, foram militares do próprio Núcleo de Investigação Criminal daquele posto que se deslocaram à Chamusca com a PJ Militar para verificarem se estava, de facto, ali o material desaparecido. A GNR local não foi sequer informada.
[No mapa, vemos a localização do Paiol Nacional de Tancos (assinalado com um A), do Campo Militar de Santa Margarida (assinalado com um B) e da Chamusca (assinalada com um C), onde foi encontrado, em sítios e momentos diferentes, o material roubado das duas propriedades militares.]
Material de Tancos ia para Santa Margarida
O armamento está agora a ser analisado em Santa Margarida para concluir se corresponde, de facto, ao material que desapareceu. Ao Observador, uma fonte da PJ Militar não estabelece ligações entre os dois casos e diz, até, que a investigação ao desaparecimento de parte de um carro de combate está “parada”.
O responsável pela sucata negou ter tido qualquer apreensão de material militar naquelas instalações. Versão contrariada pelas autoridades. O Observador perguntou ao Ministério da Defesa como é possível entrar nas instalações militares de Santa Margarida para vários furtos e não ser detetado. Mas até agora não obteve qualquer resposta.
O Campo Militar de Santa Margarida assegura o apoio administrativo e logístico, e o apoio à formação e ao treino operacional das unidades militares implantadas na área de Santa Margarida. Já depois do desaparecimento do material de guerra de Tancos, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, anunciou um reforço das medidas de segurança (nomeadamente na videovigilância) do campo Militar de Santa Margarida. O objectivo seria receber aí o material agora armazenado em Tancos, que seria encerrado por causa das “dificuldades logísticas de garantir a segurança dos equipamentos”. O Ministério da Defesa também não respondeu se estes planos já estão em marcha.
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