Se recuarmos dez anos, já vimos este filme. Só mudam os nomes e as camisolas. Pelo menos, no seu início.

Em 2007/08, Stojkovic começou como titular na baliza do Sporting como substituto de Ricardo, que tinha sido vendido ao Betis. Depois lesionou-se. E houve problemas disciplinares, na altura mais ou menos “camuflados” pelos leões. Aproveitando uma paragem por causa das seleções, Paulo Bento lançou Rui Patrício. Que falhou com o Leixões (1-1). Que falhou com a U. Leiria (1-1). Mas que sempre teve o apoio do técnico, dos companheiros e até dos próprios adversários, cientes que tinham ali à frente um miúdo de apenas 19 anos e num posto específico. Depois de ter sido campeão europeu por Portugal no ano passado, foi considerado o 12.º melhor jogador do mundo de 2016 e ainda hoje se mantém como indiscutível do conjunto verde e branco e da Seleção.

Esta noite, Mile Svilar, um belga com pouco mais de 18 anos que se estreou há uns dias no Algarve pelo Benfica e como sénior, fez o primeiro jogo de sempre na Europa e tornou-se no mais novo a fazer uma partida da Champions, superando por dois meses o recorde que pertencia ao espanhol Casillas. Depois de um par de boas ações, teve um erro crasso de cálculo num livre de Rashford e entrou com a bola dentro da baliza. Assim ficou decidida a vitória do Manchester United na Luz. Mas nem por isso deixará de entrar nas contas futuras.

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No final do jogo, os próprios jogadores do red devils fizeram questão de consolar o inconsolável guardião, nomeadamente Matic, o ex-benfiquista que lhe deu as melhores referências para deixar o Anderlecht e mudar-se para os campeões nacionais. O mesmo cenário com os companheiros de equipa. E uma dose reforçada de apoio nas entrevistas rápidas, nas conferências e na zona mista após o final do encontro.

Podia ter feito melhor no golo, mas não posso voltar atrás agora. Estou mentalmente pronto para isto. Faz parte do crescimento. Não dá para voltar atrás. Tenho a confiança dos meus companheiros e agradeço-lhes por isso. Foi um erro meu, mas também faz parte e não vai afetar-me”, disse Svilar na flash interview após o encontro

“É um lance que acontece. Estamos na presença de um jovem que só há um mês e pouco ficou com idade para poder tirar a carta, mal tem pelos na cara… Agora, é alguém que tem mãos para isto. Tem potencial e dificilmente haverá na Europa alguém com a idade dele e com esta qualidade. Não sei se vai ser um guarda-redes de topo ou não, porque há várias situações que influenciam uma carreira, mas domingo vai jogar outra vez Jogou porque tinha qualidade e tem cumprido o que lhe tenho pedido. Tem evoluído, e no domingo vai jogar outra vez. Com 18 anos, teve um desempenho perante 60 mil pessoas e uma das melhores equipas da Europa que mais um guarda-redes de 30″, defendeu Rui Vitória no final da partida, quer na flash interview, quer na conferência.

O abraço de Matic ao amigo Svilar, a quem deu vários conselhos antes da mudança para a Luz (Laurence Griffiths/Getty Images)

“Dei-lhe os parabéns pela coragem e só um grande guarda-redes é que sofre este golo. Os guarda-redes que não são grandes não sofrem este golo porque não saem da baliza. Não gosto de guarda-redes que não saem da baliza e que quando a trave cai lhes parte a cabeça. Gosto deste miúdo porque sai da baliza e não tem medo. É um grande talento. É fera, vai ser um dos grandes guarda-redes”, destacou José Mourinho na flash interview.

O final da história de há dez anos é conhecida e teve sucesso, muito sucesso. Esta história, dependerá de Svilar. Mas a verdade é que, depois do erro de cálculo, todos fizeram questão de dizer que continuaria a entrar nas contas. No presente e, caso confirme todos os elogios, no futuro.