O Fundo Monetário Internacional (FMI) considera necessário vigiar de perto os riscos crescentes no mercado da habitação em Portugal. No relatório sobre Portugal divulgado esta sexta-feira, o Fundo reconhece que o Banco de Portugal anunciou recentemente medidas para travar eventuais perigos no crescimento do crédito à habitação.

Defende por isso que as autoridades macroprudenciais, o Banco de Portugal, devem permanecer vigilantes e estar prontas para adotar medidas adicionais para prevenir a acumulação de desequilíbrios e para reforçar a resistência de bancos e devedores.

Banco de Portugal quer bancos mais exigentes na hora de emprestar

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E que medidas? O Fundo aponta no sentido de alargar a cobertura e aumentar a qualidade dos dados sobre o mercado imobiliário, bem como reforçar as ferramentas analíticas. Também pede mais atenção aos critérios de atribuição de novos empréstimos, o que foi feito pelo Banco de Portugal, mas para já apenas através de recomendações.

O Fundo alerta para a travagem na redução da carteira de dívidas bancárias das famílias, depois de uma queda de 20% entre 2011 e 2016. A percentagem de dívida das famílias face ao rendimento disponível caiu mais 3% até setembro do ano passado, mas “continua acima da média europeia”. Para o menor ritmo de redução da dívida, contribuem sobretudo as novas operações de crédito ao consumo, mas também para a compra de casa. O fluxo de novos créditos à habitação está a crescer, apesar do stock de crédito hipotecário ter caído. No caso do consumo, o crédito concedido subiu 6,4%.

A acompanhar o regresso do crédito à habitação, está a subida do preço das casas que foi de 20% em termos reais desde 2013, muito acima da média de 7% na zona euro, tendo atingido o nível de 2009. Ainda que o Fundo registe que uma parte desta valorização está ligada às compras feitas por não residentes, destaca também uma subida do peso de habitações compradas com recurso a crédito bancário, que foi de 45% no segundo trimestre de 2017.

E por falar em estrangeiros, o Fundo Monetário Internacional deixa ainda um alerta para a dependência da economia e do crescimento do turismo, quando aponta os principais riscos externos à economia portuguesa.

“A dependência do turismo deixa Portugal vulnerável a choque externos. O setor do turismo beneficiou de desenvolvimentos geopolíticos que aumentaram a atratividade de Portugal em relação a destinos concorrentes (nomeadamente países afetados por terrorismo ou instabilidade política e social).

Em termos gerais, um abrandamento no crescimento dos parceiros comerciais (especialmente em Espanha — onde existe uma incógnita chamada Catalunha) pode afetar Portugal. Condições financeiras mais apertadas, incluindo a desativação do programa de estímulos do Banco Central Europeu e da Fed (Estados Unidos), podem também afetar o crescimento, através dos seus efeitos na procura externa e doméstica. Os efeitos internos seriam ampliados pelo elevado nível de dívida que atravessa a economia”.