A crescente mobilidade das pessoas em todo o mundo torna-se um fator favorável à dispersão das doenças. A eliminação de algumas delas, como a malária, no local de origem do surto é prioritária para a Organização Mundial de Saúde (OMS) por se mostrar mais eficaz do que a contenção da doença. Um estudo britânico realizado na Namíbia aproveitou a mobilidade das pessoas com telemóveis para identificar os locais onde deveriam incidir os planos de eliminação.
“Compreender o movimento das pessoas é essencial para eliminar a malária. Temos de agir com as medidas certas nos locais certos”, divulgou quarta-feira, em comunicado de imprensa, o coordenador da investigação e geógrafo na Universidade de Southampton, Andrew Tatem. “O nosso estudo demontrou que a proliferação global de telemóveis dá a oportunidade de estudar o movimento das pessoas”, afirmou. A combinação destes dados com a localização dos casos de malária e com dados de topografia e clima permitiu aos investigadores identificar quais os melhores sítios onde intervir.
No caso da Namíbia, o estudo identificou três regiões no norte do país, na fronteira com Angola, como pontos quentes para intervenções de erradicação da doença. Estes casos podem até estar relacionados com casos importados do país vizinho.
A malária é um dos maiores flagelos do século XXI, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. A OMS estima que 3,4 mil milhões de pessoas estejam em risco de apanhar a doença, sendo grande parte delas crianças com menos de cinco anos. A organização estima ainda que em 2012 tenha morrido uma criança com menos de cinco anos a cada minuto, refletindo-se num total de cerca de 480 mil.
Apesar de entre 2000 e 2012 o número de mortos devido à malária ter diminuido 42%, segundo o Relatório Mundial da Malária em 2013, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, modera as felicitações: “O número absoluto de casos de malária e mortes relacionadas não estão a diminuir tão depressa como deviam”.
Centrando o estudo na Namíbia, na África sub-sariana (a área mais afetada pela doença), a equipa de Andrey Tatem recolheu e mapeou nove mil milhões de comunicações de mais de um milhão de subscritores – cerca de metade da população do país. As novas tecnologias permitiram assim ultrapassar as dificuldades com a quantificação e descrição das movimentações humanas que estudos anteriores enfrentavam.
“A importância dos casos de malária que vêm de fora do país serão sempre um foco importante nos programas de controlo das doenças, mas os movimentos da doença dentro do país também é de extrema importância”, refere Andrew Totem, mostrando que este método permite identificar locais-alvo com maior eficiência.
Apesar da abrangência do trabalho desenvolvido e da validação das áreas por cruzamento com outros dados, os investigadores admitem que devido à ausência de uma cobertura mais alargada de telemóveis podem ter algumas áreas com falta de dados. Uma identificação sistemática das infeções poderia ser utilizada em conjunto com os mapas das movimentações fornecendo informação complementar sobre áreas a intervir. De qualquer forma, os dados, publicados esta quarta-feira na revista científica Malaria Journal, permitem já perceber que há parcerias que podem ser feitas com os países vizinhos no controlo da doença.