O passado é tão sedutor que não resistimos: moedinha na máquina do tempo, sim? Aqui vamos nós para 1990… Bem-vindo, estamos na final do Campeonato do Mundo de Itália. Argentina e Alemanha reeditavam a final de 1986, a tal que sorrira aos sul-americanos (3-2). Os jogadores estavam alinhados para mais uma batalha que se adivinhava épica. Era tempo de ouvir os hinos, apelar ao patriotismo e engrandecer o coração. A pele de galinha teria os seus minutos de fama.

“¡Oíd, mortales!, el grito sagrado: ¡Libertad!, ¡Libertad!, ¡Libertad!”… Assim que começou o hino argentino, os italianos, que haviam sido eliminados nos penáltis pelos argentinos nas “meias”, foram implacáveis: assobiadela monumental. Se em Nápoles tiveram algum apoio de fanáticos por Maradona, agora no Olímpico de Roma conheciam o calor do ódio.

Os guerreiros vestidos de azul mantiveram a compostura, como a banda que estava a poucos metros deles. A imagem da TV começou então a mostrar a face dos soldados das pampas, um a um. Estavam todos a cantar, imunes ao ambiente ameaçador, que dignificava pouco o futebol. No final do corajoso pelotão estava o general, um tal de Diego Armando Maradona, de braçadeira e braços ao longo do corpo. Mas ele não estava a cantar, não senhor. Ou então o hino da Argentina mudara por instantes para “hijos de p…! hijos de p…!”.

Se as coisas começaram mal, acabaram muito pior. Mas a frase de Maradona não mudaria. O jogo foi durinho e os sul-americanos, que contavam com quatro jogadores suspensos para aquela partida, acabariam com nove em campo, depois de uma expulsão e lesão. Será que podia piorar? Podia, sim senhor. Edgardo Codesal, o árbitro mexicano, decidiu inventar um penálti depois de uma suposta falta de Sensini sobre Rudi Völler quando faltavam seis minutos para o relógio descansar no minuto 90.

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Os argentinos ficaram fora de si. Sergio Goycochea, o guarda-redes argentino, admitiu mais tarde numa entrevista para a FIFA TV que sabia para onde ia bater Brehme. E até adivinhou, mas o alemão bateu bem: foi muito puxada e forte. Um-zero. O marcador não voltaria a mexer, os alemães seriam campeões pela terceira vez, depois de 1954 e 1974. Diego Maradona acabou em lágrimas, com a tal frase imprópria para escrever aqui. Goycochea contou ainda na mesma entrevista que ainda há argentinos que se aproximam dele para lhe agradecer a vitória no Campeonato do Mundo de 1990. “Eu tenho de lhes lembrar que não é verdade, que acabámos em segundo…”

Esta nossa história é uma espécie de profecia. Arriscada, sim. Mas é muito provável que Messi e companhia sejam brindados com o mesmo tipo de tratamento por parte do povo brasileiro no Maracanã. O craque argentino sonha em seguir as pisadas de Maradona, que brilhou e levantou o caneco no México-86. A lenda até deixou uma mensagem para o canhoto do Barça num programa televisivo. “Parte-a [à Alemanha]. Parte-a (gargalhada). Diria que domingo é o teu jogo. Vais ser o líder da equipa, vais marcar dois golos e vais levantar a taça no Maracanã. (…) Antes dizia Mascherano mais dez, agora digo Mascherano, Messi e mais nove.”

Di Maria e Agüero deverão estar de regresso, o que deverá empurrar Enzo Pérez para o banco. Ou então Sabella aprendeu a lição e percebeu a importância do médio na hora de pressionar e atacar. Veremos… A Alemanha surge na máxima força e, depois daquela goleada histórica sobre o Brasil, é a grande favorita. Mais uma vez é arrojado da nossa parte, mas é inevitável. Resta a Messi mudar o destino desta história…

Uma curiosidade: esta final junta as duas seleções com mais cartões amarelos na história dos Campeonatos do Mundo: 117. A seguir chega o Brasil (106) e Holanda (100), curiosamente as duas equipas que disputaram o terceiro e quarto lugares, que acabou por sorrir à Laranja (3-0).