Angola vai superar a Nigéria e tornar-se o maior produtor africano de petróleo a partir de 2016 e até ao princípio da próxima década, prevê a Agência Internacional de Energia (EIA) num relatório sobre a energia em África.

“A Nigéria tem, de longe, a maior base petrolífera na África subsariana, mas um indicador fundamental do estado do setor petrolífero nesse país é que, desde 2016 até ao princípio da década de 2020, nas nossas projeções, a Nigéria perde para Angola o lugar de maior produtor de crude”, lê-se no relatório ‘Africa Energy Outlook’, divulgado em Paris.

No documento, o primeiro que analisa em profundidade o setor da energia na África subsariana, explica-se que à medida que se aproxima o final do limite das previsões (2040), a Nigéria retoma o primeiro lugar na lista da produção de crude, “aproximando-se dos 2,2 milhões de barris por dia e o total da produção, alimentada pelo gás natural, chega aos três milhões de barris por dia”.

O relatório da EIA surge poucos dias depois de o Governo angolano ter adiado a meta de produção de dois milhões de barris diários de 2015 para 2017, devido aos atrasos na exploração e aos problemas técnicos que alguns poços enfrentam, bem como as dificuldades na concretização da exploração de gás natural, seguindo as análises da generalidade das consultoras internacionais.

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O tom sobre Angola, no entanto, mantém-se positivo para a EIA, que dedica mesmo um capítulo inteiro do relatório a explicar que a Nigéria é ultrapassada pelo país lusófono não devido à falta de petróleo, mas sim devido à falta de organização, instabilidade política, roubos de petróleo, dificuldades no controlo de grupos armados e aos adiamentos sucessivos da nova lei do petróleo, que estão a impedir a concretização de investimentos no valor de 25 mil milhões de dólares, segundo as contas da EIA.

“Os sinais desta ultrapassagem de Angola à Nigéria estão presentes há algum tempo”, lê-se no relatório, que exemplifica que “apesar de Angola ter passado por algum abrandamento nos novos projetos desde a degradação das condições fiscais em 2006, o equivalente à produção de mais de 1,3 milhões de barris por dia deve estar disponível entre 2014 e 2020, comparado com 900 mil na Nigéria”.

A importância dada a estes dois países no relatório é proporcional à sua relevância nos valores globais da produção petrolífera no continente: “enquanto região, a África subsariana é um exportador de petróleo significativo, ficando atrás apenas do Médio Oriente e da Rússia”.

Dos pouco mais de cinco milhões de barris diários, a quase totalidade vem da Nigéria (2,3 milhões em 2013) e de Angola (1,8 no ano passado), sendo que os próximos no ‘ranking’ – Congo, Guiné Equatorial e Gabão – produzem entre 200 a 270 mil barris por dia.

O destino das exportações deste petróleo, lê-se no relatório, tem conhecido uma mudança significativa e acelerada: os Estados Unidos têm diminuído as suas compras, substituindo o petróleo pelo aumento na produção de gás de xisto, e a Europa aumentou as compras devido aos problemas de fornecimento na Líbia e ao declínio da produção interna.

No caso de Angola, menos afetada pelos cortes nas compras norte-americanas, a grande mudança tem sido a China e o aumento da sua capacidade de refinação interna, “que se provou particularmente importante para Angola, cujas exportações para a China representam quase metade do total da produção de crude”.

No total, a produção de petróleo na África subsariana duplicou desde 1990, atingindo os 6,2 milhões de barris por dia em 2011, mas decaiu para 5,7 milhões por dia em 2013, segundo o relatório, que nota ainda que Nigéria e Angola representam 75% do total da produção.