Era uma vez um guerreiro amado pelo povo, que era alvo de desconfiança do comandante. Talvez não tivesse um estilo e irreverência apropriados para o campo de batalha. O povo, encantado e despreocupado com questões maiores, encolhia os ombros e exigia a presença do homem que lhes dava esperanças para um amanhã melhor. Um dia terá a oportunidade para a redenção, acreditavam. E ele, de orgulho ferido, também.
Foi isto que aconteceu esta terça-feira, quando Ricardo Quaresma saltou do banco para resolver contra o Athletic Bilbao (2-1) e garantir a liderança do Grupo H. Na hora da festa, a camisola descolou do corpo, ameaçando rasgar, tal a violência transferida para os músculos dos braços, como um dragão que não esqueceu a arte de rugir. O senhor das trivelas não marcava na Liga dos Campeões desde 11 de dezembro de 2007, quando marcou no 2-0 ao Besiktas.
A derrota caseira contra o Sporting para a Taça de Portugal (1-3) pedia uma resposta à altura. Nestes casos, o Estádio do Dragão não é para brincadeiras. E foi isso que se viu (no arranque da partida). Casemiro era até quem estava mais versão guerreiro, com carrinhos eficazes e com o pé rijinho. A apatia fugiu do corpo do brasileiro. Do outro lado estava uma equipa frágil, magoada, destruída, que não vence desde 4 de setembro (3-0 vs. Balmaseda).
Um texto do El País sobre este jogo deixava um diagnóstico curioso da equipa basca. “O Porto mede esta quarta-feira o estado dos defesas rojiblancos, o nível imunológico para vencer o vírus da tristeza e da infeção da auto-estima. Como explica o manual de auto-ajuda, o jogo seguinte é o momento idóneo para vencer a depressão”. O drama do surto de Ébola está definitivamente a entranhar-se na narrativa do povo espanhol. Agora até no desporto…
Os cerca de três mil bascos faziam-se ouvir no início, mas a entrada forte dos dragões rapidamente mudaria esse cenário. Ironicamente, Casemiro e Indi foram os primeiros protagonistas no ataque da equipa da casa. Belo arranque do FC Porto: havia atitude, calções sujos, carrinhos, dentes cerrados e olhares comprometidos. Até aos dez minutos a equipa de Valverde nem sabia para onde se virar. Não construía um ataque, nem sabia como trocar a bola três, quatro vezes. Algo que mudaria à passagem do minuto 20: a cabeça aprendeu a levantar e os olhos já procuravam qual o melhor (e mais rápido) caminho para a fortaleza de Fabiano.
#FCPxATH: O Athletic é a 6ª equipa espanhola a defrontar o FCP na #UCL. #playmaker #champions
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“Jogamos contra um grande e não temos segredos, porque no futebol não há segredos”, assegurou Valverde na véspera. E se uns eram grandes, e mostravam-no, os outros, os espanhóis, davam conta da tal depressão com quem têm andado de mão dada. O tema da rotatividade de Lopetegui também já chegou a Espanha. “Isso é uma vantagem para eles, poder mudar meia equipa e o coletivo não se ressentir.” Mas este assunto já tem barbas, e os génios da rotatividade têm de saber viver com aquela linha ténue entre o sucesso e o fracasso, que os deixará entre o céu e o inferno.
Susaeta, um médio com muita classe, era quem dava mais nas vistas do lado dos rivais. Aos 25′, San José chutou, de longe, ao poste do guarda-redes portista. Ficava o aviso muito sério dos visitantes. Na resposta, Jackson surgiu isolado, cara a cara com Iraizoz, mas sofreu um encosto e caiu. O Dragão inteiro pediu penálti, mas Damir Skomina não foi na cantiga. Poucos minutos depois, Jackson voltou a ter uma oportunidade, depois de uma bela jogada de Tello, que deixou os olhos trocados ao defesa basco. Mas o avançado colombiano não estava naqueles dias, percebia-se bem.
Os últimos 15 minutos do primeiro tempo foram mais lentos, mais disputados a meio-campo. Tello ia dando nas vistas. Sim, perde muitas vezes a bola, mas é este o estilo deste jogador: velocidade, risco e verticalidade. Apetece lembrar uma passagem do livro sobre o primeiro ano de Pep Guardiola em Munique (“Herr Pep”), no qual é relatada uma conversa com a selecionadora sub-19 do Azerbaijão, Patricia González. “Dou-te um conselho”, disse o catalão. “Põe sempre os melhores. Sempre”. A jovem espanhola perguntou quem era os melhores. Seriam os mais famosos? “Não, os bons de verdade são os que nunca perdem a bola”. Talvez Brahimi encaixe melhor nesta filosofia.
Quando já se piscava o olho ao intervalo, o FC Porto chegou ao golo. Quintero, o canhoto que assinava a primeira titularidade na Europa, começou a jogada e tabelou com Tello. O colombiano encontrou depois Herrera na área, que chutou de primeira, colocado. Belo golo. O Dragão festejava efusivamente e respirava-se de alívio. Até se viam alguns adeptos que gesticulavam como quem diz “assim está bem”. Intervalo.
#FCPxATH: Em 20 jogos na #UCL, o FCP só não venceu 4 dos 20 jogos em que saiu em vantagem ao intervalo. #playmaker #champions
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Beñat, um basco talentoso que deu nas vistas no Bétis (e que não tem muita pinta de jogador), entrou ao intervalo e tardou pouco para agitar as coisas — bom remate e ganhou canto. Quintero respondeu, à bomba. O jovem criativo estava bem na partida, a mostrar que tem de ser levado muito, muito a sério. Começou animada a segunda parte. Depois foi a vez de Fabiano brilhar: Guillermo surgiu isolado, pelo lado direito, já dentro da área e viu a baliza tapada pelo gigante brasileiro.
Mas o balde de água fria chegaria aos 58′. Casemiro e Herrera fizeram asneira no começo de uma jogada e Guillermo aproveitou para fugir à defesa do FC Porto, driblou Maicon como se nada fosse e colocou com categoria. A equipa de Lopetegui voltava a dar tiros nos pés. Os adeptos bascos voltaram a acordar.
#FCPxATH: O FCP não sofria golos em casa nas provas europeias há 4 jogos. #playmaker #champions
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Logo a seguir, o treinador espanhol do FC Porto trocou um dos melhores, Quintero, por Rúben Neves. Aos 69, o Dragão viu um desejo realizado: Ricardo Quaresma no relvado. O génio das trivelas, que realizava o 40.º jogo na Liga dos Campeões, entrou para fazer o que mais gosta: resolver e ser o herói do povo. E bastaram cinco minutos. O número 7 recebeu a bola na esquerda e apostou numa diagonal, desviando de quem se colocava no caminho. Depois, rematou. E marcou. Os festejos demonstravam bem a tensão em que vive nos últimos tempos, qual guerreiro ferido, no orgulho e no corpo. A camisola quase se rasgou, tal a violência da felicidade. As crianças, mulheres e homens que vestiam de azul e branco voltavam a ser felizes na própria casa.
#FCPxATH: Quaresma realiza o seu jogo 40 na #UCL. Dos que estão em campo, é o mais experiente. #playmaker #champions
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#FCPxATH: 5º golo de Quaresma na #UCL. Não marcava na prova desde dezembro de 2007. #playmaker #champions
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Até final pouco mais houve a registar, a não ser a entrada de Óliver Torres e mais um golo falhado de Jackson Martínez, que teve uma noite infeliz. Mais três pontos para o FC Porto, que, apesar de estar a tremer a nível interno, continua muito bem na Europa. Liderança do Grupo H para os portugueses, com sete pontos, depois de duas vitórias e um empate — 6-0 vs. BATE; 2-2 vs. Shakthar. A angustia do Athletic, essa, continua…