A promessa de Mario Draghi, em julho de 2012, de “fazer o que for necessário, dentro do mandato” para salvar o euro acalmou os mercados. Graças a essa posição assumida pelo Banco Central Europeu, a agência de “rating” Standard & Poor’s (S&P) diz que o pior já terá passado na crise do euro. Mas, apesar de as taxas de juro da dívida estarem em mínimos históricos, a S&P não está convencida de que a crise tenha terminado e alerta contra a “complacência” de alguns governos europeus.

Com as taxas de juro da dívida de longo prazo dos países a caírem para mínimos históricos, alguns governos estão a adiar a realização de reformas que são necessárias mas politicamente impopulares“, afirma o analista Moritz Kraemer da agência de “rating” a que o Observador teve acesso. Estas reformas, defende o analista, são “necessárias” porque “melhoram o potencial de crescimento de longo prazo das economias”.

O analista lamenta que a maior acalmia nos mercados e os juros baixos a que os Estados estão a conseguir financiar-se tenham “dado origem a alguma complacência de políticas”. O analista não refere países específicos, mas esta poderá ser uma crítica a países como Itália, liderada por Matteo Renzi (na foto), e França. Ambos os países estão a desafiar as instruções dadas por Bruxelas relativamente à redução do défice orçamental. A S&P cortou a 10 de outubro a perspetiva do “rating” de França para “negativa”.

Esse “sentido de calma e de ‘missão-cumprida’ manifestado por alguns responsáveis políticos” está, no entanto, a ser “perturbado pelos riscos de que a zona euro volte a cair em recessão económica“, afirma a agência de “rating”. Algo que, a confirmar-se, seria uma terceira queda consecutiva em recessão em poucos anos. A zona euro vive um “período de crescimento teimosamente baixo”, diagnostica a S&P. Isto numa altura em que os governos, bancos, empresas e famílias continuam a reduzir os níveis de endividamento num contexto de baixo crescimento económico.

“Só depois de os níveis de dívida pública e privada regressarem a níveis adequados é que as taxas de poupança poderão moderar-se e a procura e o crescimento regressarem”, antecipa a agência de “rating” norte-americana. Moritz Kraemer conclui dizendo que “a forma como os governos reagirem à volatilidade atual [nos mercados] e ao abrandamento da economia será determinante para a direção futura da zona euro”.

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