A descoberta, em 1953, da estrutura em dupla hélice do DNA valeu a James Watson, em 1962, um Prémio Nobel, que recebeu em conjunto com Francis Crick e Maurice Wilkins. O livro que escreveu em 1968, A Dupla Hélice, um relato autobiográfico sobre a sua descoberta, é tido como uma das obras científicas mais marcantes do século XX e ajudou a mudar a perceção do público sobre o trabalho dos cientistas.
Mas este passado não impediu que James Watson fosse violentamente criticado e obrigado a demitir-se de vários cargos quando, em 2007, disse numa entrevista ao inglês Sunday Times que estava pessimista quanto ao futuro dos povos de África “pois as nossas políticas baseiam-se na ideia de que a sua inteligência é igual à nossa, quando todos os testes mostram que não é”.
Não foi a primeira controvérsia em que se envolveu, pois nunca foi uma pessoa que calasse as suas ideias. E se na década de 1960 foi dos primeiros professores de Harvard a manifestar-se contra a guerra no Vietname, mais recentemente comentou (também em 2007), que “se virou contra os esquerdistas, pois eles não gostam de genética, sobretudo quando a genética mostra que às vezes as pessoas falham porque têm genes maus. Esses esquerdistas acham que todos os que falham na vida são apenas vítimas de um sistema errado”.
Ao mesmo tempo que se envolvia nestas discussões, James Watson dava o exemplo: sempre em 2007, foi a segunda pessoa em todo o mundo a publicar online o seu próprio genoma. Nesse mesmo ano seria também convidado para presidir ao Conselho Científico da Fundação Champalimaud, cargo que ainda hoje ocupa.
Mesmo assim o velho biólogo sente, como disse ao Financial Times, que se tornou uma “não pessoa”. “Ninguém quer admitir que eu existo”, acrescentou, referindo que isso acontece desde que disse acreditar nos testes de inteligência. Mais: ao ter de abandonar alguns dos lugares que ocupava, nomeadamente no Cold Spring Harbor Laboratory em Long Island, New York, depois das suas declarações politicamente incorretas, Watson viu o seu rendimento diminuir. Vender a medalha do Nobel tornou-se assim uma opção.
De acordo com a Christie’s, trata-se da primeira vez que alguém que recebeu o Nobel e ainda está vivo vende a medalha de ouro que acompanha o prémio. Já houve leilões de outras medalhas do Nobel, mas realizados a favor de herdeiros.
No caso da medalha de James Watson, o preço de partida será de 2,5 milhões de dólares (sensivelmente dois milhões de euros), esperando a leiloeira que o preço suba até aos 3,5 milhões. O Financial Times também informa que existe muita procura por memorabilia relacionada com a investigação genética e que em 2013 a medalha ganha por Francis Crick foi vendida, nove anos depois da sua morte, por 2,3 milhões de dólares. E o preço de reserva para o manuscrito original do livro A Dupla Hélice está nos 10 milhões.
Quanto a James Watson, já tem planos para o que fazer com o dinheiro que receber da venda da medalha. Primeiro, fazer algumas doações a instituições onde estudou e investigou, como a Universidade de Chicago. Depois, comprar um quadro de David Hockney.