No seu novo filme, a superprodução bíblica “Exodus: Deuses e Reis”, já em exibição em Portugal, Ridley Scott fez levantar em Espanha um dos maiores estaleiros de rodagem da história do cinema, e armou-se com os melhores efeitos especiais e o 3D que um orçamento de 150 milhões de dólares (tudo para mais, nada para menos) pode comprar, para tentar emular Cecil B. DeMille e voltar a contar a história da fuga dos judeus do Egipto, liderados por Moisés (Christian Bale).
“Trailer” de “Exodus: Deuses e Reis”
Como se costuma dizer no desporto, foi um bom esforço, sobretudo no que respeita ao aparato visual e à minuciosa verosimilhança da reconstituição de época – Scott é um exímio construtor e recriador de mundos, imaginários ou não, veja-se “Blade Runner”, “A Lenda da Floresta” ou “Gladiador”. Mas o filme tem pés de chumbo, um elenco maioritariamente canastrão e é uma maçada pomposa e interminável, mais um manipanso do género, onde DeMille continua a ser rei e senhor absoluto.
Por falar nele, a estreia de “Exodus: Deuses e Monstros” e a imponente sombra que “Os Dez Mandamentos” continua a lançar sobre o filme de temática bíblico-religiosa são um bom pretexto para recordar as mais destacadas representações da figura de Moisés no cinema, inclusivamente na comédia.
1. “Os Dez Mandamentos” (Cecil B. DeMille, 1923)
À época, o “set” representando o antigo Egipto erguido por Cecil B. DeMille para rodar esta primeira versão muda de “Os Dez Mandamentos”, foi o maior jamais construído em Hollywood, maior ainda do que o da Babilónia de “Intolerância”, de D.W. Griffith. Lá trabalharam cerca de duas mil pessoas só no departamento de construção. Moisés é interpretado por um actor hoje esquecido, Theodore Roberts, um dos favoritos do realizador. O filme, onde DeMille concilia o seu sentido único de espectacularidade com o seu contumaz moralismo didáctico, passa-se em dois tempos, no Egipto bíblico e nos EUA do século XX.
Excerto de “Os Dez Mandamentos” , versão muda
2. “Os Dez Mandamentos” (Cecil B. DeMille, 1956)
A última realização de Cecil B. DeMille foi esta renovada e esmagadora versão do seu filme mudo de 1923, com um portentoso Charlton Heston a fazer de Moisés e agora sem a parte ambientada na idade moderna. Parcialmente rodado no Egipto, “Os Dez Mandamentos” tornar-se-ia na fita de temática religiosa mais lucrativa de sempre até à estreia de “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, em 2004. Então já com 75 anos, DeMille teve um ataque cardíaco durante a filmagem da sequência do êxodo no deserto egípcio, mas, contra o conselho dos médicos, ficou a descansar durante dois dias no Cairo e depois regressou ao “set” para retomar os trabalhos.
http://youtu.be/hKEp7WYrMmY
“Trailer” de “Os Dez Mandamentos”, versão sonora
3. “Moisés, o Profeta” (Gianfranco De Bosio, 1974)
Esta é uma típica co-produção europeia dos anos 70 com uma estrela americana no papel principal, no caso Burt Lancaster. “Moisés, o Profeta” foi originalmente rodada para televisão como mini-série, mas tem uma versão mais curta destinada ao cinema, o que justifica a sua inclusão nesta lista. As filmagens decorreram no Egipto e em Israel e um dos argumentistas foi o escritor inglês Anthony Burgess, o autor de “A Laranja Mecânica”, que era também um católico tradicionalista. A música foi composta por Ennio Morricone e, acompanhando Lancaster, encontramos nomes como Anthony Quayle, Ingrid Thulin ou Irene Papas.
http://youtu.be/iLL2ld71OSc
Excerto de “Moisés, o Profeta”
4. “Santíssimo Moisés” (Gary Weis, 1980)
Nem Moisés escapou a ser gozado numa comédia, como se prova em “Santíssimo Moisés”, segundo o qual o verdadeiro responsável pelo êxodo dos judeus do Egipto foi um tal de Herschel (Dudley Moore). Só que Moisés roubou-lhe todo o protagonismo e o nome de Herschel ficou esquecido para a posteridade. Esta paródia bíblica surgiu na senda do sucesso obtido por “A Vida de Brian”, dos Monty Python, em 1979, mas ficou muito aquém deste em todos os aspectos. O elenco de “Santíssimo Moisés” inclui vários “habitués” dos filmes de Mel Brooks, caso de Dom DeLuise ou Madeline Khan.
“Trailer” de “Santíssimo Moisés”
5. “Uma Louca História do Mundo” (Mel Brooks, 1981)
Por falar em Mel Brooks, uma das poucas sequências mais conseguidas da seu ambiciosa comédia satírica “Uma Louca História do Mundo” é aquela em que o realizador e actor interpreta Moisés, ao qual Deus entrega três tábuas com… 15 Mandamentos. Só que antes de chegar ao acampamento dos judeus, Moisés deixa cair uma das tábuas, que se parte, sobrando apenas dez dos preceitos ditados pelo Todo-Poderoso. E é claro que o profeta não diz nada a ninguém sobre o seu percalço. Magrinho em gargalhadas, o filme passa em revista a história da humanidade, desde os tempos pré-históricos até à Revolução Francesa.
http://youtu.be/4TAtRCJIqnk
Excerto de “Uma Louca História do Mundo”
6. “O Príncipe do Egipto” (Brenda Chapman, Steve Hickner, Simon Wells, 1998)
Em 1998, a DreamWorks tinha ainda poucos anos de vida, mas o seu departamento de animação começava já a tentar disputar o mercado com a Disney/Pixar. “O Príncipe do Egipto” foi a primeira longa-metragem de animação do estúdio, um projecto que Jeffrey Katzenberg tinha proposto à Disney quando ainda lá estava, e que tinha sido recusado. Val Kilmer faz a voz de Moisés e também a de Deus, enquanto que a do faraó Ramsés é interpretada por Ralph Fiennes. A DreamWorks investiu pesadamente no filme e teve bom retorno comercial e crítico, ganhando ainda o Óscar de Melhor Canção.
“Trailer” de “O Príncipe do Egipto”