Diziam os entendidos que domingo era noite B, de “Birdman” ou de “Boyhood”. Contas feitas, a 87.ª cerimónia dos Óscares sorriu ao filme realizado pelo mexicano Alejandro González Iñárritu, que venceu quatro estatuetas, entre os quais a de Melhor Filme e Melhor Realizador. Patricia Arquette salvou a noite a “Boyhood”, ao vencer na categoria de Melhor Atriz Secundária. “Sniper Americano”, com seis nomeações e o maior orçamento de todos, conquistou apenas um Óscar menor, o de Melhor Edição de Som.

“Birdman” era a par com “Grand Budapest Hotel” o campeão das nomeações, com nove ao todo. A história de uma estrela de Hollywood (Michael Keaton) que tenta fazer carreira na Broadway punha o filme no topo das preferências, ou não gostasse a indústria de olhar para si mesma. A confirmação chegou na madrugada desta segunda-feira pelas mãos de Sean Penn, convidado a entregar a Iñárritu o Óscar mais desejado da noite. “As pessoas por trás disto são heroínas porque a ideia era mesmo maluca”, disse, já com a estatueta na mão.

Minutos antes Iñárritu tinha subido ao palco para recolher o Óscar de Melhor Realizador, deixando novamente Richard Linklater (“Boyhood”) para trás, mas também Wes Anderson (“Grand Budapest Hotel”), Morten Tyldum (“O Jogo da Imitação”) e Bennett Miller (“Foxcatcher”). Em 2007, Iñárritu foi o primeiro mexicano nomeado ao Óscar de melhor realizador, por “Babel”, mas na altura perdeu para Martin Scorsese. No ano passado, o colega e amigo Alfonso Cuarón vingou o México, ao tornar-se no primeiro realizador mexicano a ganhar a estatueta dourada, por “Gravidade”. Este ano, o Óscar voltou a ser do México.

Director Alejandro Gonzalez Inarritu, winner for the Best Picture award for "Birdman" poses in the press room during the 87th Oscars on February 22, 2015 in Hollywood, California. AFP PHOTO / FREDERIC J. BROWN        (Photo credit should read FREDERIC J. BROWN/AFP/Getty Images)

Iñárritu viu “Birdman” conquistar quatro Óscares. ©AFP/Getty Images

“Boyhood”, odisseia cinematográfica filmada ao longo de 12 anos, levou uma das grandes derrotas da noite. Das seis nomeações, o projeto independente de Richard Linklater que se fartou de ganhar prémios, incluindo um Globo de Ouro e um BAFTA para Melhor Filme, só arrecadou o Óscar de Melhor Atriz Secundária para Patricia Arquette. Meryl Streep também estava nomeada (pela 19.ª vez). Keira Knightley, Emma Stone e Laura Dern eram as restantes nomeadas.

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Se o número de menções no Twitter desse Óscares, Benedict Cumberbatch levava para casa o de Melhor Ator. De acordo com dados revelados pela rede de microblogging, o protagonista de “O Jogo da Imitação” foi mais falado do que os ‘adversários’ Bradley Cooper, Michael Keaton, Eddie Redmayne e Steve Carell. Mas foi o britânico Eddie Redmayne quem subiu ao palco para receber a estatueta dourada pela interpretação de Stephen Hawking em “A Teoria de Tudo”. Curiosidade: Cumberbatch também interpretou Stephen Hawking em 2004, no filme da BBC “Hawking”.

Numa cerimónia previsível, Julianne Moore tinha reunidas, na sua quinta nomeação aos Óscares, praticamente todas as preferências na categoria de Melhor Atriz. E assim foi. A ruiva de 54 anos conquistou a estatueta dourada pelo papel em “O Meu Nome é Alice”, batendo Felicity Jones (“A Teoria de Tudo”), Rosamund Pike (“Em Parte Incerta”), Reese Witherspoon (“Livre”) e Marion Cotillard (“Dois Dias, Uma Noite”), as restantes nomeadas.

HOLLYWOOD, CA - FEBRUARY 22:  Host Neil Patrick Harris and Anna Kendrick perform onstage during the 87th Annual Academy Awards at Dolby Theatre on February 22, 2015 in Hollywood, California.  (Photo by Kevin Winter/Getty Images)

Neil Patrick Harris e Anna Kendrick protagonizaram um momento musical

Uma noite muito pouco legen… wait for it… dary

Neil Patrick Harris foi o escolhido para suceder a Ellen DeGeneres, que na cerimónia do ano passado tirou a selfie mais popular de sempre no Twitter. Mal entrou em palco, o eterno Barney Stinson de “Foi Assim que Aconteceu” fez logo uma piada pouco politicamente correta, a de que os Óscares vão premiar “the best and the whitest – sorry – brightest” (os melhores e os mais brancos). Uma referência aos protestos pela falta de nomeados negros.

Mas tirando o momento em que Neil Patrick Harris ficou de cuecas brancas para recriar uma cena de Michael Keaton no filme “Birdman” (com uma pequena incursão por “Whiplash”), tudo o resto foi muito apagado. O anfitrião bem tentou, mas o público pouco reagiu. Numa das piadas que teve Oprah Winfrey como alvo – comparando a riqueza da apresentadora ao orçamento de “Sniper Americano” – Oprah não pareceu achar piada.

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Falando em “Whiplash”, o filme de Damien Chazelle partiu com cinco nomeações e acabou com três estatuetas no currículo, entre as quais a de Melhor Ator Secundário para J.K. Simmons, pelo impiedoso papel de professor Terence Fletcher.

E se “Birdman” começou a cerimónia empatado com “Grand Budapest Hotel” na liderança das nomeações, terminou da mesma maneira, ambos com quatro estatuetas. O filme de Wes Anderson venceu em Melhor Guarda-Roupa, Melhor Caraterização (Milena Canonero, responsável pelo guarda-roupa, levou a sua quarta estatueta dourada) e Melhor Direção Artística. Alexander Desplat, que estava nomeado duas vezes na categoria de Melhor Banda Sonora Original com “Grand Budapest Hotel” e “O Jogo da Imitação”, venceu com a banda sonora do filme de Wes Anderson.

Melhor Edição de Som foi o prémio de consolação para “Sniper Americano”. O filme da autoria de Clint Eastwood, protagonizado por Bradley Cooper, teve um orçamento alto e um rendimento de bilheteira igualmente generoso, mas não foi além de um prémio. “Interstellar” venceu o Óscar de Melhores Efeitos Visuais. “Foxcatcher” tinha cinco nomeações e saiu de mãos a abanar.

A Disney sorriu mais uma vez, ao fazer o pleno. “Big  Hero 6 – Os Novos Heróis” venceu o Óscar de Melhor Filme de Animação e “Festim” na Melhor Curta-Metragem de Animação. Com os dois Óscares de animação ganhos agora, a Disney soma, entre filmes de imagem real, documentários e animações de curta e longa-metragem, um total de 70 estatuetas de Hollywood.

O filme a preto e branco “Ida”, do polaco Pawel Pawlikowski, venceu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Destaque ainda para o Óscar de Melhor Documentário para “Citizenfour”, feito por Laura Poitras sobre os abusos na segurança nacional no pós-11 de Setembro nos Estados Unidos, a NSA e Edward Snowden. Após a entrega, Neil Patrick Harris conseguiu fazer rir (parte) da plateia ao dizer: “Edward Snowden can’t be here tonight for some treason” (Edward Snowden não pode estar aqui esta noite por alguma traição).

Eis a lista completa de vencedores dos Óscares 2015:

Melhor Filme
Birdman

Melhor Realizador
Alejandro González Iñárritu (Birdman)

Melhor Ator
Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)

Melhor Atriz
Julianne Moore (O Meu Nome é Alice)

Melhor Ator Secundário
J.K. Simmons (Whiplash)

Melhor Atriz Secundária
Patricia Arquette (Boyhood)

Melhor Argumento Original
Birdman

Melhor Argumento Adaptado
O Jogo da Imitação

Melhor Filme de Animação (Longa-Metragem)
Big Hero 6 – Os Novos Heróis

Melhor Filme Estrangeiro
Ida (Polónia)

Melhor Filme de Animação (Curta-Metragem)
Festim

Melhor Documentário (Longa-Metragem)
Citizenfour

Melhor Documentário (Curta-Metragem)
Crisis  Hotline: Veterans Press 1

Melhor Curta-Metragem
The Phone Call

Melhor Fotografia
“Birdman” (Emmanuel Lubezki)

Melhor Montagem
Whiplash

Melhor Banda Sonora Original
Alexandre Desplat – Grand  Budapest Hotel

Melhor Canção Original
“Glory” – Selma (John Stephens e Lonnie Lynn)

Melhor Edição de Som
Sniper Americano

Melhor Mistura Sonora
Whiplash

Melhor Direção Artística
Grand  Budapest Hotel

Melhores Efeitos Visuais
Interstellar

Melhor Guarda-Roupa
Grand Budapest Hotel

Melhor Caraterização
Grand  Budapest Hotel