Albert Speer Jr. é alemão, tem 80 anos e é um dos arquitetos responsáveis pelos estádios que em 2022 vão receber o maior e mais importante torneio de futebol do mundo. O nome e o talento, esses, herdou-os do pai, também ele Albert Speer, que chegou a ministro do Armamento do Terceiro Reich e a arquiteto-chefe de Adolf Hitler – foi ele a quem Hitler confiou os planos para reconstruir Berlim e transformar a cidade na capital do mundo. Agora, 70 anos depois da queda do império nazi, Albert Speer “filho” vai ser o grande responsável por transformar o Qatar na capital do mundo de futebol em 2022.

Numa das raras entrevistas que deu desde que foi conhecido o nome da equipa que vai tornar possível realizar um sonho que muitos consideram megalómano, o arquiteto refutou as críticas que têm sido apontadas em relação à sustentabilidade futura de um projeto com estas dimensões. Uma dessas críticas – talvez a mais repetida – prende-se com a construção dos estádios em desertos – regiões que podem atingir os 50º graus celsius.

Ora, o arquiteto explica que os problemas das altas temperaturas e da construção de estádios em cidades de baixa densidade populacional (há estádios a serem construídos em localidades com pouco mais de 270 mil habitantes) não se colocam:

“[A maioria das infraestruturas do Mundial] foram pensadas para serem desmontadas no final, para que depois se adaptem ao país. Os níveis superiores [dos estádios] são modulares e podem ser removidos para construir um total de 22 estádios de futebol menores, que serão dados aos países em desenvolvimento depois do Mundial de Futebol. (…) Em relação ao arrefecimento, temos desenvolvido um conceito que se baseia na energia solar”, respondeu Speer.

Ainda assim, desafiado a responder se fará sentido realizar um Mundial de Futebol num país com dimensão e características climáticas do Qatar, o arquiteto alemão foi claro: “É óbvio que é legítimo para um país como o Qatar, e outros do mundo árabe, receber o Mundial. É arrogante pensar que o futebol pertence a nós europeus”.

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Além disso, o arquiteto lembrou que a sustentabilidade nem sempre foi um critério para a escolha dos países que acolhem este tipo de eventos desportivos: “Vejam o exemplo do Euro 2004 em Portugal. Sete novos estádios. Vocês deviam ir lá agora. Há três equipas no país que conseguem encher o estádio. O número médio de espectadores é de 9.500 pessoas”.

Mas há ainda uma outra crítica habitualmente apontada à organização do Mundial FIFA no Qatar: os problemas relacionados com os atropelos dos direitos humanos naquele país. Os inúmeros relatos de imigrantes ilegais que morrem todos os dias na construção dos estádios, mas também o facto de o Qatar não ser um regime democrático. O alemão reconhece que são problemas existentes, mas acredita que, com o Mundial de 2022 e com o aumento da visibilidade mediática do país, o Qatar vai melhorar nestas matérias e caminhar para o progresso na área dos direitos civis.

Será o suficiente para um país que faz presos políticos e ainda tem pena de morte? Albert Speer respondeu com outra pergunta e em tom de desafio: “Está-se a referir aos Estados Unidos e a Guantánamo”?

Pode ver aqui a apresentação oficial dos 12 estádios que vão receber o Mundial do Qatar em 2022.

https://www.youtube.com/watch?v=d-z2jtUS9-Y