Ser agressivo, ou não, quando se corre atrás de uma bola que anda a rolar sobre a relva tem muito que se lhe diga. Há faltas que aparecem quando as pernas pesam e chegam atrasadas à bola, ou quando a cabeça é morosa a pensar. Depois há sempre os jogadores mauzinhos que, mesmo ultrapassados, dão um toque no adversário que já foge, ou levantam a sola quando uma bola, indecisa, fica no vai-não-vai e obriga a que haja uma batalha entre pés inimigos. Aqui, entre minhotos e dragões, podia haver “patadas”. Ou, como antes viu Julen Lopetegui, uma “disputa nobre pela bola”.

A agressividade tem muito que se lhe diga, ah pois tem. Na última partida em que o Braga serviu de anfitrião ao FC Porto, o cartão amarelo saltou sete vezes do bolso do árbitro e o vermelho, duas — ambos mostrados a jogadores portistas. Daí terem falado nisso, antes do jogo, ao treinador dos dragões. De faltas, faltas e mais faltas, como se viu durante essa tal partida. Como a que, logo aos 6’, pediu a Pedro Santos que levasse o pé canhoto até à direita e batesse um livre que, primeiro, fez Casemiro chocar com Fabiano para, depois, Zé Luís só não rematar o ressalto para golo porque Marcano se meteu no meio e desviou a bola.

Sporting de Braga: Wallace; Baiano, Aderlan Santos, André Pinto e Tiago Gomes; Danilo e Pedro Tiba; Pedro Santos, Ruben Micael e Rafa; Zé Luís.

FC Porto: Fabiano; Danilo, Maicon, Iván Marcano e Alex Sandro; Casemiro, Hector Herrera e Evandro; Brahimi, Cristian Tello e Jackson Martínez.

Os minhotos arrancavam como sempre, como o habitual que os fez contar os seis anteriores jogos com vitórias: intensos, com rotação nas pernas, a tentarem recuperar a bola bem à frente, atrevidos, na metade do campo azul e branca. Ruben Micael atinava os passes e Pedro Santos cruzava muita bola, enquanto Baiano e Tiago Gomes, os laterais, pareciam sombras de Brahimi e Tello. O jogo começava bem, mexido, com a bola a cumprimentar muitos pés e os passes a sucederem-se. Mais nos dragões que, mesmo demorando, foram conseguindo abafar a pressão bracarense puxando do que, a eles, já é habitual — fazendo a bola rolar, rápido e com muitos passes.

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Não tantos como o costume, sim. Porque Evandro não é Óliver e, nele, a bola é mais para colar ao pé e ser levada em corrida. Tal e qual Brahimi, que se andava sempre pela esquerda, encostava a redonda à bota direita e com ela corria até não ter espaço para fintar e ter de recorrer ao passe. Enquanto estes corriam e os outros passavam, o jogo começou a ser mais azul do que vermelho. Aos 20’, após um cruzamento rasteiro de Tello quase chegar a Jackson Martínez, a bola foi de novo ter com o espanhol, cujo pé canhoto transformou em remate o que, até meio caminho, era para ser um cruzamento, e obrigou Matheus a tirar a bola no ângulo superior esquerdo da baliza.

De “patadas sem bola” nada se via, mas tão pouco o Braga conseguia tocar-lhe muito. A equipa, com os minutos, mais do que se encolher, era encolhida pelo carrossel do FC Porto e pronta reação à perda da bola que não deixava a bola dar contra ataques às corridas de Rafa ou Zé Luís. Os minhotos chegariam ao intervalo com 56 passes feitos, contra os 207 com que os dragões foram montando jogadas e deram a Cristian Tello, aos 45’ e 45’+1, um par de remates que pouco por cima da barra passaram.

Já serviam de aviso.

Um que, mesmo sem remates, não demorou nada a repetir-se. Porque logo aos 47’, quando as pernas ainda reaqueciam, Evandro marcou bem rápido um livre, isolou Alex Sandro na esquerda e deu ao brasileiro tempo e espaço para cruzar a bola, rasteira, para a área, onde Jackson só não a rematou pois Aderlan Santos lhe chegou primeiro, junto ao primeiro poste — e, com o corte, quase fazia um autogolo. E este foi o “quase” mais “quase” que se viu durante muito tempo, no meio de um jogo que, depois, fora de agressividade, foi tendo cada vez mais faltas.

O ritmo do encontro, por isso, ia quebrando. Ou melhor, o do FC Porto, pois os minhotos continuavam presos à união que tinham a defender e fechar espaços em torno da área. As pernas que precisavam para contra atacar eram gastas a bloquear remates portistas. Os dragões, até à área do Braga, até faziam as coisas bem: a bola trocava-se com poucos toques a meio campo para, ora Brahimi ou Herrera, usarem Jackson como tabela para largarem a bola e irem recebê-la mais à frente — e de frente para a baliza. A fórmula, até aqui, resultava. O remate, ou o cruzamento, que vinha depois, é que não.

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Jackson Martínez, melhor marcador do campeonato, saiu lesionado aos 62′. Foto: José Coelho/Lusa

Aconteceu aos 50’ e 54’, com Brahimi. Os bracarenses, contudo, sabiam como se encolherem e taparem espaços por onde a bola pudesse passar. É uma coisa que se trabalha e, pelos vistos, Sérgio Conceição fá-lo bem. A tarefa parecia complicada para os dragões desbloquearem, e mais ainda quando, aos 62’, Jackson se agarrou à coxa e tombou para a relva. O colombiano, o dos 17 golos no campeonato, o capitão que já tantas fechaduras abrir com remates, saía lesionado. Má notícia para os dragões, pior do que o remate que, aos 71’, Quaresma não acertou na baliza, após cruzamento de Tello.

A equipa, mesmo sem Jackson e tudo o que de automático faz com o colombiano em campo, mostrou que mecanizada também parece estar uma coisa — a jogada que manda o avançado fugir aos centrais, recuar uns metros, pedir a bola, recebê-la, virar-se com ela, chamar a defesa a pressioná-lo e esperar que, no espaço que então surge nas costas, entre a corrida de um extremo. Neste caso, a de Cristian Tello, a que replicou as três que já lançara contra o Sporting. Assim o foi. Aboubakar fugiu, a bola chegou-lhe, o camaronês olhou para a frente, meteu um passe na frente do espanhol e Tello, isolado, rematou para festejar. 1-0 e o quarto golo do extremo em dois jogos.

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A perder o Braga arriscou. Tinha que ser e, por isso, com bola, os minhotos já atacavam com mais jogadores e mandavam os laterais avançarem mais metros no relvado. Mas nem por isso, além de um livre de Tiago Gomes, aos 81’, e um remate bloqueado de Felipe Pardo, aos 85’, conseguiram inventar jogadas que fizessem Fabiano tremer na baliza. Pelo meio os dragões acalmaram, juntaram os jogadores e recuarem uns metros. Só aos 90’, aliás, é que um pontapé de bicicleta, dos bons, de Aboubakar, voltou a levar uma bola rematada pelo FC Porto à baliza de Matheus.

A perder o Braga arriscou. Tinha que ser e, por isso, com bola, os minhotos já atacavam com mais jogadores e mandavam os laterais avançarem mais metros no relvado. Mas nem por isso, além de um livre de Tiago Gomes, aos 81’, e um remate bloqueado de Felipe Pardo, aos 85’, conseguiram inventar jogadas que fizessem Fabiano tremer na baliza — aos 86’, o mesmo Pardo até caiu na área, mas nenhum apito se ouviu. Pelo meio os dragões acalmaram, juntaram os jogadores e recuaram uns metros. Só aos 90’, aliás, é que um pontapé de bicicleta, dos bons, de Aboubakar, voltou a levar uma bola rematada pelo FC Porto à baliza de Matheus.

De resto, nada mais além da confirmação da sexta vitória seguida dos dragões no campeonato, todas sem golos sofridos. Este 1-0, além de, porventura, aliviar o Sporting para segunda-feira — afinal, o Braga só está a um ponto do terceiro lugar dos leões –, coloca o FC Porto, até às 17h de domingo, a um ponto do Benfica após os portistas regressarem com uma vitória de uma das visitas mais complicadas desta liga. Mesmo sem patadas, a vitória custou Jackson, e resta esperar para ver o tempo de jogo que esta lesão roubará ao colombiano. Será a hora de Aboubakar? “Quando se falava de rotatividade, não se sabia o que se iria passar em março. É por estas coisas”, aproveitou para resumir Lopetegui.