O acesso das empresas brasileiras aos mercados financeiros está, na prática, congelado há quatro meses, data da última emissão de dívida internacional, refletindo a falta de confiança dos investidores na sequência do escândalo financeiro da petrolífera estatal Petrobras.

De acordo com a agência Bloomberg, a última vez que as empresas brasileiras estiveram quatro meses sem recorrer a financiamento externo aconteceu em 2008, na sequência da implosão do banco americano Lehman Brothers, quando o crédito internacional ficou basicamente congelado.

A ausência de empréstimos internacionais é reveladora da maneira como o Brasil se degradou aos olhos dos investidores estrangeiros, na sequência do escândalo financeiro envolvendo as ligações entre a Petrobras e a classe política e da estagnação da economia, que levou os juros exigidos pelos investidores para emprestarem dinheiro a subir seis vezes mais que a média dos outros mercados emergentes.

“Idealmente, uma empresa só quer aumentar a dívida quando a perspetiva económica é boa, e esse não é o caso agora para a maioria das empresas”, comentou uma responsável de um fundo de investimento que gere uma carteira de 110 mil milhões de dólares.

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No ano passado, por esta altura, as empresas brasileiras já tinham contraído 7,5 mil milhões de dólares de dívida nos mercados internacionais. A Petrobras não emite dívida internacional desde março do ano passado.

A Moody’s desceu o ‘rating’ da empresa em dois níveis, para o patamar abaixo de investimento, conhecido como ‘lixo’, no final de fevereiro, o segundo corte em menos de um mês, precisamente devido à possibilidade de a investigação judicial em curso poder impedir o acesso ao financiamento.

O corte no ‘rating’ da Petrobras é uma das 28 ações de degradação do ‘rating’ que as empresas brasileiras já sofreram desde janeiro. Para além das dificuldades de acesso ao mercado externo, o país enfrenta também a desvalorização do real de 12% este ano e a previsão de uma recessão de 0,58% este ano, a maior desde 1990.

Isto levanta a possibilidade, diz a Bloomberg, de o próprio país enfrentar uma degradação do ‘rating’, já que está em perspetiva negativa desde setembro do ano passado, seis meses depois de a Standard & Poor’s ter cortado o ‘rating’ para o nível mais próximo do ‘lixo’.