As coisas estão a mudar. Já estavam, não é de agora, mas desta vez até é simbólico. Um brasileiro pegou nas pranchas, enfiou-se com elas em aviões, contou umas horas no ar e lá aterrou na Austrália. Foi depois até Coolangatta, na Gold Coast do país, onde foi surfando, cortando ondas e marcando pontos. No fim, ganhou a prova na terra de onde mais saem homens e mulheres com jeito para o surf. Uma história previsível escreveria agora Gabriel Medina como o nome do vencedor. Mas não, a vitória não piscou o olho ao miúdo de 20 anos, campeão mundial na época passada. Não, desta vez foi Filipe Toledo.
E este, quem é? É nome de um também novato que, aos 19 anos, conseguiu assim vencer, pela primeira vez, uma prova do circuito mundial de surf. E nem sequer houve uma reviravolta no final, aquele twist para surpreender quando se embrulha uma história — porque Filipinho, como é conhecido no circuito, foi quase sempre o melhor. Assim o mostrou durante a madrugada deste sábado, deslizando sobre os quartos-de-final, as “meias” e a final, onde derrotou o australiano Julian Wilson.
Congratulations to @toledo_filipe, winner of the 2015 #QuikPro #GoldCoast!!! @Quiksilver https://t.co/UblLiTeSeo
— World Surf League (@wsl) March 13, 2015
Na última onda do Quicksilver Pro Gold Coast, prova que arrancou o circuito mundial de surf deste ano, Filipe Toledo até sacou uma nota 10 (a prestação dos surfistas em cada é classificada numa escala de zero a dez) aos juízes. “Ainda está impressionado?”, foi o título que a World Surfing League (WSL) deu ao artigo que resumiu a vitória do mais novo surfista do circuito, com uma uma pontuação de 19.60 (em 20) na final. “Foram dias abençoados aqui na Gold! Nao tenho palavras pra descrever o tamanho da minha felicidade! Todo meu treino, meu esforço, minha dedicação valeu a pena!”, escreveu o brasileiro, após a vitória, a conta de Instagram.
https://www.youtube.com/watch?v=yVmb8n2VevI
Mesmo novato, esta já é a terceira participação de Toledo no circuito mundial: o ano passado terminou no 17.º posto entre os 34 surfistas do circuito. Com esta vitória, portanto, Filipe fica a liderar o ranking do circuito e dá ao surf um início igual ao fecho que teve em 2014 — um brasileiro no primeiro lugar. Olhando para o que se ia passando em Snapper Rocks, nome da onda onde se realizou a prova, era de esperar que um brasileiro acabasse a festejar. Porque além de Filipe Toledo, também Miguel Pupo e Adriano de Souza atingiram as meias-finais. Antes, nos “quartos”, já houvera igualmente Wiggoly Dantas, o estreante no circuito.
Tanta história abrasileirada e nada escrito sobre Gabriel Medina. Culpa do campeão mundial, que eliminado foi logo à terceira ronda, no heat contra Glen Hall, quando os juízes o desqualificaram por interferência — quando um surfista não respeita a prioridade que o outro tem para escolher uma onda.
https://www.youtube.com/watch?v=qOmQNBws2mg
Medina não gostou e, depois, resolveu mostrá-lo quando lhe colocaram um microfone e uma câmara à frente. “Antes de mais, acho que a chamada para a competição foi muito má. Esperámos 10 dias, tivemos dois dias extra para apanhar ondas destas, e acho que o Kieren Perrow [comissário da prova] não fez um bom trabalho. Espero que possa melhorar. Em segundo lugar, a interferência. Um dia vou tentar entender esta nova regra. Terceiro: a próxima vez que o Glenn me disser ‘fuck you’, vou ensinar-lhe…”, disse, numa altura em que o apresentador o teve de interromper.
O brasileiro, agora, deverá ser castigado pela WSL que, além de lhe aplicar uma multa, poderá também deduzir-lhe pontos no ranking mundial. Gabriel Medina vencera a prova em Snapper Rocks na temporada passada e, agora, terminou-a na 13.ª posição.
Gabriel Medina, em parte, queixou-se da teimosia do mar. Não foi fácil tirar alguma coisa das águas de Coolangatta. As ondas estavam teimosas, reflexo de ventos e ondulações que demoraram a atinar entre si e, ao todo, deram 11 dias de espera à competição. E a quem? Aos surfistas, homens e mulheres, que tinham apontado viagens até à Gold Coast, região este da Austrália. As direitas (ondas que, para esse lado, dão uma parede de água aos surfistas) de Snapper Rocks.
Congratulations to @rissmoore10, winner of the 2015 #ROXYpro #GoldCoast!!! @Roxy https://t.co/Y3It1geFmG
— World Surf League (@wsl) March 13, 2015
Antes de tudo se decidir nos homens, as senhoras fecharam a sua competição. Na final, a havaiana Carissa Moore ganhou à atual campeã do mundo, Stephanie Gilmore, australiana que surfava uma onde que bem conhece. “Aprendi tanto olhando para ela que é uma honra ter-lhe ganho na própria casa”, disse a vencedora, de 23 anos, falando da mais graúda, de 27, que já foi a melhor surfista do mundo em seis temporadas (2007, 2008, 2009, 2010, 2012 e 2014).
O circuito, agora, arruma tudo, faz as malas, mas não vai para longe. A próxima prova arranca já a 1 de abril, em Bells Beach, ainda na Austrália, perto de Melbourne, na costa sul, a cerca de 1.800 quilómetros de Snapper Rocks. A água vai passar a ser fria e a obrigar os surfistas a tirarem os fatos das mochilas.