Pep Guardiola voltou a Camp Nou. O homem pode passar um ano sabático em Nova Iorque e depois mudar-se para Munique, para ensinar àquela gente a arte de congelar uma bola, mas aquele coração é blaugrana e não engana ninguém. Guardiola é diferente. Entrou depois da hora, sentou-se discretamente, como um qualquer adepto, e quase viu um golo de Neymar. A ideia era espiar um potencial rival nos “quartos”, mas não foi bem assim…

Livre direto para Messi. O olhar do treinador catalão fixou-se, como antigamente, no craque argentino. O canhoto bateu e a bola, caprichosa, vaidosa e dona do seu destino, rejeitou a rota calculada e saiu muito perto da trave. Guardiola juntou os lábios como quem diz “uuuuuuuuuush”. O peito estava quieto, mas quase que dá para imaginar aquele coração a palpitar com mais força do que nunca. Afinal, estava em casa.

Messi com a bola, desvia um rapaz vestido de azul e mete do outro lado do campo para a entrada de Rakitic: golo do Barcelona. Magia. Guardiola não resistiu e aplaudiu, levantou-se e, rapidamente e sem jeito, até tapou a cara. Sentiu, porventura, o que sentia quando era garoto: um mero fanático pelo Barça. As redes sociais estavam ao rubro com o catalão.

Bola para Messi no meio-campo dos blaugrana. Milner, com o coração do costume, chegou com pressa, comprometido e corajoso. O canhoto, em dia de noite de gala, fez-lhe uma “cueca” como quem assobia e vê as flores no jardim… O inglês até caiu ao tentar juntar as pernas e Guardiola ficou louco. Até levou as mãos à face e juntou-lhe outro “uuuuuuush”, completamente derretido com o antigo pupilo. A paixão deste homem pela sua profissão e pelo futebol emociona. Ainda vibra com uma finta como um menino. Talvez não seja por acaso que o seu reinado no Barça tenha ficado associado à música “Viva la vida” dos Coldplay…

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QUE BEM QUE SE ESTÁ NESTE JARDIM, HEIN?

Leonardo Jardim é o único treinador português ainda a correr pela final de Berlim, o palco escolhido para escolher o rei do Velho Continente. Na fase de grupos, com Zenit, Benfica e Leverkusen, poucos davam alguma coisa pelo Mónaco. Afinal, esta já não é aquela equipa impecável com Falcao e James, por exemplo. Mas o madeirense, naquele jeito ninguém-dá-por-mim-mas-percebo-disto-que-é-uma-coisa-doida, lá montou uma equipa equilibrada, sólida no meio-campo, onde Moutinho é o senhor, e um contra-ataque mortífero. Um pouco à imagem do que fez no Sporting, surpreendendo meio mundo ao garantir o segundo lugar e a consequente qualificação para a Liga dos Campeões.

Com pézinhos de lã, foi somando pontos e festejando golos, com um entusiasmo nunca antes visto. Com direito a sorriso e tudo, qual gesto clandestino. Conclusão? Líder do grupo com três vitórias, dois empates e uma derrota; quatro golos marcados (“só?!” — sim…) e um sofrido (“só?!” — sim…). É isto: não há magia nem um ataque fluído, a libido virada para o futebol não é com ele. Mas a defesa compensa, ó se compensa. Um golo sofrido num grupo com rivais como Kiessling, Çalhanoğlu, Son Heung-Min, Hulk, Rondón, Arshavin, Kerzhakov, Gaitán, Salvio e Lima é dose.

Seguiu-se o Arsenal nos “oitavos”. Seria o ponto final do conto de fadas, terá sentenciado muito boa gente. Mas aquela defesa, senhoras e senhores, não o deixou cair. Outra vez. E desta vez o ataque até deu um empurrãozinho. Em Londres, uma vitória espetacular por 3-1 embalou Leonardo Jardim e companhia, tornando muito, muito difícil a viagem dos gunners à Côte d’Azur. O Arsenal venceria por 2-0, mas não chegaria.

O madeirense é daqueles que sabe o que é a subir a pulso. A aventura como treinador principal começou em 2003/04, no Camacha. Quatro anos depois, mereceu a chamada do Desportivo de Chaves, mas voltaria ao Camacha na mesma época… Para, pasme-se, regressar novamente ao Chaves. Confuso? Sim, mas ele encolheu os ombros e subiu de divisão (da IIB para a II).

Depois armou-se em Alex Honnold, o homem que sobe montanhas de mil metros sem cordas, e mudou-se para o Beira-Mar, onde também acabaria por subir de divisão, desta vez para aquela onde moram os graúdos. Seguir-se-iam Sp. Braga em 2011, Olympiakos em 2012 e Sporting em 2013. Em Alvalade disse “bom dia” à Liga dos Campeões e mereceu um telefonema da terra do príncipe Alberto. E agora é o que se vê: colocou o 74.º do ranking da UEFA nos “quartos” da Champions.

O QUE ENSINARAM OS OITAVOS-DE-FINAL?

ARSENAL: é a quinta vez consecutiva que a equipa de Arsène Wenger cai nos “oitavos” — Bayern Munique (2013/14), Bayern Munique (2012/13), Milan (2011/12) e Barcelona (2010/11). Está apenas a uma eliminação do recorde do Real Madrid.

BARCELONA: Rakitic marcou o golo da vitória em Camp Nou contra o Manchester City na segunda-mão. Antes dele, apenas oito croatas marcaram na fase a eliminar da competição: Boban, Spehar, Prso, Olic, Eduardo Silva, Srna, Madzukic e Modric.

JUVENTUS: Tévez marcou duas vezes ao Dortmund, na primeira mão e na segunda, algo que só se viu mais oito vezes no clube de Turim: Vialli, Vieri, Amoruso, Inzaghi, Del Piero, Conte, Trezeguet e Matri.

ATLÉTICO MADRID: a equipa de Simeone venceu pela primeira vez por penáltis na Europa. A vítima que ficou colada à estreia foi o Leverkusen, que saiu do grupo do Benfica. Antes, os colchoneros perderam três duelos nos penáltis em outras tantas tentativas. A equipa que vive do Cholismo (“jogo a jogo” e deixar tudo em campo) leva já seis jogos sem sofrer golos em casa na Liga dos Campeões, ficando apenas a um do recorde.

MÓNACO: a equipa de Leonardo Jardim esteve dez anos sem sofrer golos em casa para a Liga dos Campeões. A última vez aconteceu em março de 2005, quando DaMarcus Beasley, do PSV, festejou no antigo estádio da Supertaça Europeia. Okay, este é daqueles casos em que a estatística fecha aos olhos ao facto de este clube ter andado à deriva, inclusive na segunda divisão francesa…

REAL MADRID: Ronaldo bateu mais um recorde, com os dois golos marcados ao Schalke 04. O português já leva 75 golos na Liga dos Campeões, tal como Lionel Messi.