Uma carrinha de 16 lugares amarela, dois amigos e vontade de fazer dos desportos de ondas vida. E voilà. Estavam reunidas as condições para que Daniel Beirôco, 35 anos, e Gonçalo Pereira, 32, lançassem a Surf Bus, “contra a corrente” e por sua “conta e risco”. Porque “Portugal é cada vez mais reconhecido como destino de surf”, explicam ao Observador.

Há dez anos nada faria prever que a carreira de ambos passaria pelo mar. Ou pelo acesso a ele. Com formações superiores na área da economia e gestão, Daniel e Gonçalo conheceram-se na empresa de recursos humanos Michael Page, onde ambos trabalhavam. Ficaram amigos. Em comum, uma paixão pelo bodyboard, desporto que praticavam desde que tinham 15 anos. O resto veio depois, com uma situação de desemprego.

Da Michael Page passaram para a Multipessoal, empresa do Grupo Espírito Santo, mas saíram três anos depois. “Houve um desgaste de parte a parte”, explicou Daniel Beirôco, que saiu da empresa em setembro de 2013. Gonçalo Pereira tinha saído um mês antes.

“Tinha 30 anos e estava a tentar perceber como é que conseguiria, dentro dos meus ‘hóbi’, realizar-me profissionalmente. E foi aí que eu e o Daniel acabámos por nos sentar e por falar um pouco sobre o que gostaríamos de fazer em termos profissionais”, conta Gonçalo.

Surf Bus

Para poderem atuar no setor dos transportes, os empreendedores trabalharam durante um ano e investiram nove mil euros

Quando decidiram avançar com a Surf Bus, disseram “adeus” ao subsídio de desemprego e concorreram ao Programa de Apoio ao Empreendedorismo, do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Com este projeto querem criar uma ligação direta e segura entre a cidade de Lisboa e as praias ideais para os utilizadores aprenderem, aperfeiçoarem a técnica ou desfrutarem das ondas, a bordo de uma carrinha de 16 lugares.

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“Queríamos fazer algo que gostássemos e começámos a identificar algumas necessidades, como a falta de transportes para miúdos que têm aulas em Carcavelos ou na Costa da Caparica. Nem sempre os pais têm disponibilidade para levá-los às aulas, durante a semana”, explica Daniel, que iniciou a carreira profissional na Reuters.

Aqueles que não têm aulas, mas que costumam fazer surf, têm o mesmo problema: dependem de transportes como o comboio, o barco ou o autocarro para irem surfar. E avançam que o objetivo não é fazer concorrência às escolas de surf (porque não dão aulas) nem aos hostel. São, antes, um serviço que disponibilizam a estas entidades. “Tentamos posicionarmo-nos como um agregador. O desafio é tentar conjugar as coisas de um lado ao outro“, diz Daniel.

A pensar no mercado internacional têm pacotes para quem quer fazer uma visita a Peniche, Ericeira ou às ondas grandes da Nazaré. “Temos muitos turistas que estão a passar quatro ou cinco dias em Lisboa, mas que gostariam de ir até à Costa da Caparica ter uma aula de surf. Ou de ir um ou dois dias para a Nazaré“, explica Daniel. Por isso, disponibilizam os produtos Surf Session, Half Day Tour, One Day Tour ou a realização de um evento.

Turistas, jovens estudantes, alunos das escolas de surf e bodyboard. É este o público-alvo dos 16 lugares da Surf Bus, projeto que demorou um ano a ser lançado, por causa da regulamentação que existe no setor dos transportes. Para poderem exercer esta atividade, tiveram de desembolsar nove mil euros. “Avançámos por nossa conta e risco. Agora, vamos ter de correr um bocadinho mais, porque o nosso dia-a-dia depende do nosso projeto“, diz Gonçalo.

Os dois amigos adiantam que a Surf Bus é uma “solução para todos os pais à beira de um ataque de nervos, porque têm de ir deixar os miúdos à praia”. Pais, treinadores e turistas. Das escolas ou hotéis ao mar.