O secretário-geral do PS assumiu na noite de segunda-feira como primeira prioridade educativa devolver “a paz” às escolas, num ponto em que criticou “os últimos governos”, e traçou “uma linha vermelha” para rejeitar a diferenciação vocacional logo no Ensino Básico. António Costa falava no encerramento de uma conferência promovida pelo PS, subordinada ao tema das “Qualificações – recuperar o tempo perdido”, que decorreu no Museu de História Natural e da Ciência, junto ao Príncipe Real, em Lisboa.
Na sua intervenção, o líder socialista estabeleceu uma linha de demarcação face ao atual executivo, mas também (embora sem o mencionar especificamente) em relação ao estilo de atuação do governo de maioria absoluta de José Sócrates, defendendo em contraponto a urgência de “estabilizar a escola, deixá-la respirar e devolver-lhe paz”.
“Os últimos anos, em vários governos – é preciso reconhecê-lo – têm sido traumáticos para a escola. Sou casado com uma ex-educadora vítima precisamente do ‘stress’ a que os agentes educativos têm estado sujeitos nos últimos anos. Não é possível melhorar a qualidade da aprendizagem e mobilizar a comunidade educativa e as famílias sem que exista paz e tranquilidade nas escolas”, sustentou o secretário-geral do PS.
Recorde-se que a mulher de António Costa chegou a participar numa das grandes manifestações de professores, descendo a Avenida da Liberdade em Lisboa num protesto contra o método de avaliação no tempo do Governo Sócrates e da ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Contra o ensino vocacional no Básico
Outro ponto marcante da sua intervenção foi “a garantia da igualdade no ensino” – um ponto em que fez duras críticas ao atual Governo. “Recusaremos liminarmente a ideia de antecipar para o Básico as diferenciações vocacionais, porque, sobretudo numa idade precoce, representa prolongar na sociedade de forma duradoura fraturas sociais. Custa-me que 40 anos depois do 25 de Abril de 1974 se tente voltar ao período anterior à reforma de 1973. Esse é um retrocesso que não podemos aceitar e que temos de fazer uma muralha, uma linha vermelha sobre a qual não é possível transigir”, frisou o secretário-geral do PS.
Num debate moderado pela especialista em políticas educativas Maria Emília Brederode dos Santos, António Costa falou a seguir às intervenções dos ex-secretários de Estado Pedro Lourtie, Domingos Fernandes, da presidente da Câmara da Amadora, Carla Tavares, da presidente do Instituto Politécnico do Porto, Maria José Gamboa, e do antigo presidente da Associação Académica de Coimbra Eduardo Barroco de Melo.
Perante cerca de uma centena de pessoas, o secretário-geral do PS disse que, se formar Governo, assumiu como metas “mais estudantes no Ensino Superior” (não apenas jovens), inserir as instituições universitárias nas suas comunidades e regiões, apostar na formação de adultos e estabilizar o sistema educativo.
“Na próxima legislatura, temos em primeiro lugar de estabilizar os objetivos educativos, estabilizar a vida nas escolas, e assumir como grande prioridade o Básico e o Pré-Escolar como condição da igualdade de oportunidades, e retomar a educação de adultos como única arma de combate ao desemprego de longa duração e condição fundamental de cidadania”, apontou o secretário-geral do PS.
Para o Ensino Superior, o líder socialista propôs “continuar a desenvolver o acesso”. “É falso que Portugal tenha licenciados a mais. Portugal tem é empregos qualificados a menos”, disse, num discurso em que também defendeu a tese segundo a qual, se o país não cumprir as metas educativas da União Europeia e de outras instituições internacionais, a médio prazo também será vulnerável na capacidade de consolidar as finanças públicas.