Ficou pronto em 1982. É um documentário autobiográfico realizado pelo próprio Manoel de Oliveira, mas muito poucos o conhecerão. A condição do cineasta era que fosse visto apenas após a sua morte. O realizador tinha na altura tinha 74 anos. Morreu na madrugada desta quinta-feira, 2 de abril, aos 106. Era o cineasta no ativo mais antigo do mundo.

O filme em questão será, ao que tudo indica, um retrato do homem que trabalhou até aos últimos dias, com um total de 47 filmes em 90 anos de carreira. Deverá ser mostrado no final de abril ou início de maio, em concordância com a família, em Lisboa e no Porto, segundo disse o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa, à agência Lusa.

“Visita ou Memórias e Confissões” tem por base um texto de Agustina Bessa-Luís, vozes de Diogo Dória e Teresa Madruga. Mostra a casa do Porto onde o realizador viveu e viu a sua família crescer, ele que também nasceu na Invicta, na freguesia de Cedofeita, em 1908.

“É um filme que ele faz, que começa por ser uma referência à casa onde vivia, que teve de deixar por vicissitudes da sua vida. Ao despedir-se da casa quis lembrar coisas da sua vida. Tem um caráter pessoal que, devido a isso, ele pediu para só ser divulgado amplamente depois do seu falecimento”, referiu ainda José Manuel Costa. “É um testemunho pessoal numa fase em que ele podia ainda não ter a visão do que era a sua obra seguinte. Mas já passou tanto tempo!”, acrescentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo o responsável, Manoel de Oliveira quis reservar a exibição para depois da morte, não porque quisesse ocultar qualquer facto, mas porque tem a ver com a vida dele. “É uma memória pessoal”. O realizador deixou, à data, uma cópia do documentário na Cinemateca Portuguesa.

“Oliveira cisma em sobreviver aos seus próprios testamentos cinematográficos — o que não é surpresa nenhuma vindo de um diretor que fez há 26 anos, em 1982, um verdadeiro filme testamento (Visita ou Memórias e Confissões), já que só pode ser visto após a sua morte.”

Livro “Olhares: Manoel de Oliveira”

Como dizia Oliveira — e como recorda Eurico de Barros –, “A grande diferença entre a arquitetura e o cinema é que a arquitetura não mexe e o cinema, por vezes, mexe demasiado”. O filme que deixa junta ambas as artes.

Afinal, era seu desejo que este fosse o seu trabalho cinematográfico póstumo.