Na primeira vez que participou numa assembleia municipal enquanto presidente da autarquia de Lisboa, Fernando Medina trouxe ao plenário algumas novidades. Primeiro, anunciou a abertura de um concurso para contratar 100 trabalhadores. Depois, anunciou que a câmara vai recorrer aos tribunais para travar a reforma do setor das águas e para travar a concessão da Carris e do Metro a operadores privados. Por fim, disse também que, em muitas das ruas a ser repavimentadas, os paralelos vão dar lugar definitivo ao alcatrão, em vez de uma simples cobertura.

No discurso de apresentação da informação escrita que a câmara tem de apresentar trimestralmente à assembleia, Medina repetiu algumas das ideias que já tinha sublinhado na tomada de posse, salientando que os objetivos do município passam pelo “desenvolvimento, o crescimento económico e o emprego”, pela defesa dos direitos sociais e pela criação daquilo a que chamou “melhor cidade”. E foi no âmbito deste objetivo que explicitou um pouco mais a primeira medida que aprovou: a da repavimentação das ruas esburacadas da cidade.

“É, de facto, [uma questão] prioritária”, admitiu, para mais à frente reforçar a ideia, dizendo que “é uma matéria de grande importância” que pode agora ser resolvida porque, afirmou, “temos condições financeiras”. Por tal motivo, acrescentou Medina, será adotada uma “estratégia mais ambiciosa, de reconstrução das ruas à base de paralelo”. Ou seja, nas artérias que precisem de arranjos, a câmara propõe-se a retirar de vez os paralelos e a substituí-los por alcatrão.

“Este é o primeiro grande programa de empreitadas que é lançado”, disse Medina, que apontou para breve o lançamento de outros, como o da requalificação da Segunda Circular.

Perante as palavras do recém-empossado presidente, Margarida Saavedra, deputada do PSD, reagiu com ironia. “Tenho uma novidade a dar-lhe: esse discurso devia ter sido feito há 16 meses”, na altura das eleições, disse, acrescentando que “já decorreu um terço do mandato, não estamos em altura de promessas”. A social-democrata questionou depois Medina sobre se já existe projeto para os terrenos da antiga Feira Popular, por estar escrito na informação da câmara que decorrem os trabalhos preparatórios para a sua venda em hasta pública.

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A resposta veio da boca do próprio presidente: “O que estamos a fazer é promover, tentar despertar o interesse de investidores” naquele que é “o principal ativo imobiliário da cidade”, nas palavras do deputado socialista João Pinheiro, para quem “os lisboetas podem ficar descansados, [pois] Lisboa está bem entregue”.

“Lisboa tem um projeto político para o desenvolvimento da cidade”, referiu o socialista, em dissonância com as bancadas da oposição. Cláudia Madeira, de Os Verdes, disse, por exemplo, que no entender do partido, “muitos problemas básicos ficaram por resolver” com António Costa, pelo que esperava que a mudança de presidente fosse mais do que “uma mudança de rostos”.

Tentando contrariar a ideia de que pouco mais mudaria em Lisboa do que a cara do presidente, Medina deixou claro que a autarquia vai tentar tudo para impedir a reorganização do setor das águas. Na semana passada, foi aprovada em Conselho de Ministros a criação das Águas de Lisboa e Vale do Tejo, uma empresa que, de acordo com os objetivos do Executivo, reúne em si oito sistemas de água e saneamento até agora existentes.

O novo autarca lisboeta disse que “é lamentável e altamente prejudicial para os municípios” esta medida do Governo, que classificou também de “atentatória dos direitos patrimoniais da cidade”. Por isso, Fernando Medina anunciou que a câmara vai recorrer aos tribunais para travar todo o processo, à semelhança do que fará também, “nas próximas semanas”, relativamente à concessão da Carris e do Metro a privados. Neste caso, a estratégia passa, entre outras coisas, por pedir ao Tribunal Constitucional a avaliação da constitucionalidade da medida.

Qual é a diferença entre o Quénia e a Amadora?

Num debate morno e sem grandes confrontos, o principal foco de conflito chegou de algo inesperado. O Bloco de Esquerda pretendia fazer aprovar uma moção em que condenava despejos e demolições num bairro social da Amadora. A mesa da assembleia decidiu que a proposta não podia ser discutida por não dizer respeito a Lisboa.

Iniciou-se então uma troca de palavras entre as várias bancadas, com o Bloco a falar em “amputação democrática” e a pedir ao plenário que votasse contra a decisão da mesa, lembrando que, minutos antes, e por unanimidade, a assembleia tinha votado uma moção de condenação ao ataque terrorista no Quénia, o que também nada tinha que ver com Lisboa.

Após algumas acusações entre as bancadas socialista e social-democrata, e de também os deputados independentes se terem colocado do lado da pretensão bloquista, a moção acabou mesmo por não ser discutida.