A Câmara Municipal de Lisboa vai aprovar esta quarta-feira a criação de quatro novos hotéis e a ampliação de um. Dois dos empreendimentos situam-se no Chiado, outros dois nas imediações do Marquês de Pombal e um quinto em Alfama. Levadas a discussão pelo executivo socialista, as propostas vão contar com o apoio do vereador do CDS, pelo menos.
O espaço que vai ser ampliado é o Bairro Alto Hotel, situado no Largo Camões, no coração do Chiado. A unidade hoteleira pretende expandir as instalações até ao Largo do Barão de Quintela, ficando assim todo o quarteirão que separa as duas praças dedicado ao alojamento de turistas, como o Observador explicou esta segunda-feira. Atualmente, o hotel tem 55 quartos e a proposta discutida esta quarta prevê a criação de mais 32, bem como de espaços comerciais, salas polivalentes e de congressos, bares, um restaurante, um ginásio e um spa.
Para o Chiado está ainda prevista a criação de um hotel de cinco estrelas, na Rua António Maria Cardoso, fronteiro ao edifício que, em tempos, foi a sede da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), e que é hoje em dia um condomínio de luxo. Este novo hotel, a ser instalado num prédio que vai sofrer obras de ampliação, ficará a poucas dezenas de metros do Teatro Municipal São Luiz e a pouco mais do Largo do Chiado.
A outra proposta relativa a um bairro histórico da capital é a que contempla “a obra de alteração e ampliação para um estabelecimento hoteleiro de 5 estrelas” na Rua de Santiago, situada entre a Sé, o Castelo e o Largo das Portas do Sol.
Já para a freguesia de Santo António há duas propostas agendadas: uma para um hotel de quatro estrelas de grandes dimensões na Avenida Duque de Loulé e outra para a criação de um “empreendimento turístico” na Rua Duque de Palmela, ambas próximas do Marquês de Pombal.
Na Duque de Loulé, a ideia é fazer “construção/reconstrução com manutenção de fachada” entre os números 112 a 122 e 124 a 126 daquela artéria, como se pode ler na proposta. O edifício, que se encontra devoluto e a necessitar de grandes obras de remodelação, ocupa uma grande parte de um quarteirão da avenida, tendo ainda frentes para as ruas Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco.
Do outro lado da Avenida da Liberdade fica a Rua Duque de Palmela, para onde a câmara vai aprovar a criação de um empreendimento turístico. Será, pelo menos, o terceiro naquela rua, e é o único que não tem o número de estrelas já definido na proposta. Os vereadores vão discutir a ampliação do edifício situado no número 20 da artéria que liga a Alexandre Herculano e a Braamcamp.
“Temos de pensar em quem cá vive”
Todas estas intenções serão levadas à reunião de câmara de quarta-feira pelo vereador do Urbanismo Manuel Salgado, que é aliás um dos vereadores do executivo socialista que mais propostas vai apresentar. João Gonçalves Pereira, vereador do CDS, garantiu ao Observador que tenciona votar favoravelmente a criação destas novas unidades hoteleiras, numa altura em que o turismo em Lisboa está debaixo de grande atenção mediática. Muitos moradores e comerciantes queixam-se de que há demasiados turistas na capital, além de criticarem a câmara por permitir o surgimento de dezenas de novos hotéis.
“Temos de encarar este boom turístico com alguma naturalidade”, diz João Gonçalves Pereira, que lembra que “cada hotel que é construído é investimento” para a cidade. “Evidentemente, se queremos ser competitivos, temos de ter as infraestruturas”, afirma o centrista, para quem “o turismo é algo que deve ser acarinhado” pelos lisboetas. Ainda assim, o vereador prefere falar de outras vertentes da cidade que ainda estão mal. Como “os buracos e as crateras que continuam a aparecer” por Lisboa, por exemplo.
Argumentando que a resolução deste e de outros problemas têm tanta importância para a atração turística como a abertura de hotéis, o vereador critica o executivo de Fernando Medina por haver “falta de visão, planeamento e estratégia” nesta questão. “Temos de pensar sempre em quem cá vive”, defende.
O vereador recorda as cheias provocadas pela chuva intensa em outubro e novembro de 2014 e o facto de, ainda hoje, estarem por fazer obras que evitem situações semelhantes no futuro. Segundo Gonçalves Pereira, isto acontece porque não há “vontade política” nem “visão integrada da cidade”.
O PCP não quis adiantar ao Observador quais seriam as posições dos vereadores comunistas relativamente a este assunto, remetendo mais esclarecimentos para quarta-feira. Já o vereador do PSD, António Prôa, mostrou-se incontactável.