Nunca se falou tanto em empreendedorismo social. Mas o que é um empreendedor social? “É aquele que quer resolver um problema da sociedade”, explica Filipe Santos, presidente da Portugal Inovação Social, um projeto criado a propósito do Portugal 2020. A diferença entre um empreendedor comercial e o social é que os primeiros estão focados no lucro, querem que a sua organização perdure no tempo e querem tornar-se indispensáveis. Um empreendedor social quer deixar de ser útil e deseja até que a sua organização se torne obsoleta. Porque isso significa que o problema desapareceu.
“Para o empreendedor social, a organização é um um veículo para resolver aquele problema social. Quer resolvê-lo o mais depressa possível e chegar ao maior número de pessoas”, define em entrevista ao Observador, no âmbito da conferência “Admirável Mundo Novo”, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Filipe Santos é também professor de Empreendedorismo Social na INSEAD Bussiness School e reconhece que os jovens hoje estão mais preocupados com o impacto de um negócio.
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Miguel Neiva é um exemplo de empreendedor social. Criou a Color Add, um código de cores universal para daltónicos. Primeiro, reconheceu um problema social: os daltónicos não conseguem distinguir as cores e são excluídos por isso. Depois criou um instrumento novo que resolve o problema e pode ser comercializado. Esse código está hoje em roupas, lápis ou hospitais.
O negócio social tem de ser sustentável: ou consegue gerar receitas (como o caso do Color Add), ou é muito barato de implementar. E aqui entra um negócio usado todos os dias pelo mundo inteiro: a Wikipedia. Esta ferramenta nasceu depois de um empreendedor social detetar um problema: o conhecimento tem de ser partilhado, o utilizador pode querer partilhar o seu conhecimento de forma voluntária. Isso não acontecia porque a informação estava nas enciclopédias, por exemplo. Solução: criar uma plataforma onde os consumidores são também produtores de informação. De forma gratuita, podem acrescentar à plataforma o seu conhecimento.
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Mas há sempre boas ideias que não chegam tão longe quando podiam. Filipe Santos aponta dois erros nesta equação. Um é ficar demasiado pequenino, ou seja, preocupar-se muito com o resolver de um problema local e até ter um modelo novo de intervir num problema de saúde ou educação, mas não ter a ambição de crescer para além da sua comunidade local, da escola ou daquele bairro.
Outro problema é não ter uma solução bem trabalhada e bem sistematizada e querer crescer muito depressa. “Depois cresce-se mal, com pouca eficácia e com pouco impacto”, explica. “Acho que há uma fase de inspiração e criatividade para desenvolver o modelo. Depois há uma fase importante de organizar, sistematizar, de medir o impacto, de pensar como é que eu melhoro o que estou a fazer; e só a partir daí é que se pode pensar numa fase de crescimento”. Um dos exemplos de sucesso é o projeto Speak, que atua na inclusão dos imigrantes através da partilha de conhecimentos entre várias nacionalidades. Um modelo que começou em Leiria e hoje está a ser replicado em várias cidades do país.
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As soluções têm de ser adaptadas a cada um dos públicos. Quando se quer envolve os jovens em risco, por exemplo, é preciso puxar por aquilo que os atrai: seja a música, as artes ou o desporto. Um dos exemplos dado por Filipe Santos é a Escolinha de Rugby da Galiza.
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Filipe Santos é presidente da Portugal Inovação Social, um projeto que nasceu em janeiro deste ano no âmbito do Portugal 2020 para dinamizar o ecossistema de empreendedorismo social. Aí entra o Título de Impacto Social, desenvolvido e estruturado pelo Laboratório de Investimento Social. Aqui, o Estado alia-se a investidores para resolver uma determinada situação.
Um exemplo: 50% dos presidiários que saem da cadeia depois de cumprir a pena, reincidem no crime. Isto tem um custo ao Estado que pode chegar aos 50 mil euros ao Estado: é o custo de estar na cadeia e não estar a trabalhar. Se uma instituição trabalhar com os ex-presidiários na sua inclusão e formação, evita-se que voltem à prisão. Todos ganham: os ex-presidiários ganham uma nova vida, o Estado poupa aquilo que ia gastar com a reincidência na prisão, e a instituição cumpre o seu trabalho com êxito.
E já há um exemplo deste novo modelo de investimento social feito na Câmara Municipal de Lisboa — ensino de programação a três turmas de alunos do 3º ano, financiado pela Fundação Gulbenkian. O objetivo é melhorar a capacidade cognitiva ao aprender a programar e mexer em robots. Se de facto se verificarem resultados de melhoria cognitiva e desempenho escolar, a Câmara de Lisboa devolve à Gulbenkian o investimento inicial de 120 mil euros. A câmara fica a saber que aquele modelo funciona, pode replicá-lo em outras escolas do município e até promover uma nova política pública.