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O Target é um programa da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, focado no bem-estar e saúde mental dos empreendedores de impacto. Tem quase um ano, é gratuito e envolveu 66 participantes até outubro de 2024
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O Target é um programa da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, focado no bem-estar e saúde mental dos empreendedores de impacto. Tem quase um ano, é gratuito e envolveu 66 participantes até outubro de 2024

Rita Chantre / Observador

O Target é um programa da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, focado no bem-estar e saúde mental dos empreendedores de impacto. Tem quase um ano, é gratuito e envolveu 66 participantes até outubro de 2024

Rita Chantre / Observador

“Os altos são muito altos, os baixos são muito baixos." O programa de saúde mental que ajuda os empreendedores a lidar com medos e emoções

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem um programa focado no bem-estar da comunidade de empreendedores. Quase 30% têm sintomas de ansiedade moderada ou grave. Há burnout e depressão.

Elena Durán é empreendedora social, fundadora da 55+, startup de oportunidades de trabalho e atividades que valoriza o talento, a experiência e ambições de quem está desempregado ou reformado e tem mais de 55 anos. É uma das participantes mais assíduas do Target, programa da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, focado no bem-estar e saúde mental dos empreendedores de impacto. Estar bem, regular as emoções, lidar com o stress e a pressão, arrumar expetativas, é importante para si, como nos conta numa tarde de segunda-feira, início de mais uma semana com agenda preenchida. “Tem sido uma experiência enriquecedora e necessária para conhecer-me e saber o que tenho de fazer quando estou em situações de sobrecarga”, indica. Para acalmar e avançar, tem aprendido a dar nome ao que sente. “E a tirar da cabeça coisas que me preocupam.” Entre outras coisas.

Fala com brilho nos olhos e paixão nas palavras. Elena Durán admite que tem muita energia para controlar e participa em quase todas as atividades do Target, que acontecem regularmente, todas as semanas. “Tenho completa noção de que temos de cuidar da nossa saúde mental. É o trabalho, é a casa, ainda mais quando estamos a lidar com uma equipa e temos um compromisso muito grande com a sociedade. Movemo-nos para fazer algo com impacto e há muita pressão”, confessa. Vai a sessões de coaching com a sua equipa, o grupo senta-se numa roda, sem mesas no meio, coloca uma questão, um problema, fala do que fazer, como resolver, durante hora e meia.

"Movemo-nos para fazer algo com impacto e há muita pressão.” Elena Durán é empreendedora social, fundou a 55+, para valorizar talentos de pessoas desempregadas ou reformadas com mais de 55 anos.

Rita Chantre / Observador

No coaching individual, Elena Durán olha para dentro. “É mais profundo, mais para me conhecer, o que me faz ter mais ou menos energia, o que preciso fazer quando estou mais em baixo.” O que faz? “Pensar, pôr o nome às emoções, porque me sinto triste, porque me sinto angustiada, porquê. É sentir onde me dói quando sinto emoções negativas, perceber de onde vem alguma emoção do passado”, responde. Respira com mais calma para seguir em frente. “E se não estás bem, a tua equipa também não está bem”, avisa. Por isso, aprende estratégias, interioriza ferramentas, organiza a cabeça, sabe que tem responsabilidades acrescidas e que se move num território incerto num ecossistema bastante particular.

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A sua sala de trabalho, batizada de Sala Infinita, é um espaço aberto na Casa do Impacto, lugar dedicado ao empreendedorismo de impacto social e ambiental, a funcionar no antigo Convento de São Pedro de Alcântara, em Lisboa. Edifício do século XVII remodelado, branco por fora, salas adaptadas a novas funções, luz natural a entrar pelas janelas, corredores com velhos azulejos de padrões azuis e brancos, igreja reservada a eventos especiais, terraço e miradouro sobre Lisboa. Nessa sala, há sofás à entrada, algumas secretárias, pouco mobiliário. Numa das mesas, estão panfletos do Target. Na capa violeta, a frase “Tu és o nosso Target” e duas pessoas que saltam sem chão à vista. No verso algumas perguntas: “Sentes-te a navegar na maionese?”, “Nunca mais vês uma luz ao fundo do túnel?”, “Apetece-te pendurar as chuteiras?” Numa das entradas, estão dois cartazes na parede com a questão “Como te sentes hoje?”, em português e em inglês, e cartões à disposição com “mal” em cinzento, “bem” em verde, “assim-assim” a amarelo, para colocar nos frascos correspondentes. É uma maneira de perceber o “mood” geral do dia.

O projeto foi desenhado tendo por base um estudo feito pela Universidade Católica. Os resultados desse inquérito traçam o retrato emocional da comunidade de empreendedores da Casa do Impacto: 74% reconhecem que o trabalho influencia a sua saúde mental, quase 30% manifestam níveis de ansiedade moderada ou grave, 7,7% têm sintomas de depressão.

Setenta e quatro por cento dos empreendedores de impacto reconhecem que o trabalho influencia a sua saúde mental, 61% admitem um agravamento significativo da sua saúde física desde que têm essa função. Perto de 30% apresentam sintomas de ansiedade moderada ou grave, 20% manifestam níveis de insónia clinicamente significativos, 7,7% têm sintomas de depressão moderada ou grave. Os dados são de um estudo realizado pela Universidade Católica, através do Centro de Investigação Católica para o Bem-Estar Psicológico, Familiar e Social, ao ecossistema da Casa do Impacto, onde estão cerca de 200 pessoas e 74 empresas incubadas.

Os resultados serviram de base para a construção do Target, desenhado especificamente para o contexto do ecossistema de empreendedores de impacto. Arrancou em janeiro deste ano, é um programa gratuito, financiado pela Misericórdia de Lisboa e pelo Grupo Fidelidade, com um plano de workshops, encontros de fundadores, coaching individual, coaching de equipa, yoga, para os “residentes” da Casa do Impacto e empreendedores externos, para trabalhar o autoconhecimento, gerir expetativas, cuidar da saúde mental. De janeiro a outubro deste ano, foram realizadas 44 sessões para 66 participantes.

“Falamos dos nossos medos, das nossas preocupações, das nossas inseguranças”, diz Margarida Lehrfeld, fundadora de uma startup. Francisco Miranda é fundador da startup Class of Wonders

Rita Chantre / Observador

Margarida Lehrfeld sentiu na pele a ansiedade, a angústia, a incerteza de não saber como seria o seu futuro depois de terminar a formação académica. Estudou Escultura, especializou-se em Multimédia e em Design de Serviços para Negócios Sustentáveis, fundou a Nó, empresa que ajuda jovens a entrarem no mercado de trabalho em Portugal, foi uma das vencedoras da primeira edição do programa “Impact Journey” da Casa do Impacto, onde está há cerca de um ano. A sua startup está umbilicalmente ligada ao que viveu, ao que sentiu, ao que mexeu consigo. “É muito relevante o meu processo pessoal, não sabia o que queria fazer e stressei um bocadinho”, revela. Foi um trajeto conturbado. “Foi difícil saber o que fazer até começar a criar a minha própria realidade.” Tornou-se empreendedora de impacto social através da educação, de uma plataforma que ajuda na transição dos estudos para o mundo profissional.

Inscreveu-se no Target e tem participado em várias sessões. “Falamos dos nossos medos, das nossas preocupações, das nossas inseguranças.” Dessa forma, a vergonha de partilhar vai desaparecendo na comunidade que trabalha no mesmo espaço e que se vai cruzando em corredores, em salas de reuniões, na cozinha, no terraço. É um ecossistema particular e Margarida Lehrfeld sabe o que isso é. “A velocidade a que as coisas acontecem, é tudo muito veloz.” E sempre com aquela vontade de fazer acontecer, dedicar o tempo a uma causa. “Os altos são muito altos, os baixos são muito baixos, o desafio é tentar encontrar o equilíbrio”, confessa.

A pressão psicológica, a cabeça cheia,  o corpo a gritar

Francisco Miranda é licenciado em Engenharia de Produção e Gestão Industrial, pelo Instituto Superior Técnico, trabalhou numa multinacional norte-americana, depois fundou a startup Class of Wonders, tecnológica de estratégias e jogos para reinventar a sala de aula no início das aprendizagens, da língua e dos números, numa educação que pretende eficaz – está em 20% das escolas públicas portuguesas, em todas as regiões de Espanha, em quatro estados brasileiros, em algumas escolas da Guiné e de Moçambique. No mundo de possibilidades do que podia fazer, a sua costela de empreendedor falou mais alto, a sua causa é a educação. “Atuamos na falha do mercado. No fundo, estamos a montar um puzzle quase impossível”, confessa. E isso tem repercussões no bem-estar.

Está na Casa do Impacto desde o início, outubro de 2018, participa em algumas atividades do Target que o tem ajudado a ver-se por dentro. “Como uma lente para analisar situações e perspetivas e é bom sentir-me compreendido.” “A nível da saúde mental, sou confrontado com as minhas limitações”, acrescenta. Vai percebendo o que sente, a agitação, a angústia, o contexto, as suas próprias características. “Ajuda-me a prever e a resolver problemas, a saber mais de mim próprio, a regular-me para gerir melhor.” O stress pesa nos dias, neste momento, tem uma equipa de 10 pessoas na startup. “Como empreendedor social, sinto muita angústia e a pressão psicológica que vem com isso é uma sensação muito óbvia”, declara. Seja como for, procura ver o lado positivo do que acontece. “Olho mais para as coisas como oportunidades.”

“O que acontece muito no empreendedorismo é que enquanto o corpo der, é puxar, é puxar, é puxar, e o corpo está a gritar de todas formas, com cansaço, com dores, e já não dorme”, sublinha Marta Ganso, responsável pelas sessões de coaching individual e de equipa do Target. 

Marta Ganso coordena as sessões de coaching individuais e de equipa e tem observado níveis de burnout preocupantes. “E, muitas vezes, nem sequer têm consciência disso”, adianta. “O que acontece muito no empreendedorismo é que enquanto o corpo der, é puxar, é puxar, é puxar, e o corpo está a gritar de todas formas, com cansaço, com dores, e já não dorme.” É muita coisa: trabalho para entregar, prazos para cumprir, dificuldade de dizer não e não fazer pausas, esticar o tempo até onde for possível, sacrificar a saúde física e mental. A cabeça ressente-se e necessidades internas são ignoradas. “É preciso ter muita clareza de que o corpo e a cabeça já estão muito afetados com tudo o que está a acontecer e é preciso estabelecer limites.”

Nas sessões individuais, Marta Manso escuta primeiro, fala depois. “As pessoas chegam muito cheias de coisas e ali é um espaço de respirar, parar e centrar no que se está a passar por dentro.” É um tempo para ganhar consciência entre dias assoberbados, encontrar estratégias para respirar, para visualizar, gerir expetativas. “Ser empreendedor é uma posição muito solitária, uma situação complexa, com muitos desafios.” Muito stress e a angústia ligada ao retorno financeiro, muito à base de financiamentos externos, de empresas, do governo. A questão financeira aparece muito nas sessões e tudo o que isso implica em termos de saúde mental.

O programa é composto por várias atividades, momentos de yoga, encontros de fundadores, sessões que estimulam o autoconhecimento e a reflexão do que se passa dentro de cada um.

Rita Chantre / Observador

“Uma questão muito importante no empreendedorismo de impacto é que aquilo que lhe dá propósito para caminhar, ao mesmo tempo, e muitas vezes, acaba por ser um fator influenciador de não parar”, nota Marta Ganso. Trabalha-se mais horas, há muita dificuldade de desligar a ficha, sente-se a pressão social de que tem de dar certo, é difícil cortar, a relação emocional do julgamento do outro não dá descanso, sacrifica-se a saúde para ter resultados. É tudo junto. É fazer o próprio negócio andar, é a culpa que se sente quando se está parado.

Nuno Comando, diretor da Casa do Impacto, lembra como surgiu o Target, quando se juntou um grupo de organizações que trabalha a área da saúde mental, nomeadamente o Manicómio, e um conjunto de especialistas. Em cima da mesa, estavam os resultados do estudo da Católica com números palpáveis e um retrato difícil de ignorar. “Havia um diagnóstico que era complexo, que tínhamos de trabalhar, e passámos à construção do programa, reunindo um grupo de especialistas. O objetivo era dar ferramentas para que os nossos empreendedores tivessem uma resposta na Casa do Impacto a alguns dos problemas que estavam a sentir”, recorda.

"Ser empreendedor é extremamente difícil, e quando estamos a trabalhar com empreendedores de impacto, há ainda uma dimensão que é a carga emocional do seu trabalho e dos resultados. Objetivamente estão a tentar resolver um problema que viveram ou que assistiram ou de que estão muito próximos e isso é muito relevante”, observa Nuno Comando, diretor da Casa do Impacto. 

São vários os problemas e dificuldades, o sucesso ou insucesso é um deles. “Ser empreendedor é extremamente difícil, e quando estamos a trabalhar com empreendedores de impacto, há ainda uma dimensão que é a carga emocional do seu trabalho e dos resultados. Objetivamente estão a tentar resolver um problema que viveram ou que assistiram ou de que estão muito próximos e isso é muito relevante.” Nuno Comando refere ainda que é preciso quebrar o estigma à volta destes temas e que é preciso dar ferramentas. “No contexto da Casa do Impacto, para nós, é fundamental que estes sejam os empreendedores do futuro e, portanto, queremos manter a boa saúde mental destes perfis porque sabemos o papel que vão ter para resolver problemas sociais e ambientais.”

Há paredes da Casa do Impacto com folhas verdes que anunciam o plano de sessões semanais do Target. Há workshops em que cada participante reflete sobre o seu percurso e procura estratégias para manter o equilíbrio na sua vida pessoal. Há “founder circles” para fundadores das startups partilharem experiências. Coaching individual e de equipa, sessões personalizadas, estruturadas. Yoga para o bem-estar e conexão entre o corpo e a mente. As atividades têm uma periocidade mensal, em pequenos grupos, ou individualmente, de forma presencial ou online. E tudo o que acontece em cada sessão, fica nessa sessão.

O medo de falhar, a culpa de parar. Não há super-heróis neste ecossistema

Lizandra Gasparro participou numa sessão do Target que recorda com particular atenção. Foi um momento focado no corpo e na mente com um grupo de mulheres empreendedoras, com técnicas de movimento corporal e música a acompanhar. “Construímos momentos de cuidado, de pausa na nossa vida, de conexão, de pensar no que faço, no que entrego ao mundo”, lembra. Houve partilha, emoções, memórias. Quando acabou, bem-estar geral, mais tranquilidade, foram todas beber um café para se conhecerem melhor. “Tínhamos vontade de estender ao máximo esse momento”, garante. Sentiu-se mais leve emocionalmente e mais próxima das outras colegas. “Tanta coisa para pensar, tanta pressão que, muitas vezes, nem tempo temos para tomar um café”, comenta.

Estudou Comunicação Social em São Paulo, há cerca de dois anos que está na Casa do Impacto, acompanhou a génese do Target, faz parte da equipa da Transforma, startup que se dedica à sustentabilidade de negócios, com ferramentas e sistemas que monitorizam o impacto, com sede no Brasil. Lizandra Gasparro, especialista em negócios socioambientais, valoriza as paragens para encarar o que sente, pensar no que se faz, as conexões com o mundo. Faz meditação e o contacto com a natureza acalma-a, desde pôr os pés na terra a caminhar.

Lizandra Gasparro, especialista em negócios socioambientais, acompanhou a génese do Target, já partilhou emoções e memórias. “Construímos momentos de cuidado, de pausa na nossa vida, de conexão."

Rita Chantre / Observador

O Target permite-lhe ver-se ao espelho, conhecer-se a si e aos outros. “Muitas vezes, não sabemos quem é o nosso vizinho, o que é que ele faz”, repara. Num ecossistema de empreendedores, há tensão permanente. “O compromisso com a causa, o comprometimento com a transformação, é muito grande. E a saúde mental dos empreendedores incide no próprio impacto que se pretende e no grupo com o qual se trabalha”, remata.

Um dos aspetos que a coach Marta Ganso trabalha é a inteligência de grupo, como a equipa funciona enquanto sistema, a comunicação, a produtividade. “Logo aí há muitas coisas que vêm ao de cima sobre as dinâmicas.” A responsabilização, a definição clara de tarefas, o que funciona, o que não funciona. Por vezes, há emoções que vêm à superfície, descargas do que remói por dentro, e é preciso verbalizar. Aplica exercícios de respiração, de visualização, estratégias para implementar no dia a dia em momentos de ansiedade. “Não há super-heróis e é necessário parar para o processo criativo estar ativo. Quando o corpo não dá resposta às necessidades do negócio e pessoais, é preciso estabelecer limites.”

Desde que foi lançada, em outubro de 2018, que a Casa do Impacto tem uma preocupação com o bem-estar emocional. “Sempre foi um tema que trabalhamos”, assegura Nuno Comando. Na pandemia, recorda, surgiu “A Calma Online”, plataforma para pessoas com crises de ansiedade no contexto pandémico, com profissionais preparados para esse cenário. Um programa que reuniu várias entidades e parceiros, cuja adesão foi bastante significativa.

“Há muita coisa para gerir e é essencial e necessário olharmos para o que sentimos, para a saúde mental”, realça Elena Durán que confessa que é uma pessoa acelerada.  Tem uma equipa de cinco pessoas para gerir e três filhos. O Target tem-na ajudado a organizar-se, fala de si, do que a preocupa, do que precisa para estar bem. “Tive consciência de que tinha assuntos que me preocupavam, precisava ter um plano para o que tenho de fazer. Descobri, com o programa Target, por um lado, a mim, internamente; e, por outro, o que tenho de aprofundar e estar bem para transmitir à equipa.” Elena não faz yoga, vai ao ginásio, 45 minutos à hora de almoço, quando o tempo lhe permite. “Para desconectar, para me libertar, tenho muita energia.”

Margarida Lehrfeld também sente que lhe tem feito bem falar, conversar, serenar. Percebe que não está sozinha, que há exercícios de respiração, que é fundamental escutar o corpo e as emoções. “Desanuviamos e relativizamos. O mais importante é mudar a perspetiva e aceitarmos o próprio caminho.” Saber gerir o tempo é saber gerir a cabeça. “Quando tenho muitas coisas para fazer, tenho dificuldade em colocá-las nas janelas certas”, conta. As sessões do Target dão-lhe calma, formas de planear, além de perceber o que sente e de não fazer comparações. Os níveis de stress e a ansiedade descem e a sua saúde mental agradece.

Na Casa do Impacto, a preocupação com o bem-estar emocional não é de agora. Desde o seu início, em outubro de 2018, que é considerado assunto importante. “Sempre foi um tema que trabalhamos”, assegura Nuno Comando. Na pandemia, recorda, surgiu “A Calma Online”, plataforma para pessoas com crises de ansiedade no contexto pandémico, com profissionais preparados para esse cenário. Um programa que reuniu várias entidades e parceiros, cuja adesão foi bastante significativa, assegura. “No regresso à dita normalidade, começámos a sentir, junto da nossa comunidade e dos fundadores, ainda mais pressão na forma como se relacionavam. Sentíamos que a nossa comunidade não estava tão ligada no pós pandemia, tínhamos necessidade de criar mecanismos.”

Nuno Comando é diretor da Casa do Impacto e recorda o estado do ecossistema pós pandemia que deu origem ao Target. Marta Ganso estrutura as sessões e revela que há emoções que vêm à tona

Rita Chantre / Observador

Havia que criar respostas e um novo programa nasceu. “A Casa do Impacto tem como objetivo agregar pessoas que são muito parecidas, que trabalham para o bem comum, para resolver problemas da sociedade. Sentíamos que a nossa comunidade, por força das alterações do modelo de trabalho, mas também porque os nossos empreendedores não estavam bem, estava numa situação de pressão ainda mais evidente, sentíamos que precisávamos de fazer alguma coisa e foi aí que surgiu o Target”, recorda Nuno Comando. Em janeiro de 2025, o programa será avaliado para analisar o que tem sido valorizado, o que pode ser ajustado, perceber os próximos passos. “Tem sido importante para a comunidade e há espaço para melhoria”, sublinha o responsável.

Francisco Miranda sabe como a sociedade olha para um empreendedor. “Como um profissional invencível, que aguenta tudo”, descreve. Contudo, esse retrato não encaixa na realidade. No Target, tem participado nas sessões de coaching em equipa. Muitas vezes, sente que se vê ao espelho. “Partilho as dificuldades que tenho ao lado de pessoas que têm experiências iguais às minhas. Tudo o que falo é rapidamente percebido como válido.” A linguagem é comum, as emoções tocam-se, por vezes, os gatilhos psicológicos expõem-se naqueles momentos. “Quando não estou bem, não consigo trabalhar bem”, afirma Francisco que, quase no fim da conversa, diz que trabalhar num sítio luminoso, com luz natural, ajuda ao bem-estar e à saúde mental.

Elena Durán é espanhola, estudou comunicação, administração, gestão de organizações e projetos em Málaga e Salamanca, trabalhou numa agência de marketing digital em Madrid, veio para Portugal para uma multinacional de consumo na área de gestão, marketing, vendas e estratégias. Acabou por ficar e mudou de direção. “Senti que tinha de fazer uma coisa com impacto, alguma coisa em que acredito.” E assim surgiu a 55+. “A sociedade mudou, para melhor, ganhamos mais anos de vida, temos desafios novos, novas propostas e soluções para uma sociedade que é diferente.” A sua startup procura oportunidades nas comunidades para que pessoas com mais de 55 anos se sintam “ativas, reconhecidas, valorizadas e felizes.” Quanto a si, continuará a ir às sessões do Target, a contar de si, a olhar para os outros.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

Uma parceria com:

Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento Hospital da Luz

Com a colaboração de:

Ordem dos Médicos Ordem dos Psicólogos

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