O PS apresentou, esta sexta-feira, os cabeças de lista às próximas eleições legislativas, mas o protagonista acabou por ser o físico Alexandre Quintanilha, que vai encabeçar a lista do Porto. “Ontem, num café, no Porto, veio uma senhora de uma certa idade ter comigo, aproximou-se e perguntou: ‘o senhor é que é o senhor Alexandre? Sabe, tem uns cabelos muito bonitos, deixe-os crescer mais”. Foi ele o segundo a subir ao palco para dizer que, apesar nunca lhe ter “passado pela cabeça estar nesta posição”, era esta altura de ajudar. Costa seguiu-lhe os passos e pediu a todos os cabeças de lista que o ajudassem a recuperar a “confiança minada” pelo Governo de Passos.

O retrato de família tinha sido tirado minutos antes, na escadaria da Reitoria da Universidade de Lisboa. Figuras mais conhecidas dos corredores de São Bento, como Pedro Nuno Santos, José Vieira da Silva e Ferro Rodrigues, líder da bancada parlamentar socialista, misturavam-se com alguns estreantes nestas andanças como Manuel Caldeira Cabral (Braga), Tiago Brandão Rodrigues (Viana do Castelo) e o próprio Alexandre Quintanilha, um dos rostos da “diversidade” e da “renovação” que Costa assumiu como prioridades para o partido.

Retrato dos cabeças de lista do PS para as próximas eleições. Crédito: Sebastião Almeida @ Observador

“Nunca fiz discursos políticos e, portanto, sinto-me muito nervoso”, começou por admitir o cientista, que há semana e meia, como o próprio confidenciou, tinha dado a última lição na Universidade. “[Nessa altura] senti-me extremamente livre e leve e com imensa disponibilidade para explorar novas áreas de conhecimento”. Um dia depois de ter jubilado, no entanto, chegaria o convite irrecusável. “Fiquei muito assustado. Nunca me tinha passado pela cabeça estar nesta posição”, reconheceu.

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Mas a viragem dos “últimos quatro anos” na confiança dos portugueses levaram-no a considerar e a aceitar o convite de Costa, continuou Quintanilha. “Essa viragem assustou-me de tal maneira, que é essencial que nós voltemos a dar a noção clara de que é preciso ter confiança”, afirmou o homem que nasceu em Lourenço Marques, estudou em Joanesburgo e que lecionou durante vários anos nos Estados Unidos.

Seguiu-se-lhe Costa. Entrou no Salão Nobre da Reitoria ao som de “À Minha Maneira” dos Xutos & Pontapés, no dia em que completa 54 anos. E não resistiu em pegar nas palavras de Alexandre Quintanilha: “Todos nós que fomos autarcas sabemos que nos dizem que começámos com o cabelo bonito. O difícil é, no ano seguinte, continuarmos com o cabelo bonito”, gracejou o líder socialista, antes de liderar o ataque a Passos: “O Governo minou a confiança dos portugueses. Esse foi maior falhanço deste governo “. Por isso, “quando, daqui a um ano, o Alexandre voltar aquele café e encontrar aquela senhora [será bom sinal] que ela lhe diga ‘Alexandre, o seu cabelo ainda está mais bonito'”.

Estava lançado o mote para o discurso de Costa: é preciso restabelecer a confiança dos portugueses nos eleitos e fazê-lo através de uma aposta determinada no conhecimento. É tempo de “mudar desta maioria para outra maioria que tenha no conhecimento o ‘alfa’ e o ‘ómega’ da sua governação”, sublinhou o líder socialista.

Durante o discurso, Costa insistiu naqueles que são os quatro pilares do PS para a próxima legislatura: “valorização dos recursos”, “modernização do tecido empresarial e do Estado”, “investimento no futuro da educação e ciência” e “o reforço da coesão e do combate às desigualdades”.

As batalhas do secretário-geral do PS, caso seja eleito primeiro-ministro, vão passar pela “reposição dos rendimentos das famílias”, pela “resolução dos problemas de financiamento das empresas” e pelo “combate à precariedade no emprego”. “Não há uma sociedade decente onde 90% dos contratos são a prazo e apenas 20%” se convertem em contratos sem termo. Mais, disse Costa: “Se não queremos perder a geração mais qualificada” de sempre “nós temos de dizer que o país não desiste dela”.

Perante um auditório à pinha – que não deixou escapar a oportunidade de cantar o “parabéns a você” a António Costa -, o líder socialista garantiu, mais uma vez, que vai bater-se, no palco europeu, por uma “leitura inteligente das regras orçamentais”. E sem nunca esquecer os sociais-democratas – que na semana passada traçaram um perfil de deputados que prevê a exclusão em caso de discordância reiterada -, Costa deixou bem claro aos seus camaradas: “Nunca calem a divergência, porque a liberdade de cada um, é a melhor garantia que podemos dar aos cidadãos” que aquilo que é dito e, campanha “não foram só promessas” e que “cada compromisso assumido é uma palavra dada e uma palavra que terá de ser honrada”.