Muitos dos jogos lançados semanalmente têm por público-alvo as crianças, mas conseguem ser tão ou mais apelativos e divertidos para os pais. Num mercado onde saem (literalmente) dezenas de jogos por dia, a necessidade de cada obra de se distinguir das restantes é imensa e é por isso que, aliada à evolução tecnológica, temos tido experiências criativas que ultrapassam a barreira do que imaginamos ser habitual num videojogo. E neste segmento de videojogos para pequenos que alegram os graúdos, falamos de três jogos (e meio) distintos que se evidenciam pela criação de mundos fascinantes, com materiais e estéticas que associamos facilmente à infância e que são também três óptimas propostas (e meia) de jogos inteligentes, que facilmente conseguem reunir toda a família.

A Nintendo e os bonecos e novelos de lã

A utilização de mundos de lã como estética envolvente de um jogo não é de todo novidade. Já em 2010 a Nintendo tinha pegado num dos seus mais carismáticos personagens, o simpático Kirby, e levou-o para um mundo constituído por bordados e novelos de lã. A Grande N volta à carga (ou no caso, às agulhas) transportando outra figura da companhia para um mundo completamente feito de lã. Yoshi’s Wooly World traz-nos a jogabilidade habitual dos jogos de Yoshi mas num mundo em que o feiticeiro Kamek transformou todos os simpáticos Yoshis em novelos de lã e em que nos cabe a tarefa de salvar o dia.

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As capacidades de processamento gráfico da Wii U tornam a recriação deste mundo inteiramente feito de lã num ambiente muito verosímil. Nas largas horas de jogo em que decorre a história e nos muitos níveis de Yoshi’s Wooly World, não sei quem ficou mais espantado com o mundo colorido, animado e bordado a lã que ali encontrámos: se eu ou o meu filho de dois anos e meio, que tem o Yoshi como um dos seus heróis.

Como não poderia deixar de ser, a Nintendo criou também três amiibos alusivos a este jogo (com cores diferentes e que são verdadeiramente tecidos em lã, e que aguardam a chegada neste Inverno de um gigantesco amiibo do Mega Yoshi.

Um jogo para jogar sozinho ou em companhia (já que permite dois jogadores), neste período em que o calor nos começa a abandonar, de preferência com as velhas camisolas de lã bordadas pelas nossas avós e tias, com um chocolate quente ao lado, pais e filhos a desfrutarem de um divertido mundo quase tangível de lã.

Claymation: quando a plasticina se transforma em vida

Em 1996, o estúdio The Neverhood, Inc. lançou através da DreamWorks Interactive um dos jogos mais criativos da década: Neverhood. O jogo distinguia-se de todos os criados até então por ser construído na íntegra com animação de plasticina, a par do que o estúdio Aardman Animations fez com os intemporais Wallace and Grommit para o pequeno e grande ecrã. Neverhood era um jogo de aventuras point-click, em que resolvíamos uma série de puzzles e em que a narrativa era a tónica de toda a obra. Mas depois de uma incursão pela PlayStation em 1998 com The Skullmonkeys e BoomBots de 1999, o estúdio acabaria por extinguir-se, deixando esta aventura de plasticina em terras dos videojogos em perfeito standby.

É em 2013 que Doug TenNapel, autor de Neverhood, decide ressuscitar o seu sonho antigo de fazer videojogos com técnicas de animação stop motion em plasticina e lança uma campanha de crowdfunding de muito sucesso. Armikrog, o seu novo projecto surge na linha criativa de Neverhood, e foi para os fãs desse jogo de culto que desenvolveu esta nova obra num mundo semelhante.

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A par do que acontece com Yoshi’s Wooly World, também em Armikrog toda a estética do jogo acaba por ser altamente potenciada pelo poder tecnológico actual. O jogo em alta resolução permite-nos quase sentir cada uma das figuras em plasticina, cada cenário é tão palpável que conseguimos identificar as marcas digitais dos animadores na plasticina, permitindo aproximar o jogo com as grandes produções de cinema de animação em stop motion.

Em Armikrog vivemos a história de Tommynaut e do inteligente e daltónico cão Beak-beak, que se despenham num planeta chamado Spiro 5 e que ficam encarcerados na misteriosa fortaleza de Armikrog. Com um cenário, enredo e puzzles muitas vezes próximo do surreal, Armikrog é um jogo que, à semelhança de muitos filmes da Pixar, são dirigidos para o público infantil mas em que são os adultos quem compreende e apreende o subtexto da história e do humor subjacentes.

Cartolinas, papel, tesoura e cola: os ingredientes para um mundo mágico

Quando a Sony anunciou na Gamescom 2012 o lançamento de uma nova série criada pelo estúdio Media Molecule (famoso pela criação da mais do que familiar série Little Big Planet), quase toda a gente ficou entusiasmada. E esse entusiasmo intensificou-se automaticamente quando as primeiras imagens de Tearaway, o jogo que contém um mundo altamente interactivo totalmente constituído por formas recortadas de papel e cartolina.

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A história simples mas ternurenta de Tearaway colocava-nos a controlar um pequeno mensageiro que tinha como único objectivo entregar uma mensagem a nós mesmos, os jogadores. Para isso fazíamos uso de toda as potencialidades e interactividades da PS Vita, desde a utilização da câmara, do ecrã táctil e do painel de toque traseiro. Este mundo desenrolava-se lentamente, ganhava vida, como um diorama gigante animado aos nossos olhos. Tearaway tornou-se de imediato um dos jogos mais aclamados da consola portátil da Sony.

Ainda na temática do papel, aproveito para fazer um interlúdio para falar de um pequeno jogo indie lançado para PC, iOS e Wii U, chamado Tengami, cuja história com laivos orientais é totalmente contada através de origamis e demais estruturas de papel cortadas e dobradas. Estruturas essas recortadas em cartolina e digitalizadas para o jogo que tivemos a sorte de poder ver ao vivo durante a Gamescom 2014, resultando num dos jogos mais poéticos que conhecemos no ano passado.

Mas desdobrando o origami e virando a página do livro de Tearaway, foi lançada uma versão do jogo em alta definição, estendida e alterada para a PS4. Tearaway Unfolded é mais do que um simples remake, trazendo mecânicas novas que utilizam os comandos Dual Shock 4 da consola doméstica da Sony para recontar a terna história desenvolvida pelo estúdio Media Molecule.

Com um lançamento algo subtil (e justificável, visto que para muitos trata-se de um upgrade a um jogo lançado há dois anos), Tearaway Unfolded brilha em todo o seu esplendor no ecrã da TV onde, graças à alta resolução da consola, conseguimos perceber todos os os pequenos detalhes que fazem deste mundo tão delicado, doce e mágico uma experiência única para pais e filhos, como uma nova forma de contar uma história, ou aliás, de viver uma história em família.

Ricardo Correia, Rubber Chicken