Quando há seis meses chegou às livrarias O Luto de Elias Gro, era difícil imaginar que João Tordo já estava a caminho de terminar um novo romance. E muito menos que na cabeça do autor português, que em 2009 venceu o importante Prémio José Saramago, estava o projeto de uma trilogia. O segundo livro, O Paraíso Segundo Lars D., vai ser publicado a 11 de novembro, pela Companhia das Letras. Em 2016 chega o terceiro e último, garantiu o autor.

“Comecei logo com a ideia de que seria uma trilogia”, explicou João Tordo na apresentação do livro aos jornalistas, em Lisboa, esta quarta-feira. Ainda antes de terminar o primeiro, já estava sentado ao computador a escrever esta narrativa sobre Lars D., um escritor sexagenário que perdeu a vontade de escrever. Quem leu O Luto de Elias Gro irá reconhecer este nome. “Tinha deixado o personagem Lars um bocado em suspenso no primeiro livro e senti que a história ainda não tinha sido contada, mas aqui surge reinventada”, disse.

Porto, 26/04/2015 - A Porto Editora promoveu esta tarde, na Casa das Artes no Porto, mais um ciclo de conversas com escritores, " Porto de Encontro " com o romancista João Tordo. Sérgio Almeida; João Tordo ( Fernando Pereira / Global Imagens )

Quando um escritor perde a escrita, o que resta da sua identidade? ©Fernando Pereira / Global Imagens

Se os sentimentos que dominavam o texto anterior eram o luto e a dor de um homem que escolheu mudar-se para uma ilha no meio do Atlântico em busca da solidão, n’O Paraíso Segundo Lars D. reflete-se sobre a perda e o vazio que ela causa numa pessoa, através da narrativa da mulher de Lars. “O que é que resta de nós se perdermos uma coisa muito importante”, como a escrita num escritor, “onde pomos a nossa identidade se isso falha?”. Para criar Lars D., João Tordo inspirou-se no escritor sueco Lars Gustafsson, que em 1978 publicou A Morte de um Apicultor.

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“Talvez seja esta a resolução de toda a inquietação, o fim de toda a angústia: sabermos, no nosso interior, que toda a inquietação ou angústia são manifestações de uma mesma coisa, de um desejo de união com alguma coisa inefável que resiste a mostrar-se.”, excerto de O Paraíso Segundo Lars D.

Sim, haverá muitos detalhes em comum entre as três obras, a começar pelo substantivo e o nome de um personagem da história que se encontram em ambos os títulos — João Tordo confirmou que o terceiro irá manter o formato, mas não quis desvendar muito mais. As atenções estão agora concentradas n’O Paraíso Segundo Lars D.. Apesar da semelhança dos títulos, e do regresso deste personagem, “as histórias são independentes” e não há uma cronologia a seguir, pelo que os livros podem ser lidos sem qualquer ordem, explicou o autor.

“É o romance mais pequeno que já escrevi”, disse. Aos 40 anos, João Tordo já soma nove, entre os quais As Três Vidas, com o qual ganhou o Prémio José Saramago. Com O Luto de Elias Gro assumiu uma viragem na narrativa, sobrepondo a densidade dos personagens e das suas múltiplas histórias ao suspense da resolução de um mistério. Pelo menos até 2016, este continuará a ser o caminho.