Lembra-se daqueles investigadores da Universidade de Columbia que vieram explicar o que o seu mês de nascimento podia dizer sobre a sua saúde (física e mental)? Graças ao método algorítmico que criaram puderam aceder à base de dados de um hospital nova iorquino e anunciar ao mundo que os nascidos em maio eram os mais sortudos e os nascidos em março os que tinham o coração mais forte. Pois bem, essa mesma equipa chegou com mais conclusões.
Desta vez veio dizer que, afinal, até a estação do ano em que nasceu pode ter influência na sua saúde. Os 1,7 milhões de dados recolhidos no Hospital Presbiteriano de Nova Iorque e as 1688 doenças contempladas no estudo permitiram saber a que tipo de problemas de saúde tem de estar atento conforme tenha nascido no verão, outono, inverno ou primavera, o que também vai permitir aos médicos analisar a condição física dos pacientes por antecipação. Ainda que, obviamente, tudo dependa obviamente da região do globo de que estaremos a falar.
Procure pela sua estação do ano na infografia. Depois explicamos-lhe tudo, um pouco mais abaixo.
Primavera
Os nascidos na primavera são 5% mais propensos a ter doenças autoimunes, como esclerose múltipla, artrite reumatoide e colite ulcerosa. É o que dizem as estatísticas sobre aqueles que vieram ao mundo no mês de abril, em oposição às evidências encontradas para os nascidos em outubro, anunciou o BMC Medicine há 3 anos. Isto pode acontecer porque o terceiro trimestre de gravidez (dos que nascem na primavera) se inicia numa altura em que os níveis de vitamina D estão muito baixos, algo que pode afetar o desenvolvimento do sistema imunitário.
Mais uma estatística desfavorável, do The International Journal of Cancer: quem veio ao mundo entre março e maio têm 25% mais probabilidade de desenvolver linfoma de Hodgkin, um cancro nos gânglios do sistema linfático, do que os nascidos em setembro e novembro. Isto pode acontecer porque os bebés nascidos na primavera não enfrentaram determinadas infeções ambientais (o frio do inverno, por exemplo) nos momentos fulcrais do desenvolvimento imunológico, o que pode desencadear respostas desadequadas.
As pessoas nascidas na primavera também têm 21% mais possibilidades de desenvolver melanoma ao chegarem à casa dos 30 anos do que os nascidos no outono, talvez porque estão mais expostos aos raios UV do tipo A nos primeiros tempos de vida. É o que noticia o International Journal of Epidemiology.
Verão
Os nascidos no verão têm mais tendência para desenvolver problemas de visão, escrevem os cientistas num estudo publicado no Investigative Ophtamology and Visual Science: há 17% maior probabilidades de terem miopia do que aqueles que sopram as velas no inverno. Porquê? Os cientistas desconfiam que também isto tem relação com os fatores ambientais, nomeadamente com a temperatura e a luz solar que enfrentam.
Agora, a psicologia: dizem os estudos que as pessoas nascidas no verão têm um temperamento ciclitímico, isto é, mudam de humor com muita regularidade e repentinamente, explica o Science Direct. Passam facilmente de um estado alegre para triste. E não, não é uma questão de signos: depende do funcionamento dos neurotransmissores, algo também determinado pelos agentes externos (germes, por exemplo) presentes no ar e pela temperatura que se sente imediatamente antes e depois do parto.
Estes dados conduzem-nos para outro problema: os nascidos no verão têm maior tendência suicida do que os que nasceram no resto do ano, indica o Science Direct num relatório de 2010. Os bebés que nasceram em julho vieram a ser 14% mais propensos para o suicídio do que os que vieram ao mundo em dezembro, o mês onde nascem menos suicidas.
Outono
Crianças nascidas no outono são 30 a 90% mais propensas a ter alergias alimentares, nomeadamente a leite, ovos ou amendoins, concluiu um estudo publicado na revista Allergy em 2012. Isto pode acontecer por causa da falta de vitamina D, que afeta o sistema imunitário e favorece a suscetibilidade a certos alérgenos. Isto porque a pele, que é uma barreira contra os agentes externos, também se torna menos eficiente.
Um outro estudo, desta vez no European Respiratory Journal também em 2012, veio dizer que crianças nascidas no outono têm 13% mais probabilidade de sofrer de asma do que as crianças nascidas na primavera. A exposição a um clima frio nos primeiros meses de vida enfraquece o sistema imunitário, o que pode conduzir à patologia.
Inverno
Há maior probabilidade de um indivíduo ter a mão esquerda (ser canhoto) como predominante se nascida entre novembro e janeiro do que em qualquer outra estação do ano, dizem investigadores alemães num estudo noticiado no Science Direct. Mas isto só é válido para os homens. Os cientistas acreditam que esta relação tem por base os níveis de testosterona a que o feto está exposto no útero, que pode afetar o desenvolvimento cerebral: quanto maiores forem esses níveis, menor o ritmo de amadurecimento do hemisfério esquerdo do cérebro.
Acontece que entre maio e junho (quando há mais horas de luz) há maior secreção de testosterona. Isto significa que os nascidos no inverno e no final do outono estiveram mais expostos à testosterona nos primeiros quatro meses de gestação, uma altura fulcral para o desenvolvimento das nossas capacidades motoras.
Mas não são apenas físicas as diferenças entre os nascidos no tempo quente e no tempo frio. Na psicologia também existem dados a ter em conta, pode ler-se no MIT Press Journal: os nascidos no inverno parecem ter mais tendência para ter problemas socioeconómicos, porque também há mais probabilidade de as mães que dão à luz no inverno serem solteiras ou com estudos inferiores. Mas esse é um outro estudo.