Está habituado a ser o rei das mesas dos portugueses, sobretudo na noite de consoada, quando por norma é servido cozido, acompanhado de batatas e couves. Mas agora a conversa é outra: não é que o trono do peixe que por cá se come demolhado esteja ameaçado, mas há dois príncipes que se juntam à família real. Um é branco e outro é tinto, e ambos são provenientes de vinhas alentejanas.

Paulo Laureano é o responsável máximo pelos vinhos que querem cativar os portugueses pela altura do Natal, e não só. O enólogo de bigode aprumado (é a sua imagem de marca) quis “encontrar o melhor vinho do mundo para o melhor bacalhau do mundo”. Admitindo que estes são conceitos “difíceis de definir”, Laureano fez o melhor que pôde, mas não o fez sozinho. A ele juntaram-se dezenas de especialistas numa conta que enófilo fez: oito vinhos, oito receitas de bacalhau trabalhadas pelo chef Vítor Sobral, dois dias intensos de provas e dezenas de chefs, gastrónomos, escanções e jornalistas do setor a ajudar.

Se no primeiro dia foram bochechados/engolidos quatro vinhos brancos e quatro tintos de diferentes regiões produtoras do país — emparelhados com as receitas de bacalhau –, no segundo tomavam-se decisões difíceis sobre os quatro néctares que resistiram à eliminação dos jurados. A conclusão, essa, demorou a chegar, uma vez que os testes finais foram duplamente repetidos.

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Depois de analisadas 13.824 respostas, resultantes das diferentes combinações, eis que surgem os vinhos “Bacalhau” — colheita de 2014 e provenientes de terroirs alentejanos. O branco, monocasta Antão Vaz, estagiou durante quatro meses em barrica nova e é um vinho fresco, com estrutura. Diz Paulo Laureano que o salgado do bacalhau pede precisamente por essa estrutura, embora a bebida não deva ser “excessivamente ácida”.

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Os vinhos brancos foram, por maioria absoluta, a preferência de quem os provou depois de uma garfada de bacalhau. Mas a ambição também era tinta, pelo que o vinho encontrado — à base de quatro castas, incluindo a Tinta Grossa –, foi o mais consensual. E se há quem estranhe a maridagem, o enólogo do momento responde: “O tinto vai ficar melhor à medida que os sabores no prato vão aumentado, à medida que há mais gordura, a qual vai ser cortada pelos taninos.” Por gordura entenda-se o fio de azeite que se acrescenta à posta de peixe ou as natas adicionadas.

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Tanto o branco como o tinto prometem ser versáteis o suficiente para acompanharem o bacalhau cozinhado nas suas diferentes formas. E por falar nisso, o Conselho Norueguês da Pesca (Norge) fez um estudo por ocasião do lançamento dos vinhos — foi preciso bater à porta de 4.000 lares portugueses para descobrir o top 10 das receitas de bacalhau preferidas dos portugueses.

Pasme-se ou não, a ocupar a primeira posição (e a barriga de muitos) está o bacalhau à brás, seguido do bacalhau assado no forno, do bacalhau com natas e do bacalhau assado na brasa. O cozido, que provavelmente vai regar milhares de mesas neste Natal, chega no quinto lugar. Caso esteja curioso, pode ver o top 5 em fotogaleria.

Os vinhos estatisticamente credivéis — e bons, por sinal — estão disponíveis por 15,99 e 12,99 euros, tinto e branco, respetivamente.