All i want from christmas is youuuuu….

A música de fundo já tocava, o pinheiro de natal estava recheado de bolas e enfeites, rodeado de caixas e sacos de prendas. É certo que as crianças fazem a festa maior, mas poucos serão os adultos que não gostam de receber prendas. Há as pessoas mais delicadas que descolam o papel com todo o cuidado e há as mais curiosas (ou ansiosas, vá) que rasgam o embrulho à velocidade da luz. Rufam os tambores, a curiosidade vai em crescendo… e, de repente, a esperança dá lugar à deceção: há (quase) sempre uma prenda que não é nada do que se esperava e que destoa no armário lá de casa. O desejo? Trocar de imediato. Será essa a melhor opção? Afinal, o que podemos (e devemos) fazer aos presentes de que não gostamos? Deixá-los morrer no armário? Enfiá-los naquela gaveta cheia de bugigangas? Esquecê-los num recanto escuro da garagem?

Claro que não, mas vamos por partes. Primeiro que tudo, quer gostemos da prenda que recebemos ou não, existem algumas regras que devemos seguir para não ofendermos quem tirou alguns momentos do seu dia (e na época de Natal, a corrida às lojas pode ser um verdadeiro desafio) para nos comprar um presente. Na dúvida, a educação é como o vestido preto: nunca compromete. “Todos os presentes são, ou deviam ser, bem recebidos e agradecidos. Mesmo que não goste nada do que lhe ofereceram, agradeça efusivamente o trabalho que a pessoa teve a escolher um presente para si”, diz ao Observador Isabel Amaral. A especialista em questões de Imagem, Comunicação e Protocolo explica: “A regra de ouro é não magoar quem oferece”.

E o melhor é mesmo estar preparado para disfarçar, venha a prenda de quem vier. Primeiro, porque “em Portugal se deve abrir o presente e agradecê-lo logo”, e depois porque não há lugar para ser apanhado desprevenido: “Nunca se deve mostrar uma expressão de desagrado quando nos oferecem alguma coisa. Quando muito, fazer um ar de surpresa”, esclarece a especialista, que acaba por dar uma ideia: A frase “não devias ter comprado nada!”, pode ser um bom desbloqueador e uma forma de “esconder o desagrado”.

Ou seja, não há desculpas para a má educação. Se houve alguém que pensou em si, saiu de casa para a azáfama das lojas e gastou dinheiro para lhe dar uma lembrança, o mínimo que devemos fazer é agradecer, salienta a especialista em protocolo. Claro que nem sempre é fácil controlar algum esgar mais genuíno (que acontecerá eventualmente com aquela tia-avó afastada que só vemos na festa de Natal e que, por não nos conhecer – ou ter mau gosto, vá – nunca acerta na prenda). O melhor é mesmo preparar-se antes de desfazer o embrulho: “Só se for uma criança é que pode dizer que não gosta”. Mas atenção, os pais destas crianças mais expressivas são os responsáveis por “disfarçar a má educação do filho”.

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E já que pegamos no assunto dos miúdos, a especialista em Imagem, Comunicação e Protocolo, também explica que testemunho devemos passar às nossas crianças. “Os pais devem ensinar a agradecer tudo o que recebem. Devem explicar que as pessoas são muito simpáticas por se lembrarem de comprar presentes para os filhos dos outros, mas que às vezes não sabem escolher o presente adequado. Agradecer o que nos oferecem é uma regra básica da boa educação, que deve ser transmitida de geração em geração”. Mas esta é só a regra da boa educação à frente dos demais. Porque se o filho não gostar mesmo do presente, mais vale trocá-lo do que deixá-lo esquecido no armário.

Passada a fase das regras de etiqueta, vamos a casos práticos. Afinal, o que devemos fazer aos presentes que recebemos (sim, os das tias afastadas, principalmente) e de que não gostamos? Preparámos várias sugestões, é só seguir as pistas abaixo.

Voltar a oferecer. (Sim, é verdade. Mas shiu!, não precisa de contar isso a toda a gente)

Para o fazer, faça-o em estilo e como deve ser: “Uma vez recebi um presente de uma pessoa e no fundo do pacote vinha um cartão assinado por outra que eu não conhecia”, recorda Isabel Amaral. Para evitar estes desastres, e não correr o risco de mostrar que a prenda é requentada, a especialista lembra: “Convém verificar se ficou algum cartão de boas festas ou de visita no fundo do saco”. Depois da vistoria feita, “pode voltar a oferecer”. Para isso basta “manter o presente na embalagem original ou voltar a embrulhar, se for preciso”. Mais: “Guarde o presente escrevendo um post it com o nome de quem lho ofereceu, para não se enganar na altura de o voltar a oferecer, acabando por dar à à mesma pessoa que lho deu”, graceja. E não se sinta mal por fazê-lo: “Quando recebemos presentes de que não gostamos ou que não nos servem, é perfeitamente aceitável oferecê-los a outras pessoas, desde que quem nos ofereceu nunca venha a saber”. E já agora, que encaixe no gosto da pessoa a quem o vamos dar.

Trocar

Sim, nada de novo, mas nunca é demais lembrar. Sobretudo com as dicas que Isabel Amaral oferece para que nada nos escape: “Se o presente vier com talão de compra, pode trocar por outra coisa sem qualquer problema. Se não gostar de nada do que houver nessa loja, terá de o passar a outra pessoa com alguma rapidez”. E a especialista até ensina alguns truques para um eventual momento em que lhe perguntem pela prenda: “Se receber o presente de uma pessoa próxima que lhe vai perguntar por que nunca usa aquele top que lhe ofereceu no Natal, pode dizer que o tentou trocar por outro número, mas que já não havia o seu tamanho e, por isso, trocou-o por outro que usa imensas vezes”.

Há outros casos. Imaginemos que a tal tia oferece dois presentes diferentes a duas sobrinhas e que as raparigas gostam mais do presente que a outra recebeu. Se as sobrinhas preferirem trocar os presentes entre si, podem fazê-lo, “mas sem dizer nada à frente da tia”, alerta Isabel Amaral.
Algumas lojas recusam-se a trocar as prendas (ou a devolver o dinheiro) se o produto não tiver nenhum defeito, mas a maioria dos comerciantes quer que os clientes regressem e, por isso, costuma fazer a troca sem qualquer complicação.

Doar

O reaproveitamento dos presentes não se esgota facilmente. E ainda bem. Doar um presente que não nos dá jeito, é uma boa forma de nos livrarmos da oferta sem sentimentos de culpa: deixa mais espaço livre no armário, ao mesmo tempo que ajudamos alguém. Existem inúmeras associações de apoio às crianças, a famílias em dificuldades financeiras, a toxicodependentes, a animais, a refugiados, entre outras. É certo que não é possível enviar qualquer encomenda para as associações, mas há bens que fazem sempre falta e são bem recebidos: roupas, produtos de higiene (sim, aquele creme que tirou do invólucro de plástico, não gostou do cheiro, e já não consegue devolver), alimentos, brinquedos. Dinheiro, claro. Deixamos alguns exemplos abaixo.

Mariana Reis explica que a altura em que recebem mais presentes é antes do Natal “quando as pessoas enviam prendas para as crianças”. Mas a Ajuda de Berço está sempre aberta a receber donativos e bens direcionados para a infância em qualquer altura”.

E é fácil perceber que produtos é que esta associação mais precisa para ajudar os bebés, em diferente alturas, já que a Ajuda de Berço atualiza a lista frequentemente. Basta espreitar a Despensa. Nesta altura, por exemplo, os bens mais necessários são leite de Bebé AR 1 e 2 (em pó), soro fisiológico, fraldas número 6, toalhitas e gel de banho infantil. Por isso, mesmo que o seu sapatinho não lhe tenha trazido nenhum destes produtos, quem sabe se aquele presente de que não gostou mesmo nada não pode ser trocado por algum dos bens acima?

Depois, é tudo muito fácil. Se quiser entregar fisicamente, saiba que a Ajuda de Berço tem duas casas: “Mas a de Monsanto [em Lisboa] é maior e de mais fácil acesso”. Se preferir enviar por correio, os CTT têm um projeto contra a pobreza e de inclusão social. O serviço Caixas Solidárias permite enviar encomendas para algumas associações de apoio portuguesas sem pagar nada e a Ajuda de Berço é uma delas. Basta levantar a caixa num posto dos correios, fechar a encomenda, e voltar a deixar nos CTT – que se encarregará de a fazer chegar ao destino.

Para saber mais sobre a Ajuda de Berço, o melhor é espreitar o Facebook da associação. Mariana Reis lembra que a rede social é uma “fonte rápida e imediata de comunicação”. Mas há outras opções. Telefonar para a casa em Monsanto, maior e por isso com mais logística para receber e armazenar encomendas, é uma delas: 217 703 020 E ainda há o mail: ajudadeberco@ajudadeberco.pt.

Acabou de ser mãe e toda a família decidiu oferecer-lhe prendas para o bebé? Se os tem em duplicado por que não doar a quem precisa?
Também direcionada para as crianças, a Ajuda de Mãe é outra das associações que recebe donativos e bens essenciais para os bebés e para as mães: a roupa, tanto de grávida como de recém-nascidos, termómetros, esterilizadores, biberões, chupetas, cadeirinhas de bebés, alcofas e outro mobiliário, produtos de higiene, fraldas, bens alimentares. Pode ver toda a lista aqui.

No Portal de Criança tem sugestões de outras associações voltadas para os mais novos.

  • Escolas

Recebeu cadernos, canetas, giz, jogos, estojos, entre outros? Por que não ligar para as escolas da sua área de residência para perguntar se aceitam os materiais? Alguns estabelecimentos de ensino do país têm dificuldade para comprar materiais e muitos são os que ficam felizes com as ajudas. Basta ligar para as escolas que rondam a sua área de residência e perguntar. A maioria aceita, afinal, é a educação que está em causa.

  • Igrejas

São muitas as instituições religiosas dispostas a tratar dos bens para depois distribuir entre os mais carenciados. Muitos dos padres e sacerdotes recebem os bens em mãos, mas há Igrejas que têm contentores à porta onde deve depositar o que separou para doar. O pedido é apenas um: separe calçado de roupas e de acessórios e armazene os bens em sacos pretos fechados.

  • Associações de Apoio aos Animais

A lei contra os maus tratos dos animais domésticos já foi aprovada, mas nem por isso há menos animais de estimação abandonados – especialmente em períodos de férias. Há várias associações por todo o país que, além de donativos, agradecem diversos bens. E não falamos só de ração, mas de coleiras, trelas, mantas, toalhitas ou brinquedos para animais, por exemplo. A União Zoófila e a Uppa são dois dos casos seguros, que tratam mesmo dos bichos.

  • Refugiados

Foi há menos de duas semanas que chegaram os primeiros 24 refugiados a território nacional e, recorde-se, Portugal vai receber 1500 pessoas que fogem de guerras que assolam os seus países.
Da Plataforma de Apoio aos Refugiados fazem parte várias instituições, ONG´s e associações. Como trabalham de formas diferentes, de acordo com a sua organização, o melhor mesmo é ligar para cada uma delas para saber de que forma pode ajudar e que tipo de bens recebem. E se não tiver produtos, há sempre outras formas de dar apoio: acolhimento, voluntariado para ensinar português ou para ocupação de tempos livres, por exemplo.

Deixamos aqui as que fazem parte da Plataforma:

  • Amnistia Internacional
  • Cáritas Portuguesa
  • CNIS – Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade
  • Comissão Nacional Justiça e Paz
  • Comité Português da UNICEF
  • Comunidade Islâmica de Lisboa
  • Corpo Nacional de Escutas
  • Conselho Português para os Refugiados
  • EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza
  • Cruz de Malta
  • Fundação Gonçalo Silveira
  • GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial
  • Instituto P. António Vieira
  • Ordem Hospitaleira de S. João de Deus
  • Serviço Jesuíta aos Refugiados
  • Obra Católica Portuguesa das Migrações
  • OIKOS
  • Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus

Vender

Sim, pode investir a sua prenda. Há diversos sites de venda de produtos, como o OLX, a Amazon, ou o eBay, que permitem que a sua oferta seja vista por mais pessoas e, logo, a possa vender por um preço mais elevado. Antes de publicar o produto no site, dê uma vista de olhos nos produtos semelhantes que foram vendidos para ver se vale a pena. Só aconselhamos a ter algum cuidado com as referências que deixa nos sites, porque, como lembrou Isabel Amaral, não convém ofender quem comprou a prenda e estes sites são públicos. Todo o cuidado é pouco: quem comprou o presente pode cruzar-se com o seu anúncio.

Feira de Trocas

Não falamos de montar uma banca na LX Factory, na Feira da Ladra ou em qualquer outra do país. A ideia é simples: juntar um grupo de amigos para um lanche ou jantar. A única condição é que cada um deles leve alguma prenda (mesmo que não a tenha recebido neste Natal) para trocar as ofertas enjeitadas entre si. É um bom motivo para juntar os amigos e quem sabe não saem do encontro satisfeitos com as novas aquisições. E a peça trocada terá sempre uma história para contar (não a quem ofereceu em primeiro lugar, está claro).

Reciclar

Não será fácil para toda a gente, já que é preciso ter algum jeito para o bricolage ou para a costura. Mas reciclar presentes pode ser uma boa forma de lhes dar uma vida nova. Dependendo da prenda, também é uma boa forma de ocupar os tempos livres e dedicar-se a lides mais artísticas. E terapêuticas, quem sabe?