1 de janeiro de 2007. Aníbal Cavaco Silva assinava a habitual mensagem de Novo Ano, a primeira como Presidente da República. O país recuperava de uma crise política e os tempos eram de esperança. Depois do “pântano” e da “tanga”, depois da queda do Governo de Santana Lopes, depois da vitória de José Sócrates nas eleições legislativas de 2005 – a primeira do PS com maioria absoluta -, era altura de voltar ao caminho certo. E foi isso que Cavaco Silva fez questão de sublinhar logo nas primeiras palavras daquele discurso. “O ano que hoje começa é crucial para o futuro do nosso país. É chegado o tempo de ultrapassar a fase de reduzido crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento”.
Os anos que se seguiram baralharam todas as previsões. O filme, de resto, é conhecido: a bola de neve começou com as sucessivas crises internacionais, o endividamento público e o défice colocaram o país à beira da bancarrota, o Governo de José Sócrates caiu e a troika regressou a Portugal pela terceira vez. Como chegou, a troika saiu; depois de vencer em 2011, Passos venceu em 2015, mas o Governo caiu no Parlamento; Catarina Martins e Jerónimo de Sousa deram a mão a António Costa e o “muro” caiu, mesmo com as muitas objeções levantadas por Cavaco Silva.
Nem com a melhor das bolas de cristal era possível adivinhar o que ia acontecer em nove anos. Então, e voltando à máquina do tempo, o que esperava Cavaco Silva de 2007? “Este é um tempo de esperança. A esperança que nos deve unir na procura e na partilha dos melhores caminhos para o futuro de Portugal”.
Já na altura, dizia Cavaco Silva, “o quadro internacional [apresentava-se] particularmente difícil”. O “elevado preço do petróleo”, a “subida das taxas de juro” e as “ameaças à paz e estabilidade em várias partes do mundo” pairavam como ameaças. Mas, nem por isso, o país podia demitir-se de fazer o seu papel. “Não podemos esperar que alguém nos poupe ao esforço exigido para resolver os nossos problemas. A nossa responsabilidade é garantir as condições necessárias ao desenvolvimento naquilo que depende apenas de nós. Para estarmos entre os melhores, devemos ter a ambição de estabelecer metas exigentes, que a todos comprometam e responsabilizem“, alertava.
Era preciso trabalhar para garantir “mais emprego, mais justiça social e melhores condições de vida“, continuava o Chefe de Estado. O ano de 2007, avisava Cavaco Silva, deveria ficar “marcado por uma recuperação do investimento” e por uma reforma política que permitisse ao Estado ser mais rápido, mais “transparente” e “mais eficiente no uso dos seus recursos”.
E, com chegada do novo ano, era “fundamental” alimentar “um clima de confiança e de estabilidade” que favorecesse “o desenvolvimento económico e social”, credibilizasse “as instituições” e permitisse “a realização das reformas inadiáveis”. Só com estas “reformas inadiáveis” e “com o esforço de reequilíbrio das finanças públicas” era possível garantir o “crescimento económico sustentado”.
Cavaco Silva esperava que o Governo de José Sócrates seguisse este caminho e, a partir de Belém, prometia fazer o mesmo. “Desde o início do meu mandato que me tenho empenhado em lançar as sementes de uma sociedade mais justa, solidária e inclusiva“, garantia.
A terminar, Cavaco Silva pedia que 2007 fosse o início de “um tempo melhor”. “No ano que agora começa, espero que vejamos sinais de um tempo melhor. E é na esperança de um tempo melhor que desejo a todos os portugueses e às suas famílias um feliz Ano Novo”. Esta sexta-feira, nove anos depois, a 1 de janeiro de 2016, Cavaco Silva dirige-se pela última vez aos portugueses na pele de Presidente da República.