O dicionário online Priberam 12 definições para a palavra amor. Uma dúzia. E isto sem contar com composições como amor cortês, amor livre ou amor platónico, entre outras. Entre “sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração”, a “sentimento intenso de atração entre duas pessoas” ou a “ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual” é só escolher. Mas será que fica respondida a questão do título?

Muitos investigadores, não todos, consideram o amor uma emoção humana. O problema desta ideia é que nem todos seguem o mesmo conceito de emoção – à semelhança de amor, também a palavra emoção é suscetível de várias interpretações -, alguns defendem que as emoções são processos biológicos inatos aos humanos, outros consideram-nas comportamentos ou experiências que envolvem julgamentos cognitivos e ainda há quem defenda que as emoções são construídas socialmente, ou seja, são um fenómeno social e não natural.

Quase toda a gente separa o amor romântico dos outros tipos de amor e a causa desta separação é o sexo. Quando as pessoas falam de amor romântico, elas partem do pressuposto que é o tipo de amor que envolve desejo sexual (o Priberam raramente se engana).

Uma grande maioria dos investigadores acredita que este tipo de amor é vivido por todas as pessoas, durante qualquer época ou em qualquer lugar. Estudos antropológicos sobre o amor romântico mostram que o amor é uma emoção humana universal e investigações neurocientíficas encontraram semelhanças na atividade cerebral e na química das pessoas que disseram estar apaixonadas.

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No entanto, estudos históricos mostram que a forma como as pessoas de diferentes épocas vivem o amor é diferente. E, para isso, basta conhecer um casal do século passado e outro deste século, para perceber que as relações são diferentes e, muito provavelmente, a definição de amor também.

A socióloga Mary Evans disse ao The Conversation que apaixonar-se implica transportar os enamorados a lugares novos e diferentes. Estudos feitos a pessoas apaixonadas concluíram que as pessoas olham para o amor romântico como transformador. Até nos dias de hoje alguns investigadores continuam a explicar o amor como uma forma de regular e controlar as nossas vidas.

Com tanto estudo e com tantas conclusões e discordâncias, muitos devem achar que o melhor é parar de pesquisar ou de tentar perceber as emoções e simplesmente vivê-las. A verdade é que além de as experiências emocionais serem uma parte muito importante do quotidiano das pessoas, também têm efeitos públicos e políticos.

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As pesquisas feitas sobre o amor romântico baseiam-se nas experiências pessoais dos seus estudados bem como num entendimento das suas vidas íntimas. Os participantes dos estudos podem ter uma visão “turva” do amor ou podem viver a sua vida íntima de tantas formas diferentes que encaixá-los na categoria “amor romântico” pode não fazer sentido. Tudo isso acaba por influenciar os resultados obtidos nas mais diversas pesquisas e estudos.

Se esse for o caso, não há necessidade de as pessoas procurarem incessantemente uma explicação racional para aquilo que sentem por outra pessoa, pelo seu gato, pelos amigos ou pela família. O amor romântico pode ser aquilo que as pessoas quiserem que seja e não têm de se preocupar se aquilo que sentem ou a forma como vivem uma relação é diferente dos outros. Até porque não é uma questão de sentimento certo ou errado, é só mesmo uma questão de sentimento.