Quem é Elena Ferrante? A pergunta tem andado na cabeça dos italianos durante décadas — e desde há uns anos é uma das perguntas mais acarinhadas por todo mundo literário. A escritora, nascida em Nápoles, no sul de Itália, é autora de mais de uma dezena de livros que se tornaram num verdadeiro fenómeno a nível global. Os seus romances estão traduzidos em várias línguas, incluindo em português (pela editora Relógio d’Água). Porém, pouco ou nada se sabe sobre Ferrante, cujo verdadeiro nome tem sido mantido no segredo dos deuses desde que publicou o seu primeiro romance, L’amore molesto, nos anos 90.

À medida que sua popularidade tem vindo a crescer, principalmente desde o lançamento da saga de “romances napolitanos” (desde 2011), também o mistério sobre a sua identidade tem aumentado. Mas as décadas de especulação podem ter finalmente chegado ao fim. De acordo com o Corriere della Sera, a famosa escritora napolitana poderá ser Marcella Marmo, uma professora de história contemporânea da Universidade de Nápoles e especialista em história social e penal do século XIX e XX, nomeadamente na Camorra, a maior e mais antiga organização criminosa italiana, cujas origens remontam ao século XVI.

Numa artigo publicado no suplemento de literatura do jornal italiano, Marco Santagata, filólogo, escritor e professor universitário, defende que Marmo encaixa na perfeição no perfil de Elena Ferrante. Para chegar a essa conclusão, o autor analisou passagens de um dos livros de Ferrante, cujo enredo se passa na década de 1960 em Pisa. Nesse romance, o protagonista, Elena Greco, estuda cultura clássica na prestigiada Scuola Normale, da Universidade de Pisa, onde tanto Marmo como Santagata estudaram nos anos 60.

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Ao confirmar os registos da Scuola Normale, Santagata apercebeu-se que Marcella Marmo era a única napolitana inscrita na instituição de ensino nessa altura. “Fiz uma coisa simples. Peguei no anuário dos estudantes dos anos 60 e olhei para os nomes que poderiam corresponder aos meus requisitos. Marcella Marmo correspondia ao meu perfil.” Além disso, a área de especialização de Marmo, história contemporânea italiana, serve de base a todos os livros de Ferrante.

“Fiz uma análise filológica, como se tivesse a estudar a atribuição de um texto antigo, apesar de ser moderno”, explicou ao Corriere della Sera, acrescentando que nunca conheceu ou estabeleceu contacto com a professora napolitana, apesar de os dois terem estado em Pisa mais ou menos na mesma altura.

“Eu não sou Elena Ferrante”

Apesar das conclusões de Marco Santagata, Marcella Marmo garante que não é ela a autora dos famosos “romances napolitanos”. “Eu não sou Elena Ferrante”, disse ao jornal italiano. Já Sandra Ozzola Ferri, diretora da Edizioni E/O, a editora sediada em Roma que publica as obras de Ferrante em italiano, admitiu que toda esta questão se trata de “um disparate”.

Ao Corriere della Sera, Ozzola Ferri disse que não acredita que Ferrante irá responder ao texto de Santagata ou que irá revelar a sua verdadeira identidade. “Por agora, não penso que ela tenha intenção de mudar a sua posição”, referiu.