Yukako Fukushima faz dedos para quem os perdeu. As próteses que constrói primam pelo realismo, mas não é só por isso que Fukushima se distingue. O seu trabalho é direcionado essencialmente para antigos membros da yakuza, a máfia japonesa, conta o The Guardian.

É comum dentro do grupo que se cortem dedos, geralmente mindinhos, há quem quebre as regras. Os transgressores são incitados a cortar os seus próprios dedos com uma faca afiada. Geralmente cortam o mindinho acima da falange e oferecem-no ao líder do grupo.

Fukushima oferece um novo futuro a quem quer abandonar o gangue e reintegrar-se na sociedade. O seu trabalho é essencial já que a falta de um dedo é um sinal óbvio de que aquela pessoa tem ou teve alguma ligação à máfia e já foi até reconhecido pelo governo, que lhe deu dois prémios.

Mas nem toda a gente aprecia o seu trabalho. A escolha que tomou foi altamente criticada por várias pessoas incluindo a sua família, que a acusa de ajudar mafiosos. Ela própria não queria continuar com este trabalho, mas disseram-lhe que ela era a única pessoa no Japão que o fazia e isso deu-lhe motivação para continuar.

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O processo de fabrico das próteses é meticuloso e o resultado é impressionante. Fukushima consegue criar mais de mil tons de pele para que o dedo falso seja igual aos outros. As impressões digitais, curvatura dos dedos, unhas e veias são replicadas em silicone.

Atualmente, um dos maiores grupos criminosos do Japão está em guerra com um gangue rival. Esta é uma altura em que a violência entre gangues aumentou. Desde 1992 que as autoridades japonesas têm prestado mais atenção a estas organizações criminosas, mas foi a queda do mercado imobiliário no Japão — uma grande fonte de dinheiro para estes grupos — que mais contribuiu para que muitos mafiosos quisessem deixar a vida do crime.

Os recentes eventos podem significar um aumento na procura pelos serviços de Fukushima, mas ela só aceita quem demonstre estar realmente interessado em abandonar as organizações mafiosas em que se inserem. Para isso, Fukushima trabalha em estreita cooperação com a polícia de Osaka, de onde é natural, que lhe indica potenciais clientes. O facto de ser originária daquela cidade ajuda também a comunicar com os seus clientes, que partilha muitas vezes o dialeto.

A polícia teme que a recente crise no grupo criminoso Yamaguchi-gumi propicie o aumento da violência. O conflito começou quando doze grupos com ligações aos Yamaguchi-gumi decidiram unir-se contra o líder do grupo. Se, por um lado, a violência deve aumentar nos próximos tempos, por outro prevê-se que sejam cada vez menos aqueles que se querem associar a este tipo de organizações.

Nem todos os casos são de sucesso, mas Fukushima garante que recebe muitas cartas de agradecimento. Os dedos que cria permitiram a alguns arranjar emprego, casar ou simplesmente arranjar forçar para seguir em frente.