O conceito não é novo. A prática do speed dating, que literalmente significa “encontro rápido”, foi inventada por um rabi em 1998 numa tentativa de juntar solteiros judeus. Anos mais tarde, nascia a versão empresarial do speed dating, com o objetivo de juntar empreendedores com possíveis investidores, clientes ou parceiros. No ecossistema atual de startups, estes business speed datings são o bilhete VIP para o sucesso.
A fórmula é simples: em poucos minutos, geralmente reuniões de cinco ou 10 minutos, o empreendedor tem de ser capaz de fazer o pitch do seu negócio, criar parcerias, convencer um investidor ou angariar um cliente. Como os investidores não estão propriamente ao virar da esquina, estes encontros são uma oportunidade ímpar para estar face a face com interlocutores que, de outra forma, não seriam fáceis de contactar isoladamente.
O próprio ambiente em que os business speed datings se concretizam faz toda a diferença. Empreendedores, de um lado, e investidores, empresas já estabelecidas e clientes, do outro, sabem ao que vão: e uma relação pode logo nascer ali.
“Podem surgir verdadeiras oportunidades se existir uma melhor parceria entre as empresas já estabelecidas e as startups”, explicava Luís Calado, Startup Lead da Microsoft Portugal, ao Observador em abril de 2016.
Justificava assim a criação da dinâmica Business Speed Dating no âmbito do Programa Ativar Portugal Startup, promovido por esta líder em tecnologia, desde 2015, e destinado a apoiar todas as fases de uma startup, do primeiro degrau ao grande passo rumo à internacionalização. No último ano, 120 startups, das quais 31 integraram recentemente o programa, já beneficiaram do know-how e apoio de uma vasta rede de parceiros e serviços.
Só no último business speed dating, a 6 de abril, tiveram lugar mais de 260 reuniões entre as startups mais promissoras e as maiores empresas e fundos de investimento nacionais. “O feedback que recebemos das startups e das empresas foi excelente. Este networking é benéfico para ambas as partes”, afirmou, em jeito de balanço, Luís Calado ao Observador, no final dessa iniciativa.
Uma relação constrói-se
Tal como numa relação pessoal, um business speed dating não se constrói num dia. A Knok Healthcare, uma aplicação que permite chamar um médico ao domicílio de forma rápida e eficaz, continua a explorar as relações que foram despoletadas nos últimos dois speed datings em que participou, promovidos pela Microsoft. “As reuniões foram importantes porque nos apresentaram a entidades relevantes do ecossistema das startups portuguesas – potenciais investidores, parceiros e clientes – aos quais não tínhamos ainda tido acesso no âmbito isolado das relações que desenvolvemos”, explica José Bastos, CEO da Knok Healthcare, esperando em breve poder anunciar a conclusão com sucesso de algumas dessas relações.
A relação com empresas líderes foi também encetada pela Sensefinity. Esta startup, que atua na área da Internet das Coisas e já foi finalista de vários concursos, tendo obtido o primeiro prémio no EIT digital Idea Challence e o Prémio Inovação WM 2016, participou apenas há três meses no último business speed dating no contexto do Programa Ativar Portugal Startup, mas os dados estão já lançados. “Esta oportunidade foi fundamental porque num único evento conversámos com as maiores empresas nas áreas de Tecnologias da Informação, Logística, Comunicações e Hotelaria.
Conseguimos estabelecer parcerias para ajudar estas empresas na digitalização e a transformação para o paradigma Indústria 4.0”, justifica Tiago Andrade, co-fundador desta startup, incubada na Startup Sintra e incluída no think tank “Indústria 4.0”, criado pelo Ministério da Economia.
Validar conceitos e testar o mercado
No entanto, não é só tendo em vista o investimento que as startups procuram ativamente participar em business speed datings. Guilherme Duarte, product manager do Tap My Back, um software de motivação e solidificação das equipas no trabalho, privilegia outras vertentes: “quando participámos, não estávamos ainda à procura de investimento; o nosso objetivo foi validar a premissa do Tap My Back e recolher feedback de diferentes investidores, validando as nossas métricas de crescimento”, explica.
Esta startup já participou em vários business speed datings, dois dos quais em eventos do programa Ativar Portugal Startups, e tirou de todos dividendos. “As reuniões foram bastante produtivas e permitiram-nos ter uma melhor noção do estágio da nossa startup e do caminho necessário a percorrer para que seja apelativa para investimento”, afirma Guilherme Duarte, salientando também a poupança de tempo com contactos e reuniões com investidores, fator essencial para estes empreendedores que, em regra, têm muitas tarefas e pouco tempo para as executar. “É uma forma excelente de podermos apresentar o produto a diferentes investidores de uma só vez e perceber quais é que, agora ou no futuro, poderão ser os parceiros ideais para nós”, conclui.
Esta espécie de triagem para encontrar os investidores que fazem sentido não no presente, mas no futuro foi também a premissa que levou a Learning Hubz a participar nos business speed datings promovidos pelo programa Ativar Portugal Startup. “Não estamos à procura de investidores porque não é o momento ideal do negócio para isso, mas estas reuniões foram essenciais para testar o mercado e conhecer potenciais investidores e clientes que se tornarão pontos de ligação no futuro”, sublinha João Nogueira Santos, fundador e CEO desta startup, focada na oferta em ambiente digital de conteúdos na área da gestão empresarial.
Ter a oportunidade de contactar grandes empresas não acessíveis às startups é outra vantagem apresentada pelos empreendedores. A Facestore, uma plataforma de e-commerce de gestão integrada, que permite a qualquer empresa abrir uma loja online nas redes sociais, como o Facebook, o Pinterest ou o Instagram, já participou em dois business speed datings organizados pela Microsoft, em março de 2015 e em março de 2016. Embora focado na expansão a nível internacional, Paulo Solinho Barbosa, CEO e fundador da Facestore, salienta a importância destas reuniões para o networking da startup: “tivemos reuniões importantes com decisores de topo, normalmente não acessíveis a uma startup, como a Sonae, a Vodafone Portugal e a Impresa, que resultaram em reuniões de follow-up”.
Para fazer parcerias, encontrar um investidor ou simplesmente testar uma ideia, as startups estão rendidas aos “encontros rápidos” no mundo empresarial. Afinal, o futuro de uma startup pode mudar para sempre, em apenas cinco minutos.