A ornamentação do pescoço é tão antiga quanto a humanidade. Qualquer civilização perdida tem, nos seus despojos arqueológicos, vestígios desta peça. Tribos desde a Polinésia à Amazónia usam-nas com diferentes simbolismos e significados. Mesmo na Europa a sua história é longa, envolve rainhas, escravos, prostitutas e bailarinas. Este verão, em que todos passaram a chamar-lhes choker, as gargantilhas regressam a reboque do revivalismo dos anos 90 e são perfeitas para combinar com outro dos mandamentos da estação: os ombros de fora.
A mais recente reencarnação das gargantilhas deve-se às coleções primavera/verão 2016 da Dior, da Chanel e da Louis Vuitton. As celebridades, com Kendal Jenner à cabeça, trataram de as publicitar, quer em eventos sofisticados, quer no dia-a-dia. Quem foi adolescente nos anos 90 lembra-se de quando elas eram usadas pelas Spice Girls, Christina Aguilera ou Britney Spears, mas a verdade é que esta nova vida das gargantilhas é menos trashy e mais refinada. O plástico deu lugar a tecidos como cetim e veludo, as missangas deram lugar aos metais dourados e prateados. Apesar disso, as choker nunca perdem uma certa aura de rebeldia.
Nunca foram um objeto consensual. Desde logo porque remetem para as correntes dos pescoços dos escravos (evocação que foi depois retomada pelo movimento punk). Apesar de terem reaparecido no século XV, como demonstram as mulheres pintadas por Leonardo Da Vinci ou Lucas Cranach, é no século XIX que as gargantilhas passam a fazer parte dos acessórios da realeza. Basta ver como a rainha Vitória não as dispensava, embora nesse período também fossem conotadas com as prostitutas e as bailarinas (tanto de cabaret como dos famosos Ballets Russes) como as retrataram os pintores impressionistas.
O pintor Édouard Manet viria mesmo a imortalizar o efeito de uma gargantilha num pescoço feminino, ao pintar o quadro Olympia, onde retrata uma prostituta totalmente nua, apenas com uma fita de veludo ao pescoço.
No século XX, as gargantilhas têm tido aparições curtas, como nos anos 40 e depois nos anos 90, quando se usavam em plástico ou com crucifixos pendurados, em pleno momento grunge. Quem nunca deixou de as usar foram as adeptas do look gótico, noturno, sombrio e a quem não deve agradar nada esta versão solar das gargantilhas ao pescoço de Rihanna, Lily Rose Depp, Rosie Huntington-Whitley ou Gigi Hadid.
Apesar de combinarem maravilhosamente com tops sem ombros, cai-cai, alças finas e decotes, as choker vão continuar a marcar presença nas estações frias, como propõem Alexander Wang ou Oscar de la Renta.
Se não quer investir dinheiro numa gargantilha, lembre-se que basta uma fita de veludo ou de cetim envolvida ao pescoço para o efeito desejado. Mas pode reutilizar também um cinto fino daqueles que comprou há dois anos, ou uma tira de cabedal de um colar que já não usa.
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