Poucas horas depois de o socialista Eurico Brilhante Dias ter apresentado as conclusões do relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao Banif, do qual foi relator, o PSD reagiu de forma muito crítica, acusando o socialista de “leitura política seletiva” e “falaciosa”. O deputado Carlos Abreu Amorim classificou as declarações políticas do deputado do PS como “lamentáveis” e disse — em conferência de imprensa realizada esta sexta-feira –, que chegou “a considerar o relatório numa primeira leitura, como tendo uma possível redenção”, mas que depois de ouvir o socialista, “as suas palavras deixam-no para além da redenção”.
Carlos Abreu Amorim, coordenador dos sociais-democratas na CPI ao Banif, admitiu que o relatório — que será discutido na segunda-feira –, “poderia ter pernas para andar, com algumas correções e sobretudo corrigindo lacunas que pareceram prementes numa primeira leitura”. O PSD distingue, assim, o resultado final do relatório de Brilhante Dias, da declaração política do relator. “Julgamos que o senhor deputado deu um passo em falso nesta conferência de imprensa”, afirmou Abreu Amorim, por considerar que um “esforço meritório” ficou “maculado” pela leitura política que estaria nas intenções do relatório preliminar. “Parece que este Governo foi simplesmente vítima de acontecimentos que não controlava”, afirmou, referindo que Brilhante Dias teve “lacunas intencionais”, por exemplo, ao não referir a notícia da TVI que levou à fuga em massa dos depósitos do banco.
A partir daqui, Carlos Abreu Amorim passou também ao ataque e à responsabilização do Governo socialista pelo resultado final do caso Banif. “O deputado Eurico Brilhante Dias esqueceu-se de dois aspetos essenciais: esqueceu-se que o Governo anterior deixou em cima da mesa para o Banif uma linha de rumo, uma estratégia, um plano de reestruturação conhecido como o plano N+1, que estava a ser negociado com as entidades europeias”. Disse até, que esse plano tinha sido acolhido “com entusiasmo, num primeiro momento, pelo ministro das Finanças, Mário Centeno”.
A seguir, questionou o “abandono desse plano, sem que nunca ninguém tivesse percebido porquê”. O social-democrata acusou o Governo de ter ficado “sem linha de rumo”, como “uma barata tonta”:
Vários foram os depoimentos, vários foram os documentos que recebemos e nunca percebemos porque é que o Governo desistiu dessa estratégia e dessa linha de rumo. Ao desistir dessa estratégia, ficou sem nenhuma. O Governo ficou como uma barata tonta, à mercê do que veio a suceder, que foi ceder desistir e ajoelhar-se perante quaisquer imposições que lhes fossem colocadas, no curto espaço de tempo, no prazo que lhe também foi imposto.”
No mesmo registo, Carlos Abreu Amorim disse que Brilhante Dias se esqueceu “de forma extraordinária”, que a resolução do Banco foi “corporizada” por António Costa e por Mário Centeno. E recordou que o primeiro-ministro fez “uma alocução ao país, em que assumiu com grade ênfase, esta resolução”, responsabilizando António Costa pelo desenho da solução, pelo seu “conteúdo e perímetro”. Ou seja, o deputado do PSD quis responsabilizar o Governo do PS pelos “vários milhares de milhões de euros que os contribuintes portugueses ficaram a perder na resolução” do Banif, recordando que em casos como o BES houve outro tipo de “preocupação para os salvaguardar”.