Jeanne Louise Calment viveu 122 anos e 164 dias. Até hoje, ninguém viveu tanto como esta francesa nascida em 1875. Mas este número parece uma brincadeira, quando comparado com os 392 anos vividos por um tubarão-da-gronelândia, o animal vertebrado mais velho do mundo, que vive em águas entre os -1 e os 5ºC.

As conclusões são de um estudo divulgado agora e orientado pelo investigador Julius Nielsen, da Universidade de Copenhaga. No entanto, pelo menos desde os anos 30 já se falava da possibilidade de os tubarões-da-gronelândia terem uma longevidade superior ao normal. A revista The Atlantic recorda que em 1936, um investigador dinamarquês mediu um destes animais e marcou-o para poder voltar a ele mais tarde. Voltou em 1952, 16 anos depois, e registou um crescimento de apenas 8 centímetros. Meio centímetro por ano. Para atingir os sete metros verificados noutros tubarões, precisaria de alguns séculos.

Um tubarão com 392 anos...

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  • Conheceu Filipe III à frente de Portugal e esteve presente na restauração da independência de 1640.
  • Viu Isaac Newton a teorizar sobre as questões da gravidade em 1687.
  • Tinha 131 anos por altura do terramoto de Lisboa de 1755. Nem tinha idade suficiente para começar a reproduzir-se.
  • Começou a poder ter filhos na altura da Revolução Francesa, 1789, 1799.
  • Ainda está vivo hoje.

Mas era difícil de comprovar, de forma mais exata, esta conclusão. Impedidos de usar um dos métodos mais tradicionais para averiguar a idade de um tubarão (a análise dos círculos de crescimento nas vértebras), devido ao facto de as vértebras desta espécie serem demasiado macias, Julius Nielsen e a sua equipa optaram por algo inovador: a datação por radiocarbono dos olhos de alguns destes tubarões.

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Resultado: o tubarão-da-gronelândia tem entre 272 e 512 anos de idade. Uma média de 392 anos, o número que foi avançado pelo grupo de cientistas. A margem ainda é grande, mas dá uma ideia da longevidade destes animais.

A ideia de utilizar o carbono-14 para descobrir a idade dos tubarões apareceu uns meses antes. Nielsen tinha participado, enquanto estudante, numa missão num navio hidrográfico. Por acaso, puxaram um daqueles tubarões para o barco, enquanto mediam cardumes de bacalhaus, e tiveram de usar as forças de todos para o conseguir colocar novamente no mar. “Foi uma experiência fantástica”, descreveu à The Atlantic.

https://www.youtube.com/watch?v=znM8TIKfgDU

Quando, depois desta expedição, assistiu a uma palestra sobre o assunto, ouviu do orador uma ideia interessante: talvez fosse possível saber a idade de um tubarão utilizando a datação por radiocarbono, analisando o cristalino do olho dos animais. “Levantei a mão e disse que já tinha estado num barco que apanhou e libertou um tubarão-da-gronelândia. Ele disse que devíamos falar”. Daí até ao estudo em si, foi rápido. Nielsen dedicou-se, entre 2010 e 2013, a recolher amostras dos olhos de 28 tubarões, em que foram medidos os níveis de carbono-14.

Este método de datação, muito eficaz em rochas ou em animais em terra, perde eficácia na água, onde é difícil avaliar as variações dos níveis de carbono-14. A ajuda veio do tempo da Guerra Fria. Quando as grandes potências mundiais fizeram testes nucleares, entre 1955 e 1963, causaram um aumento da quantidade de carbono-14 na atmosfera mundial, para o dobro. Naturalmente, este composto entrou na cadeia alimentar e, portanto, na constituição dos animais. Um modelo matemático criado para o estudo dos tubarões-da-gronelândia permitiu usar aquela década como referência e aumentar a eficácia do processo.

E os resultados são impressionantes. Mesmo utilizando os valores menores, o tubarão-da-gronelândia é oficialmente o animal vertebrado mais velho do mundo, até hoje conhecido. Nielsen pretende continuar a estudar este animal, para descobrir os motivos que permitem ao tubarão viver tantos anos. “Sou um geek dos tubarões-da-gronelândia”.